Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) não perde uma oportunidade para qualificar de "roubo", os cortes nas remunerações dos professores aplicados na sequência da aprovação do Orçamento de Estado, cortes que afectaram não só os professores, mas também todos os trabalhadores da administração pública com vencimentos acima dos 1.500 euros. E não só, pois foram também afectados os agentes políticos em geral e os trabalhadores das empresas públicas.
Voltou novamente a utilizar tal terminologia a propósito da apresentação nas escolas dos pedidos de impugnação das reduções salariais dos professores, promovida pela Fenprof.
Imaginemos, entretanto, o que sucederia se as acções que a Fenprof se propõe patrocinar viessem a obter ganho de causa. É certo, antes de mais, que a alguém teria que ser exigido o pagamento da importância equivalente ao ganho que viesse a ser obtido pelos patrocinados da Fenprof. À partida, só vejo, em alternativa, ou cumulativamente, duas vítimas potenciais: os beneficíários de prestações sociais ou/e os habituais contribuintes cumpridores. Isto, porque estaria fora de questão enveredar por outra via que não fosse a redução do défice das contas públicas, a menos que se considerasse aceitável a declaração do Estado em situação de bancarrota, resultado que, estou em crer, nem o senhor Nogueira desejará, tão graves seriam as consequências.
Ora, isto significa que para dar a uns (aos professores) o Estado teria que tirar o equivalente a outros e já vimos quem seriam. Toda a gente sabe que teria de ser assim e a Fenprof e o senhor Mário Nogueira também não o ignoram. O resultado, no entanto, não os incomoda, pois até o defendem e promovem.
Só que, sendo assim, utilizando a terminologia de Mário Nogueira, tecnicamente inadequada, sem dúvida, poder-se-á dizer também, com a mesma falta de rigor técnico, que, se os cortes nas remunerações dos professores são um "roubo", forçar alguém (neste caso, o Estado) a tirar a uns para dar a outros, recorrendo a qualquer meio, é uma forma de "extorsão". E se quem "rouba" é "gatuno", quem promove a "extorsão" não será "extorsionário"?
Mário Nogueira gostaria que as eventuais futuras vítimas lhe vestissem esta pele?
Estou certo, por um lado, que Mário Nogueira não apreciaria ser tratado como tal e, por outro, estou esperançado que não irá ser necessário vestir-lhe a pele. É que julgo que ainda há quem seja capaz de fazer justiça.
Do que também estou certo é que um professor que usa uma tal terminologia não é um educador. Como lhe cumpria ser, se fosse um verdadeiro professor. Que não é, pois de professor usa apenas o nome.