quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre "roubo" e "extorsão"

Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) não perde uma oportunidade para qualificar de "roubo", os cortes nas remunerações dos professores aplicados na sequência da aprovação do Orçamento de Estado, cortes que afectaram não só os professores, mas também todos os trabalhadores da administração pública com vencimentos acima dos 1.500 euros. E não só, pois foram também afectados os agentes políticos em geral e os trabalhadores das empresas públicas.
Imaginemos, entretanto, o que sucederia se as acções que a Fenprof se propõe patrocinar viessem a obter ganho de causa. É certo, antes de mais, que a alguém teria que ser exigido o pagamento da importância equivalente ao ganho que viesse a ser obtido pelos patrocinados da Fenprof. À partida, só vejo, em alternativa, ou cumulativamente, duas vítimas potenciais: os beneficíários de prestações sociais ou/e os habituais contribuintes cumpridores. Isto, porque estaria fora de questão enveredar por outra via que não fosse a redução do défice das contas públicas, a menos que se considerasse aceitável a declaração do Estado em situação de bancarrota, resultado que, estou em crer, nem o senhor Nogueira desejará, tão graves seriam as consequências.
Ora, isto significa que para dar a uns (aos professores) o Estado teria que tirar o equivalente a outros e já vimos quem seriam. Toda a gente sabe que teria de ser assim e a Fenprof e o senhor Mário Nogueira também não o ignoram. O resultado, no entanto, não os incomoda, pois até o defendem e promovem.
Só que, sendo assim, utilizando a terminologia de Mário Nogueira, tecnicamente inadequada, sem dúvida, poder-se-á dizer também, com a mesma falta de rigor técnico, que, se os cortes nas remunerações dos professores são um "roubo", forçar alguém (neste caso, o Estado) a tirar a uns para dar a outros, recorrendo a qualquer meio, é uma forma de "extorsão". E se quem "rouba" é "gatuno", quem promove a "extorsão" não será "extorsionário"?
Mário Nogueira gostaria que as eventuais futuras vítimas lhe vestissem esta pele?
Estou certo, por um lado, que Mário Nogueira não apreciaria ser tratado como tal e, por outro, estou esperançado que não irá ser necessário vestir-lhe a pele. É que julgo que ainda há quem seja capaz de fazer justiça.
Do que também estou certo é que um professor que usa uma tal terminologia não é um educador. Como lhe cumpria ser, se fosse um verdadeiro professor. Que não é, pois de professor usa apenas o nome.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Troféus

O seu a seu dono: a Cavaco Silva já ninguém tira dois troféus: o do discurso mais mais patético alguma vez feito por um Presidente da República (aquele com que pretendeu encerrar o "caso das escutas", onde não conseguiu dizer coisa com coisa) e o do discurso mais rancoroso (o que serviu para "celebrar" a vitória após as últimas eleições presidenciais).
Um e outro vão figurar nas páginas da História. E muito justamente.

Efeito "Cavaco"

Afinal, os "mercados" não valorizaram, nem a "experiência", nem a "competência" de Cavaco Silva: Efeito "Cavaco" igual a zero.*
(Uns ingratos, é o que eles são para quem tanto os reverencia.)
* Estou, porventura, a ser simpático, pois mais parece estarmos perante um efeito "Cavaco" negativo. Será porque os ecos do "discurso rancoroso", que já chegaram a Espanha, também já foram ouvidos pelos "mercados" ?
(reeditada)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Factos e não tretas

Não há opinião de bicho careto (como este) que a comunicação social não se apresse a divulgar, como se opiniões e previsões não fossem tantas quantas as cabeças.

Tiriricas

Enganou-se redondamente quem julgava impensável o aparecimento em Portugal de um fenómeno do género "Tiririca". O resultado alcançado nas eleições presidenciais pelo candidato José Manuel Coelho (4,5%) com a particularidade de, na Madeira, ter ficado em 2º lugar e em 1º, no Funchal, prova que o fenómeno é um facto e a verdade é que tal nem sequer devia ser motivo de surpresa, pois o fenómeno até não é novo. É que, antes de Coelho, já havia na Madeira, um outro "Tiririca": Alberto João. 
O interessante, nesta história, é que, tudo o indica, o "Tiririca" tradicional vai ter de contar com o que acaba de chegar e ainda que aquele disponha de bem superiores recursos, o aparecimento deste vai-lhe causar mossa. Pela certa.

"Mísera e mesquinha" não era Inês

Quem no momento da vitória não é capaz de magnanimidade, antes mostra acrimónia na forma como trata os adversários e vai ao ponto de incitar a comunicação social  a revelar os "nomes daqueles que estão por detrás" da "difamação", revela bem a sua pequenez.
Desculpa lá, Luiz Vaz: "mísera e mesquinha" não era Inês. Mísero e mesquinho era (e é) outro.

...E quem saia diminuido da vitória

Estou tranquilo. Cumpri o que prometi e não recorri a insultos e ataques de natureza pessoal. (…) Esta foi também a vitória da verdade sobre a calúnia”.

O povo português não se deixou enganar”: “A honra venceu a infâmia.”
(Do discurso de Cavaco Silva, que não permitiu perguntas aos jornalistas)

Há quem saia dignificado da derrota ...

