sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São autárquicas, são, mas também nacionais.Importa, por isso, lembrar o ponto a que isto chegou.

E, para começo de reflexão, proponho este texto:

"Falhada a data inicialmente prevista para o regresso de Portugal aos mercados (23 de Setembro), Passos Coelho veio reconhecer esta semana que “com os juros acima de 7%, como temos hoje” a perspectiva de regresso aos mercados “é mais difícil”.
E admitiu mesmo o cenário de "podermos ter de pedir um outro programa". O que ele andou para aqui chegar!
Convirá lembrar que no dia 11 de Março de 2011 - dia em que, no auge da crise das dívidas soberanas, Passos Coelho resolveu anunciar a rejeição do PEC IV - era também na casa dos 7% que estavam os juros da dívida pública portuguesa (a dez anos). Nessa altura, Passos Coelho, ansioso de chegar ao poder, fez uma escolha decisiva: preferiu precipitar uma crise política e com ela desprezar o apoio ao PEC IV que tinha sido prometido pelo BCE de modo a Portugal evitar o pedido de ajuda externa (tal como fizeram a Espanha e a Itália). Indiferente a todos os avisos do Governo minoritário de então e dos nossos parceiros europeus, Passos Coelho, à saída de um encontro com o Presidente da República, declarou-se "irredutível": tinha escolhido outro caminho, mesmo sabendo que isso iria forçar o País a um pedido de resgate - a ser negociado, aliás, em situação de emergência e por um Governo de gestão.

Lançado em campanha eleitoral, Passos Coelho tirou da cartola uma ideia mágica: cortar nas "gorduras" do Estado. As "gorduras" do Estado, lembram-se? Inspirado por Catroga, Moedas, Braga de Macedo e alguns outros génios das finanças, garantiu aos portugueses que tinha tudo bem estudado e que podiam dormir descansados: não seria preciso aumentar impostos, nem cortar nas pensões, nem reduzir salários, nem tirar subsídios de Natal, nem sequer despedir funcionários públicos. Bastaria cortar nuns enigmáticos "consumos intermédios", desmontar o "Estado paralelo" e fazer um governo pequeno, só com 10 ministros - mas dos bons. E assim que os mercados percebessem que o Governo tinha mudado, a confiança estaria de volta e o ‘rating' da República iria subir. São coisas que apetece recordar na mesma semana em que ouvimos Passos Coelho dizer que sempre achou que se deve falar verdade aos portugueses antes das eleições...!

O que se passou depois, é conhecido. Ao contrário do que prometeu, o Governo PSD/CDS trocou a moderação negociada no Memorando inicial da ‘troika' por um violento ‘frontloading' de austeridade para impressionar os mercados e consumar uma estratégia de acelerado empobrecimento. Ao fim de pouco mais de dois anos de duros sacrifícios, os resultados são estes: fracasso no calendário de regresso aos mercados e iminência de um segundo pedido de ajuda externa, seja na forma de "programa cautelar" seja na forma de um segundo "resgate". E se os juros da dívida pública estão sensivelmente como estavam antes do chumbo do PEC IV (em plena agitação nos mercados de dívida soberana), a economia portuguesa está agora muito mais debilitada por três anos de intensa recessão, com o desemprego em níveis insuportáveis, o défice acima das metas e a dívida pública a crescer como nunca, atingindo já cerca de 130% do PIB. Bem vistas as coisas, é esta economia mais enfraquecida que pretende agora conquistar a confiança dos mercados.

Será a alta dos juros sinal de que está finalmente a cair a máscara do sucesso do ajustamento ou será apenas um sinal de preconceito - como sugere o primeiro-ministro, antes tão crente na racionalidade dos mercados? Certo é que quando um destes dias a Standard and Poor´s anunciou que poderia baixar ainda mais o ‘rating' de Portugal, Maria luís Albuquerque, por estranho que pareça, apressou-se a dar-lhe razão: "a Standard and Poor's", explicou ela, "o que fez foi evidenciar um conjunto de riscos que existem e que são agora mais visíveis". Ora, quando, na mesma semana, a ministra das Finanças considera muito compreensível que uma agência de ‘rating' pré-anuncie que vai notar a dívida portuguesa abaixo de "lixo" e o primeiro-ministro não só admite o fracasso no regresso aos mercados como especula sobre um novo programa de ajuda externa, está tudo dito sobre o ponto a que isto chegou.
(Pedro Silva Pereira; "O que ele andou para aqui chegar". Realce meu)

2 comentários:

Anónimo disse...

Já agora... que é feito do palno do Portas para a reforma do Estado que PPC anunciou que seria discutido no último Conselho de Ministros de Setembro?

Anónimo disse...

Clamotamigo

O que ele andou para aqui chegar: andou por vielas e becos; andou com a Angela, como criado dela; andou com a Troika; andou, andou, andou, mas não chegou. A nada.

Apenas chegou para nos fo..., lixar.

Abç

Henrique