Um retrato arrasador do PS, do Governo e de José Sócrates é como classifica o jornalista do "Público", Nuno Simas, a entrevista dada por Ana Benavente à
Revista Lusófona de Educação e eu tendo a concordar que o retrato que ressalta das declarações da entrevistada é, de facto, arrasador, mas para a própria. É que as declarações de Ana Benavente não só ultrapassam em virulência as proferidas por qualquer adversário político do PS, como revelam que, partindo de alguém que é membro do PS, só podem ser fruto de um profundo ressentimento.
Mas, o mais interessante é que tais declarações acabam por infirmar o seu próprio conteúdo. De facto, se, como ela afirma, a liderança do PS é tão autocrata a ponto de ultrapassar até o "centralismo democrático" de Lenine, como explicar que a liderança do partido ainda nem sequer se tenha dado ao trabalho de questionar a sua permanência no partido, sabendo-se que esta não é a primeira vez que a militante Benavente faz prova da raiva que a inspira?
De igual tratamento têm, aliás, beneficiado outros militantes do partido que, à semelhança de Benavente, têm também criticado duramente o PS, o seu secretário-geral e o Governo, como é o caso de Manuel Maria Carrilho e Henrique Neto. Por exemplo.
Estes nomes e o de Benavente, ainda que não formem um grupo, têm muito em comum: o que lhes sobra em ressentimento, (ou porque não lhes deram o "osso" que pretendiam abocanhar, ou porque lho tiraram ?) falta-lhes em coragem para se assumirem como alternativa. E tinham agora, com a próxima realização do congresso, uma boa oportunidade para fazerem prova dela. A falta, porém, não será só de coragem. Ideias capazes de mobilizar os militantes também serão escassas. A avaliar pelas declarações de Ana Benavente é também disso que se trata. Quando ela, ao apontar o caminho a seguir pelo PS, se lembra de falar na "mudança de paradigma energético", área em que a política do Governo tem sido citada como exemplo a seguir, é caso para lhe perguntar por onde tem andado.
Mas, bem vistas as coisas, chega-se à conclusão que o que Benavente quer é "respirar livremente e reconstruir a paz". Ora, se assim é, tem bom e fácil remédio: deixe-se de entrevistas e vá até ao campo!
Paz e ar livre é o que por lá não falta. Digo-lho eu.