Assumo pessoalmente esta derrota. Rejeito qualquer comparação com outras eleições. Cada eleição tem a sua dinâmica própria”.

Em democracia não é vergonha perder, vergonha é fugir ao combate e não saber pelo que se luta”.

A derrota é minha, não é daqueles que me apoiaram". “Era um candidato que se apresentou por decisão pessoal e que foi apoiado depois pelo Partido Socialista, Bloco de Esquerda e outros partidos”.

[Estarei] “nos combates do PS para o bem e para o mal”. “A riqueza e a força do PS é sermos um partido plural, onde há divergências e liberdade”.
(Do discurso do candidato Manuel Alegre)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Satisfeito, eu ?

Devo uma explicação ao leitor que me tenha acompanhado durante o tempo da campanha eleitoral: pese embora o que deixei escrito no "post" anterior, é evidente que não me agrada, mesmo nada, a reeleição de Cavaco Silva. E não me faltam razões.
Chamo aqui, de novo, o caso das escutas, em que Cavaco Silva, duma forma ou doutra, esteve envolvido, caso que lhe retirou, no meu particular julgamento, condições para desempenhar, com a dignidade exigível, o cargo de Presidente da República para que agora foi reeleito. Embora esta reeleição signifique que o julgamento popular a que se submeteu (e que é o que conta e que, obviamente, aceito) o absolveu, não tem, no entanto, a virtualidade de modificar o meu juízo sobre o caso. 
Perturba-me também o seu conservadorismo, em particular em matéria de costumes, bem demonstrado durante o seu primeiro mandato. E o "farisaísmo": tendo-se ele próprio elevado aos altares, os casos que recentemente vieram a lume mostram que Cavaco Silva não é mais "santo" do que qualquer "bom" cidadão português. 

E agora ?

As sondagens à boca das urnas confirmam, todas elas, a reeleição da Cavaco Silva à primeira volta, contrariando assim, não o meu vaticínio, mas a minha esperança. (Pelos vistos e lamentavelmente, os eleitores não seguiram a minha indicação de voto !)
É, assim, altura para perguntar: então e agora ?
Agora: "Tudo como dantes, quartel general em Abrantes".
De facto, julgo que a reeleição de Cavaco Silva não vai trazer nenhuma modificação no statu quo que só se alteraria se Cavaco Silva viesse a optar pela dissolução da Assembleia da República. Ora, não me parece que tal venha a acontecer: Cavaco Silva já disse que tem pouco "apetite" pela dissolução e é suficientemente prudente para, numa altura de crise como a que se vive actualmente, patrocinar a formação de um governo que pudesse vir a ser liderado por um inexperiente (Passos Coelho) secundado por um Portas pouco confiável, não sendo, nem um, nem o outro, homens para a circunstância. E sendo assim, não estou a ver Cavaco Silva a querer correr um tal risco, porque no caso de o novo governo vir a soçobrar, o que, a meu ver, seria altamente provável, caber-lhe-ia também assumir a responsabilidade do insucesso e ele, já o demonstrou, lida mal com o insucesso e com o assumir de responsabilidades.
Desiludam-se, pois, os partidos da direita: não contem com Cavaco para lhes abrir as portas da residência oficial de S. Bento. Cavaco Silva agirá, como sempre, de acordo com as suas conveniências e estas não vão nesse sentido. Vai uma aposta ?
Isto dito, fica por explicar a tese da "magistratura activa". Suponho, ou antes, tenho a certeza que nem o autor (Cavaco Silva) sabe o que isso quer dizer. Os poderes do Presidente da República estão na Constituição e dela não consta tal expressão.
Ponto final.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Para finalizar: Não vale tudo ?

"A declaração de Cavaco Silva de que os cortes na remuneração dos funcionários públicos poderiam ter sido evitados a troco de um imposto sobre os ricos revela que ele pode descer ao mais pedestre oportunismo e farisaismo político, não hesitando em competir com o BE na demagogia populista.
Cavaco Silva sabe melhor do que ninguém que:
a) Uma tal proposta não teria a mínima chance de passar, justamente porque o seu partido, o PSD, desde Agosto anunciara que nunca viabilizaria um orçamento que implicasse o mínimo aumento de impostos;
b) O problema orçamental português não é somente um défice excessivo, mas também e principlamente um problema de despesa pública excessiva, incluindo demasiada despesa com o pessoal, bem acima da média europeia.
De resto, se Cavaco Silva pensa mesmo o que só hoje disse, por que é que esperou o último dia de campanha eleitoral para defender essa via, em vez de o ter feito aquando das negociações para a viabilização do orçamento entre o Governo e o PSD, que ele fez questão (e bem) de incentivar?! E por que é que, ao promulgar o orçamento com os referidos cortes na remuneração dos funcionários públicos, não aproveitou para se demarcar publicamente do que considerava tão errado, à imagem do que fez em várias outras promulgações?
Decididamente, não vale tudo!"
Está visto que vale...

Um voto Alegre

Todas as sondagens, mesmo as inventadas, dão a vitória a Cavaco Silva, logo à primeira volta. Todavia, como sói dizer-se, as sondagens valem o que valem, e neste caso, a meu ver, valem pouco, tão dispares são os resultados apresentados. Seja como for, o que conta é o apuramento dos votos entrados nas urnas. A reeleição de Cavaco não é, pois, uma inevitabilidade.
Para quem, como eu, já está farto do "Sorumbático", nada como um voto Alegre.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

E se fosse dar uma volta, logo à primeira volta ?

