Por certo que renunciar ao mandato presidencial não passa pela cabeça de Cavaco Silva, mas, a meu ver, uma tal atitude seria (é) a única compatível com o compromisso por ele assumido com o juramento na tomada de posse.
Direi porquê:
Ao ser investido na função presidencial, Cavaco tomou sobre si a obrigação de velar pelo regular funcionamento das instituições, cumprindo e fazendo cumprir a Constituição da República. Ora, Cavaco, ao longo de todo o actual mandato (não falo do primeiro, porque já lá vai) fez de tudo um pouco, desde conspirar contra o Governo de José Sócrates, até patrocinar a formação do actual governo de que tem sido o mais ardente defensor e o mais forte esteio. De facto, Cavaco fez de tudo um pouco, repito, menos exercer, com imparcialidade, o mandato que lhe foi conferido. Não admira, por isso, que hoje apenas a direita se sinta representada na presidência da República. Cavaco, nunca foi e, por culpa própria, já nunca poderá vir a ser "presidente de todos os portugueses". Em vez da união que lhe competia promover, Cavaco é hoje, um factor de divisão a quem já ninguém reconhece capacidade para desempenhar o papel de mediador de consensos. Nem o bom rapaz que dá pelo nome de António José Seguro, imagine-se!
Cavaco, em vez de representar a unidade nacional, tornou-se ele próprio, um verdadeiro empecilho ao regular funcionamento das instituições.
Só pode ter dúvidas de que Cavaco não tem já condições para exercer o mandato presidencial quem não tenha olhos para ver o silêncio ostensivo com que são acolhidas pelas oposições as palavras que ele profere no hemiciclo de São Bento, ou quem não tenha ouvidos para ouvir as vaias com que é mimoseado o seu nome no Largo do Carmo.
Só pode ter dúvidas de que Cavaco não tem já condições para exercer o mandato presidencial quem não tenha olhos para ver o silêncio ostensivo com que são acolhidas pelas oposições as palavras que ele profere no hemiciclo de São Bento, ou quem não tenha ouvidos para ouvir as vaias com que é mimoseado o seu nome no Largo do Carmo.