Pouco interessa saber quem é que, nesta cena da demissão de Manuel Maria Carrilho do cargo de embaixador na UNESCO, tem razão: se a chefe de gabinete ministro dos Negócios Estrangeiros, segundo a qual, Carrilho foi informado no dia 15 de Abril (versão por que opto, pois tem a seu favor o facto de fazer sentido no âmbito da "rotação diplomática" e de se abonar com circunstâncias de lugar, tempo e modo); se o próprio interessado que alega ter tido conhecimento da sua substituição através de um despacho da agência "Lusa"".
E digo que não interessa, porque a polémica pode fazer vender o livro de Carrilho, mas não tem nada a ver com o fundo da questão. O que releva é apurar se a demissão de Carrilho tem ou não cabal justificação.
Para responder, importa saber:
1. O cargo é vitalício? Não é.
2. Havia algum compromisso de que a missão de Carrilho na UNESCO era para manter indefinidamente até que o senhor se fartasse ? Não, pois nem o interessado o alega.
3. Foi a actuação de Carrilho de tal forma excelente que deixa "marcas" na UNESCO ? Se foi, passou despercebida do grande público, onde me incluo.
4. (E mais importante) Carrilho tem perfil de diplomata ? A resposta é não. Abono a resposta com a seguinte consideração: um diplomata tem que ser inteligente (o que Carrilho é) cordato e bem educado (atributos que o televiso Carrilho não tem - Carmona Rodrigues que o diga); tem que ter noção das conveniências (o que o "ego" de Carrilho não permite); e ser dotado de bom senso e de sentido de responsabilidade (o que o pedante Carrilho não é, como já deu provas ao não acatar, em Setembro de 2009, as instruções de Luís Amado no sentido de votar no embaixador egípcio Farouk Hosny para cargo de director-geral da UNESCO*).
5. (E finalmente) A substituição de Carrilho não é coincidente com a "rotação diplomática" envolvendo outros postos e vários diplomatas ? É.
O que há, pois, de extraordinário, na substituição de Carrilho como embaixador na UNESCO para levantar tanto ruído na comunicação social ? Nada, a não ser o facto de Carrilho não gostar de ser posto a mexer do lugar e de ter boa imprensa desde que, como ministro da Cultura de Guterres, teve, em tempo de vacas gordas, muitos milhões à sua disposição para distribuir.
* Só este facto era, a meu ver, razão mais que suficiente para justificar a demissão, na altura. Logo, a demissão só peca por tardia.
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