Qualquer que seja o ângulo de análise, o argumento de Cavaco é risível e lamentável, porquanto revela pouco respeito pelo funcionamento das regras da democracia e, o que é mais surpreendente, fracos conhecimentos de economia.
Por mais que não fosse, bem merecia que os eleitores o mandassem dar uma volta, logo à primeira volta!

"A ASCENSÃO DA DEMAGOGIA"

Extractos de um "post" com o título supra, da autoria de José Pacheco Pereira publicado aqui:
(...)
"O Correio da Manhã tem patrocinado uma petição sobre o enriquecimento ilícito, que tem sido assinada por membros do sistema judicial, polícias, magistrados do ministério público, juízes, ou articulistas que têm aparecido publicamente em campanhas contra a corrupção.
Como acontece habitualmente com a demagogia, esta iniciativa aponta um problema real: a corrupção que se manifesta pelo súbito e inexplicável enriquecimento de alguns políticos e que provoca um enorme repúdio social. É igualmente verdade que o sistema de justiça tem sido incapaz de a combater e levar os políticos corruptos à prisão, como é desejo de todas as pessoas decentes. Mas já não é líquido que esta ineficácia se deva necessariamente à inexistência de legislação aplicável, mas sim a outros factores, incompetência da investigação, incúria dos magistrados, ou pura e simplesmente promiscuidade entre os meios corruptos da política e os meios judiciais. A permanente condução política dos processos que envolvem políticos, gera a maior das suspeitas sobre a independência dos dois sectores e sobre se há ou não um jogo de cumplicidades mútuas.
O texto da petição do Correio da Manhã é o seguinte: "O titular de cargo político ou equiparado que, durante o período de exercício das suas funções ou nos três anos seguintes à respectiva cessação, adquirir, por si ou por interposta pessoa, quaisquer bens cujo valor esteja em manifesta desproporção com o seu rendimento declarado para efeitos de liquidação do imposto sobre o rendimento de pessoas singulares e com os bens e seu rendimento constantes da declaração, aditamentos e renovações, apresentados no Tribunal Constitucional, nos termos e prazos legalmente estabelecidos, é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos. O infractor será isento de pena se for feita prova da proveniência lícita do meio de aquisição dos bens e de que a omissão da sua comunicação ao Tribunal Constitucional se deveu a negligência."
Parece simples, mas não é. Por exemplo, como é que se sabe qual é a “manifesta desproporção” e como é que se impede que esta fórmula genérica não possa ser utilizada para perseguições, vinganças e abusos? Não se impede. E no actual estado de coisas basta saber-se que há uma investigação deste tipo, mesmo que apenas iniciada e depois arquivada, para manchar uma reputação sem qualquer culpa. Basta ler o texto que a seguir cito, oriundo do VIII Congresso dos Juízes Portugueses, assim como declarações avulsas de vários magistrados do Ministério Público, para se perceber que este seria o instrumento ideal para que a selecção dos políticos em democracia fosse feita pelo sistema judicial.
Acresce o problema ainda mais grave que esta petição inverte claramente o ónus da prova e a discussão que se pode ter –mais certeira do que esta petição demagógica – é se a luta contra a corrupção justifica que se restrinjam direitos, liberdades e garantias. Então sim, o debate seria em terreno da democracia, e não no da demagogia."


(...)

"O justicialismo é um dos aspectos mais preocupantes do ascenso da demagogia nos dias de hoje. Não se trata de um fenómeno novo, visto que a sua primeira manifestação, depois do 25 de Abril, foi o conluio objectivo do PGR e de um jornal, o Independente, há alguns anos atrás. Então assistiu-se a um mecanismo de condenação pela imprensa de pessoas que as instâncias judiciais não conseguiram, ou não quiseram, ou não foram capazes, de levar a tribunal e de condenar. Em vez de serem condenados em tribunal eram condenados pela opinião pública através de fugas selectivas oriundas da Procuradoria. Por seu lado, o Independente foi crucial para a criação de um partido populista radical de direita, a versão PP do CDS.
Em Portugal, como em Itália, um grupo de agentes da justiça, magistrados e juízes, usam o justicialismo para ganharem poder político à margem dos mecanismos democráticos. Ao mesmo tempo que o sistema judicial se revela particularmente ineficaz para perseguir corruptos, aspira a ganhar poder político em nome dessa luta contra a corrupção. Por tudo isto não espanta que o VIII Congresso dos Juízes Portugueses fosse apresentado por um texto anunciando, sob a forma de perguntas retóricas, um século XXI como o “século do poder judicial”: “Se o século XIX foi o século do poder legislativo e o século XX o do poder executivo, poderá o século XXI vir a ser o século do poder judicial?”
O texto é curiosamente impregnado por uma retórica esquerdista em que, após “o eclipse de todas as narrativas históricas grandiosas”, ou seja do comunismo, surgiram “democracias descontentes” (?). Esse descontentamento abre caminho para “uma transferência de legitimidade dos poderes legislativo e executivo para o judicial” como uma “exigência de qualidade da própria democracia e da coesão social”. Todo o texto é demasiado revelador, talvez até mais revelador do que os seus signatários pretendiam, daquilo a que se chama um “novo protagonismo político” dos juízes que “corre o risco de se vir a assumir como verdadeiro poder”.
Está tudo dito e o que está dito nada tem a ver com a democracia nem contente, nem descontente."

