O tempo presente pode ser de aperto e de dificuldades, mas nada justifica que um dos operacionais do 25 de Abril, Otelo, venha dizer que “Não teria feito o 25 de Abril se pensasse que íamos cair na situação em que estamos actualmente", dando assim razão a quem sempre o considerou como um "revolucionário" romântico, sem dúvida, mas inconsequente.
Convém lembrar a Otelo e a outros saudosistas do passado que o 25 de Abril nos trouxe, antes de mais, o bem inestimável da liberdade, bem que, porventura, só os que viveram durante a ditadura do "Estado Novo" estão em condições de avaliar devidamente, mas que pode ser facilmente perceptível para quem olhe o mundo à sua volta, numa altura em que se assiste a revoltas um pouco por toda a parte e, designadamente, nos países árabes, para derrubar odiosos regimes opressivos.
Mas não foi só a liberdade, ou o fim da guerra colonial. A frieza dos números mostra que o Portugal de hoje nada tem a ver com o Portugal de 1974. Basta atentar nestes, relativos à saúde e à educação:
No que àquela respeita dizem os números que: em 1974, a esperança de vida à nascença era de 68,2, anos, e em 2011 é de 78,9 anos; a mortalidade infantil era, em 1974, de 37,9 por mil crianças e em 2011 é de 3,6 por mil (uma das mais baixas a nível mundial); a despesa pública na área da saúde, era, em 1974, de 7 milhões de euros e é, em 2011, de 96326 milhões de euros; o número de médicos por cem mil habitantes era de 122,1 e é, hoje, de 377,1; e o número de casos de tuberculose, por cem mil habitantes era de 103,8 e é, actualmente, de 25,9.
Em grande medida, é preciso lembrá-lo aos mais distraídos, estes indesmentíveis progressos ficaram a dever-se ao Serviço Nacional de Saúde, sistema que a direita pretende agora desmantelar.
Se os números relativos à saúde são impressionantes, também na área da educação se verificaram progressos significativos. Senão vejamos: a despesa do Estado, na área da educação, representava em 1974, 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e em 2011 a percentagem é de 5,1%; a taxa de alfabetização é actualmente de 95% da população e em 1981 (ano a que se refere a fonte de que me estou a servir - DN de ontem) ainda não ia além de 72,6%; a taxa de escolarização aos 15 anos era, em 1974, de 40% e em 2011, é de 99,7%; o número de alunos no ensino superior era de 57000 e é, hoje, de 383627.
Não são todos os números que, a este propósito, se poderiam invocar (faltam aqui, por exemplo, os números relativos aos doutorados que, de momento, não tenho à mão) mas os que aqui ficam bastam para se avaliarem os avanços que também nesta área se verificaram.
Sei que nem tudo foram rosas, nem tudo foram cravos, mas, ao contrário do que é voz corrente, a culpa (se de culpa se pode falar) por não terem sido alcançados todos os objectivos, não cabe tanto aos políticos (no geral, a meu ver, melhores e bem mais preparados do que a maioria da população - por muitos dos quais tenho admiração pela dedicação à res publica, mesmo em relação a vários com que não me identifico politicamente) mas antes à sociedade civil que não soube assumir, face à liberdade conquistada, as concomitantes responsabilidades. De facto, se atentarmos bem no facto de que a dívida privada (das famílias e das empresas) é, de longe, a maior componente do endividamento externo do país, fica a saber-se a principal causa das dificuldades financeiras com que, actualmente, nos debatemos e que estão na origem do pedido de ajuda externa. Ignorar o facto e imputar ao Estado (a este Governo ou aos anteriores) as principais responsabilidades pela situação é meter a cabeça na areia e perpetuar as dificuldades. Enquanto não se puser termo ao consumismo excessivo, recorrendo ao crédito sem pensar no dia de amanhã, nada vai mudar, por muito que o Estado venha a cortar na despesa pública. Tenho esse resultado como certo.
2 comentários:
~ Sabemos que foi apenas, um desalentado desabafo de Otelo. ~
~ Também é oportuno meditar sobre a importância da liberdade, quando não há nada para pôr nos pratos dos filhos.
~ As famílias portuguesas são, em geral, pessoas sensatas que estavam endividadas à banca, para poderem adquirir as suas habitações à custa de muitos sacrifícios, sujeitando-se à oscilação dos juros cobrados. ~
~ Culpar a sociedade civil pela crise, parece-me marcadamente excessivo! ~
Tem razão, Majo, quando afirma que culpar a sociedade civil pela crise é excessivo, nem eu pretendo o contrário.
Não concordo é com o hábito de lançar sempre as culpas sobre os mesmos, os políticos, como se estes não estivessem no poder por escolha popular. Pelo menos, pela má escolha, os responsáveis somos todos nós. Não seremos?
Saudações amigas.
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