(Uma vez não são vezes: desta vez, subscrevo.)

Para Cavaco nascer segunda vez

"O candidato Cavaco tem de nascer outra vez

Dizer que Cavaco é menos sério do que ele pensa parecer é falhar o alvo por baixo. Cavaco é, como revelado pelas últimas semanas, ainda menos sério do que aquilo que eu pensava que ele era — e Cavaco nunca me enganou.

Os casos do BPN e da casa na Urbanização da Coelha já são suficientemente graves. Em qualquer país do mundo estes casos seriam escrutinados até ao fim. O BPN, em particular, arrisca-se a custar ao país aquilo que cada cidadãos tem de sacrificar através de dolorosos cortes nos salários e aumentos de impostos. Não me parece que se possa dispensar de explicações qualquer pessoa que tenha tido com este banco, sem pestanejar, lucros que estão para lá dos mais deliciosos sonhos dos clientes de Madoff.

Mas as respostas de Cavaco tornam estes casos graves noutro plano ainda. No caso da Urbanização da Coelha, Cavaco alega não se lembrar de onde assinou a escritura, provavelmente não se lembrará também de ter como vizinhos Oliveira Costa e Fernando Fantasia, e um dia destes não se lembrará de alguma vez ter passado férias na tal casa.

E isto sem contar com outros episódios da campanha — como o de dizer a uma eleitora desesperada que recorresse a qualquer instituição de solidariedade desde que não fosse do Estado —; a interpretação inevitável é que Cavaco começou a usar a estratégia de alegar inconsciência. Inconsciência do seu lado e do lado dos eleitores. Como notou recentemente Ana Sá Lopes, Cavaco está — quase sempre de forma extraordinariamente transparente — a fazer dos eleitores parvos.

Eu só vejo uma maneira de lidar com uma pessoa que está a contar com a nossa estupidez. É, no mínimo — no verdadeiramente mínimo dos mínimos — fazê-lo passar por um mau bocado.

Este Cavaco que fala das outras pessoas dizendo que “para serem tão honestas quanto eu teriam de nascer duas vezes” merece ser punido pela sua soberba. Merece, no mínimo, ser obrigado a transpirar pela sua vitória. Merece recear pela sua consagração. Merece aprender algumas boas maneiras democráticas.

Em resumo, o que quero dizer é o seguinte: é Cavaco que tem de nascer uma segunda vez. E como se consegue isso? Eleitoral e metaforicamente, há uma forma: obrigá-lo a uma segunda volta.

Sabem os leitores desta coluna que eu votarei Manuel Alegre e que o considero mais capaz — bem mais do que Cavaco — de interpretar a função presidencial e a representação da República. E é, sem dúvida, o melhor candidato da esquerda.

E os outros candidatos?

Fernando Nobre é o único que conheço melhor — até pessoalmente. Foi apoiante da candidatura europeia do Bloco de Esquerda em que eu fui candidato. Ao vê-lo discursar numa certa noite em Coimbra, pensei que ele daria (também) um bom candidato presidencial da esquerda. Fernando Nobre, porém, levou a sua campanha como se não fosse nem de esquerda nem de direita, coisa que acho pouco realista e pouco pedagógica. Mas o seu idealismo e a história que ele simboliza têm mérito eleitoral, e justificam um voto.

Francisco Lopes é o candidato do PCP, franca e assumidamente; uma candidatura militante, disciplinada e combativa. Não é a minha estética. Mas o diagnóstico e o seu apelo à ação são justificados.

Os dois restantes são candidatos mais episódicos, Defensor de Moura com uma agenda mais regional e José Manuel Coelho um estarola com um enorme descaramento de quem é difícil não gostar.

Nem todos mereceriam ser Presidente. Mas nenhum desmerece o voto se o objetivo for obrigar Cavaco — no mínimo — nascer para a segunda volta."

(Rui Tavares: ontem no "Público"; hoje aqui)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O candidato que treslê a Constituição

Se Cavaco Silva pensa que a função de um Presidente, ainda que sob a invocação do lema da "magistratura activa", é "apontar caminhos estratégicos, grandes linhas de orientação", para definir o "rumo certo", é porque anda a tresler a Constituição. 
O que é mau augúrio, sabendo-se que o candidato já tem cinco anos de tarimba em Belém e já teve tempo de ler e reler a Constituição, para bem a cumprir e fazer cumprir, como manda o juramento constitucional.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Bolor

Cheira a bolor ou não cheira ?
(Imagem daqui)

O candidato que sente o chão a fugir-lhe debaixo dos pés

É  a única explicação que encontro para a forma como o candidato Cavaco Silva tem desenvolvido a sua campanha, de longe a mais agressiva e destemperada, com ataques aos adversários que só servem para o rebaixar e para o desqualificar para o exercício da função presidencial.
Quando um seu apoiante, como Marcelo Rebelo de Sousa, já fala numa vitória quase à tangente, compreende-se melhor o facies crispado com que o candidato Cavaco se apresenta. E quando se vê o candidato a socorrer-se do apoio duma das faces do Governo por ele marcado com o selo de "má moeda (Paulo Portas), mais dá para crer que Cavaco Silva já não está convencido que vá lá à 1ª volta.
Ora, na segunda volta, já só será preciso mais um empurrão para definitivamente libertar Belém do "bolor" que há cinco anos se instalou por lá.
E a casinha na aldeia da Coelha, com três pisos e aproximadamente mil metros quadrados de área de construção, bem merece que a usem. Façamos-lhe, pois, o favor.
Adenda:
Pelos vistos, Paulo Portas também acha que o chão está a fugir debaixo dos pés de Cavaco. Só assim se explica a preocupação: Portas apela à mobilização: “resultado não está garantido”.
Pois não.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Tunísia

Por estes dias, depois da revolta popular que invadiu as ruas da Tunísia e que levou à fuga do Presidente Ben Ali, já deve ser possível fotografar livremente (porque não o era até agora) o palácio onde se acolhia o ditador em fuga, palácio que se esconde por detrás do muro branco que se vê na fotografia que reproduz parcialmente as "Termas de Antonino", em Tunes.
Um voto se formula: que a democracia se implante naquelas paragens. Não será fácil, mas, por vezes,  até
o impossível acontece. Oxalá!  
(Clicando na imagem, amplia)

A desfaçatez do candidato.

Falo do candidato "impoluto" que continua, com crescente arrogância, a acusar os seus adversários de montarem, com "vil baixeza" uma campanha "de calúnias, de mentiras, de insinuações".
Todavia, até agora, o que se tem visto é os seus adversários a pedirem explicações ao candidato Cavaco Silva sobre negócios em que esteve envolvido e sobre o "caso das escutas", explicações que ele se tem recusado terminantemente a dar.
Será porque tem algo a esconder, ou será porque considera que os seus actos não têm que ser escrutinados? Cada um julgará como bem entenda. Certo é que, com o seu silêncio, justifica todas as suspeições. E se delas já ele não se livra, a culpa cabe-lhe, por inteiro. 
Parece-me, pois, que quem usa de "vil baixeza" na campanha não são os seus adversários, não.

"O político e os patetas"

"No meio dos patetas, aparece um político." "O único que trabalha". " Esperam que ele se demita ? Esperarão".
(Clara Ferreira Alves, na "ÚNICA", sobre José Sócrates.)

Enquanto isto (Sócrates a trabalhar) Cavaco, em campanha, continua a cobrir-se de ridículo: agora arma-se em "candidato do povo *" e em "ama-seca". (Não foi ele que disse ter ajudado os pais a criar os seus irmãos ?)
Que mais se seguirá ?
(*Há, no entanto quem tenha percebido "candidato do polvo". Por exemplo, Francisco Lopes. Se calhar, tem razão e ainda que a não tenha, tem, pelo menos, inteira desculpa: é que "povo" e "polvo" são foneticamente semelhantes e facilmente confundíveis. Digam lá que não !)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Este homem não é de fiar

Como é público e notório, Cavaco Silva empenhou-se para que a Assembleia da República viabilizasse o Orçamento de Estado, diploma que ele, na sequência da aprovação, veio a promulgar, sem qualquer reparo.  Se agora, em plena campanha eleitoral, Cavaco aproveita toda e qualquer circunstância, para criticar as soluções adoptadas  (que ele já sabia serem dolorosas, ainda que indispensáveis) o menos que se pode dizer é que este homem não é de fiar.
A conclusão que tiro de tal comportamento não é propriamente uma novidade, pois sabe-se, há muito, que tal homem é mesmo capaz de sacrificar, na ara das suas conveniências, o seu próprio partido e até um colaborador tão dedicado e tão fiel como Fernando Nogueira.
Duvidam ? Perguntem à mulher de Fernando Nogueira, a única (que se saiba) que teve a coragem de lhe dar a bem merecida lição.

"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és"

Se Cavaco Silva conhecia este ditado, como era sua obrigação, o menos que se pode dizer é que, na escolha de alguns dos seus amigos, não usou de um mínimo de cautela.
Sibi imputet.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vê lá, Maria, do que se haviam de lembrar !...


Dedica hoje a "Visão" uma reportagem (ver aqui) à Urbanização onde Cavaco Silva construiu a sua "Casa da Gaivota Azul" e onde tem como "vizinhos Oliveira Costa e Fernando Fantasia, homens fortes da [famosa] SLN", além doutros amigos, como Fernando Catroga e Teófilo Carapeto Dias. 
Nada indicia, por ora, face aos dados entretanto recolhidos, que tenha havido alguma irregularidade na transacção.
 Digo, por ora, porque a reportagem, em relação ao negócio não consegue outra informação que não seja a de que "a casa foi adquirida através de uma permuta de terrenos com um construtor civil" recolhida junto do já citado Teófilo Carapeto Dias que, todavia, declara não saber quem é o referido construtor.
Apura a reportagem, no entanto, que a casa não está registada na Conservatória do Registo Predial e nem se sabe onde pára a escritura, pois, segundo fonte oficial, Cavaco não se recorda, nem da data, nem do local onde a escritura foi celebrada.
Ora, Cavaco poderá ser muito esquecido, mas não terá sequer uma cópia da escritura? Pergunto eu,  porque tal é o procedimento normal para quem não seja especialmente descuidado. Será o caso de Cavaco?
Cheira-me, pois, a "mistério" que, vindo  a acrescentar-se ao do negócio das acções da SLN, já é "mistério" a mais. Acho eu, que me pergunto ainda se, no Algarve, como no resto do país, o registo não é obrigatório ? E o mais alto magistrado da Nação e supremo "cumpridor" não sabe disso ?
(Imagem daqui)
((Título reeditado)

Portugal visto lá de fora

"Não há razões para Portugal não ter sucesso. Não tem violência, tem um clima bom, praias belíssimas ..." (Rudolph Giuliani, ex-Mayor de Nova Iorque)
Mais um a contrariar Paulo Portas!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Conspiração contra a República

No caso das escutas, Cavaco “Conspirou contra a República”; "noutros países”,  o caso “teria custado o cargo pela aleivosia”. Disse-o Luís Filipe Madeira e eu subscrevo.

Indicação de voto

Quem quiser que à crise económica e social se acrescente uma crise política e, já agora, quem anseie pelo FMI, já tem candidato: vote Cavaco!

O desgosto

O leilão da dívida pública portuguesa realizado hoje e que vinha sendo anunciado pela direita "ranhosa" e pela comunicação social em geral como o princípio do fim (entrada do FMI) foi afinal um sucesso: a procura excedeu largamente a oferta e taxa de juro das obrigações a dez anos fixou-se em 6,716 %, inferior à alcançada na anterior emissão (6,806%).
O resultado alcançado deveria ser motivo de regozigo para todos os portugueses, antes de mais por afastar o fantasma da chegada do FMI, mas é evidente que tal sucesso é um desgosto para a direita que, com Passos Coelho e Paulo Portas, tem apostado na sua vinda e está farta de se mostrar disposta a abrir-lhe as portas. Compreende-se porquê: a sua entrada seria meio caminho andado para ambos atingirem o poder e as exigências do FMI cairiam como sopa no mel para justificar as medidas que a direita pretende levar a cabo para destruir o estado social, em conformidade com  a proposta de revisão constitucional apresentada pelo PSD.
No entanto, para mim, que sou um ingénuo, já é mais difícil compreender a posição do candidato Cavaco Silva que, perante a notícia, não encontra melhor forma de reagir do que dizer que "é preciso saber de onde vem a procura". Bom, aqui tem a resposta: “cerca de 80 por cento da procura foi externa e os outros 20 por cento da parte de investidores domésticos".
Suspeito que para quem aposta no "quanto pior, melhor" (e Cavaco, pelos vistos, é um deles) a resposta não lhe agrade. Paciência !

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cavaco, o mudo

Ontem, "o agricultor da família" e "mísero professor".
Hoje, mudo:  sobre escutas, “Nem o infinitésimo comentário”.
Depois do discurso sobre o mesmo assunto para não dizer coisa com coisa, o melhor é fazer de mudo. Digam lá que o candidato não é homem avisado !

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O penúltimo recurso

Cavaco Silva, com a "humildade" que o caracteriza, prometeu ser a “reserva de último recurso em caso de crise grave”.
Nem de propósito, hoje mesmo, Rui Tavares, na sua coluna "Consoante muda", no "Público", recorda-nos que a "principal - talvez única - proclamação política de Cavaco Silva para esta campanha foi considerar que Portugal deveria abster-se de comentários sobre a situação política na Europa e a crise do euro", porque "tais comentários seriam entendidos como 'insultos' pelos investidores internacionais (...)"
Perante tal proclamação, é óbvio que (continuo a citar Rui Tavares) um "Cavaco subserviente perante o poder quando o não tem e arrogante perante os outros quando o tem" é a pessoa menos indicada para servir de "último recurso" em qualquer circunstância.
Diria até, pegando  nas suas próprias palavras, que ele é, sim, o "último recurso" em termos de opção de voto nas próximas eleições presidenciais, ou antes, para usar de rigor, o penúltimo recurso, pois suponho que José Manuel Coelho nem ele próprio se leva a sério como candidato.
Isto, claro, se quisermos ter na Presidência da República alguém que:
- não consinta que, a partir de Belém, se levantem suspeições infundadas e se urdam irresponsáveis intrigas contra outros órgãos de soberania.  (Não esquecer o "caso das escutas")
- não se acobarde perante "os mercados", ou perante um qualquer Presidente checo;
- saiba de quantos Cantos se compõem os Lusíadas e que não confunda Thomas Morus com Thomas Mann.
....

Cavaco não mente...

Só se esquece de dizer a verdade.

Campanha "limpa" é ... (II)

... chamar loucos aos candidatos adversários.
"Não respondo a outros candidatos, por mais loucos que eles sejam" Cavaco dixit.
A soberba, pelos vistos, também faz parte das muitas "qualidades" do recandidato Cavaco Silva.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Campanha limpa é ...

... apelidar os seus adversários de desonestos, radicais, extremistas e aventureiros.
O recandidato Cavaco Silva bem nos garante que é quem tem mais experiência. Em matéria de campanhas "limpas", é um facto!
Senhores candidatos à Presidência da República, toca a aprender com Cavaco Silva!



sábado, 8 de janeiro de 2011

Onde pára a coerência ?

Que "grande estadista" ele me saiu !
Por todos os motivos e mais este, o melhor mesmo é ele não abrir a boca. É que fica sem se perceber a razão por que se envolveu em nova campanha para ser reeleito.
De facto: se a sua concepção do Estado é a que se deduz das suas palavras; se, como garante,  está empenhado na luta contra a pobreza; e se o remédio para a pobreza é a caridadezinha, a estas horas deveria estar era a candidatar-se à presidência de uma qualquer instituição de solidariedade social. Em coerência era o que devia fazer.
(Título reeditado)

A preço de saldo

Manchete da 1ª página do "Expresso" de hoje : "CAVACO COMPROU ACÇÕES A  PREÇO DE SALDO".
O que é que Marques Mendes, que veio assumir a defesa de Cavaco, terá a dizer sobre isto?
Diz ele que Cavaco não teve tratamento de favor. Então isto é o quê?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ALEGRO PIANISSIMO


Um blogue recentemente criado por apoiantes da candidatura de Manuel Alegre, cujas actualizações poderão ser seguidas aqui, no "Terra dos Espantos", na lista de blogues "Espantos e mais Espantos".


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Já é azar !...

Como forma de contornar as perguntas que lhe têm sido feitas sobre as suas relações com a SLN e o BPN, o candidato Cavaco Silva, tem-se limitado a remeter os interessados  para o site da Presidência da República e para as declarações constantes do Tribunal Constitucional. Eis, porém, que veio hoje a saber-se que no Tribunal Constitucional não há sinais da existência de qualquer declaração relativa nem à aquisição, nem à  venda das acções da SLN (que é o que está em causa). E mais: pelos vistos, nem tinha que haver, uma vez que, quer na altura em que Cavaco Silva adquiriu as acções, quer quando as vendeu, o candidato não exercia qualquer cargo político e não estava sujeito à obrigação de fazer tais declarações.
(Tudo isto foi hoje muito bem explicado no Telejornal (RTP) por uma jornalista que se deu ao trabalho de se deslocar ao Tribunal Constitucional para consultar a documentação.)
Ora sendo assim, das duas, uma: ou Cavaco Silva nos tem andado a mentir (o que, no caso dele, é completamente impensável, tratando-se, como ele apregoa, da pessoa mais séria deste mundo e arredores) ou Cavaco anda muito equivocado.
Seja assim, seja assado, convenhamos que Cavaco anda mesmo em maré de azar.
Ou, se calhar, até não é azar. É, antes, muito mau sinal.

Bocas d'oiro

O candidato à PR, Cavaco Silva, que não tolera insultos, nem participa em campanha sujas, não se coíbe, no entanto, de atacar os seus adversários e, em particular, Manuel Alegre, apelidando, pessoalmente,  de campanha suja e desonesta o simples facto de ter sido desafiado a esclarecer os seus negócios de compra e venda das acções da SLN que, na altura, controlava o BPN, atitude em que já reincidiu, por interposto porta-voz da sua candidatura, que veio qualificar a exigência de Alegre como “uma campanha indigna e ignóbil de ataque pessoal”, acusando-o ainda de estar a desenvolver "ataques desonestos e cobardes à honra pessoal". Do seu candidato.
A terminologia utilizada pelo candidato Cavaco Silva e pelo porta-voz, Alexandre Relvas,  seria em qualquer parte do território português e também nos Açores, ou em Lisboa, considerada como insultuosa, mas como Cavaco Silva não tolera insultos, tem de haver uma qualquer explicação que anule a evidente contradição. E há, pelo menos, uma:  os insultos que proferem transformam-se em pérolas de retórica  só pelo facto de passarem pelas suas bocas. De oiro, quem duvida ?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Então, ele é isso ?

Uma possível explicação para o silêncio de Cavaco Silva sobre o negócio das acções da SLN, pode ser a que se deduz destes diálogos trazidos a lume por João Pedro Henriques (e a que acedi via Porfírio Silva):

"Importa ler o que Nicolau Santos, do Expresso, jornal que, em Maio de 2009, contou a história das acções de Cavaco & filha, escreveu há minutos na página dos Jornalistas do Facebook: "Meu caro Joaquim [Vieira], perguntar como é que o PR comprou e vendeu as acções de uma sociedade não cotada perguntámos (como se verá este sábado ao republicarmos as perguntas que na altura enviámos para a Presidência). Cavaco Silva é que nunca respondeu. Mas como é óbvio foi Oliveira Costa que lhe propôs o negócio, porque lhe interessava apregoar junto de outros potenciais investidores que até Cavaco era accionista; e foi Oliveira Costa que lhe vendeu pelo preço que entendeu, porque era ele (Oliveira Costa) que decidia tudo dentro do banco. O que não se entende é o lamentável comunicado da PR de 23 de Novembro de 2008 onde Cavaco nega peremptoriamente qualquer relação com o BPN... sabendo ele, tão bem como nós, que as acções que tinha eram da SLN, sociedade que controlava o BPN. Esse é o pecado de Cavaco em todo este processo."

Na sequência, perguntei-lhe: Ou seja: lucrando 140%, Cavaco deixou-se usar por Oliveira e Costa na tentativa de credibilização do BPN enquanto projecto bancário. É isto, Nicolau?

E Nicolau Santos já respondeu: "Meu caro João Pedro, não sei se se pode dizer isso. Imagina que um tipo que conheces diz que tem um banco e que te dá a possibilidade de comprares umas quantas acções a um euro, garantindo-te que, quando quiseres, tas recomprará por dois ou mais euros. É um negócio simpático, sem risco, tu conheces o tipo que te está a propor o dito cujo, aceitas. É claro que poderias supor vagamente que iam utilizar o teu nome para arregimentar novos accionistas. Ou talvez não. Não foi Cavaco que disse que não sabia que os hackers podiam entrar nos computadores da Presidência?"

Admitindo que esta versão corresponde ao que efectivamente se passou, Cavaco Silva poderia ser visto como mais um chico-esperto que aproveitou a ocasião. Tal visão até poderia contribuir para o fazer descer do andor onde se passeia  e para empalidecer a auréola com que se enfeita, mas não creio que o fizesse perder votos, se da sua boca saísse a confirmação.
Por acaso, não é português o dito de que "no aproveitar é que está o ganho"? 
Ora, o dito significa alguma coisa. E não é coisa boa.

Sê-lo e parecê-lo

O recandidato à Presidência da República, Cavaco Silva (que se auto-define como o  homem mais honesto deste mundo, pois, segundo as suas palavras, só alguém  que tivesse nascido duas vezes poderia rivalizar com ele e, em boa verdade, não se conhece ninguém que tenha realizado uma tal proeza) continua a recusar explicações sobre o negócio de compra e venda das acções da SLN, sociedade que era, na altura da transacção, proprietária do BPN.
Instado sobre o negócio por jornalistas à sua chegada a Ponta Delgada no âmbito da visita de pré-campanha aos Açores, (suponho que no seguimento do desafio apresentado pelo candidato Manuel Alegre no sentido de “revelar os termos do contrato das suas acções da SLN”) Cavaco Silva limitou-se a repetir o seu estafado "Depois de responder uma vez não respondo mais nenhuma vez", tendo acrescentado a expressão "Contratos há zero", porventura com a preocupação de não deixar o seu adversário de mãos completamente vazias, expressão que, todavia, não lhe é particularmente favorável, pois levanta ainda mais dúvidas sobre o negócio. Na verdade, cabe perguntar: se não há contrato, há o quê ?
O recandidato não ignora, porque já foram formuladas de vários modos, as dúvidas que subsistem e que não são esclarecidas pelo que está escrito no site da Presidência da República, como ainda hoje sublinha o JM Correia Pinto que adianta uma série de perguntas que continuam sem resposta: "A quem vendeu Cavaco as acções? A um banco? A uma empresa? A um particular? Ou a Oliveira e Costa em nome individual ou à entidade por ele representada? E por quanto se venderam à época as acções da mesma empresa em negócios particulares? Foram todas vendidas ou adquiridas pelo mesmo preço que pagaram a Cavaco?"
Se da mulher de César se diz que não basta ser séria, tem também de parecê-lo (entendido o dito no sentido de que a seriedade tem de ser demonstrada, não bastando afirmá-la), por maioria de razão se tem de exigir a César (neste caso, ao candidato Cavaco Silva) a prova da lisura da transacção.
Até porque a recusa por parte de Cavaco Silva em esclarecer, completamente e duma vez por todas, os meandros do negócio só contribui para avolumar a suspeição de que algo se terá passado de menos canónico. No mínimo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Candidato "inexperiente", precisa-se

Cavaco Silva, na sua digressão por terras da Madeira, puxando a brasa à sua sardinha, insistiu na ideia de que Portugal precisa, como nunca, de um presidente com experiência. 
Eu então, que ainda estou para ver os benefícios que a "experiência" de Cavaco Silva e os seus apregoados saberes em matéria de economia trouxeram ao país, prefiro, de longe, um candidato que não tenha a experiência que ele tem:
- na recusa em prestar esclarecimentos satisfatórios e cabais sobre negócios envolvidos em suspeição (como é o caso dele, relativamente à aquisição e venda das acções da SLN) ou sobre o seu envolvimento no "caso das escutas a Belém" que, no verão de 2009, ensombrou a campanha para as eleições legislativas, influenciando os seus resultados;
- em "trocar os pés pelas mãos" , como ele o fez, no patético e nunca por demais recordado discurso após as eleições legislativas, em 2009, discurso que, ao invés de esclarecer, como era suposto, o seu papel no "caso das escutas", apenas serviu para acrescentar dúvidas e aumentar perplexidades sobre toda a sua actuação;
- em dobrar-se às exigências do "soba" madeirense, ao ponto de, em visita oficial à Madeira, não presidir a uma sessão na Assembleia Regional, porque por ali  andava, no dizer do Alberto João, "um bando de loucos";
- em vangloriar-se (ele é o mais competente, o mais sério, o mais honesto (...) e quem quiser superá-lo, terá,  que nascer duas vezes). Pelo menos, acrescento eu,  que também acho que:
Já é tempo de acabar com tanta empáfia em Belém.

Defensor Moura na "Grande Entrevista"




Comentários interessantes: aqui, aqui, aqui e aqui.
E, acrescento, também aqui.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Uma peça da campanha ?

Contrastando fortemente com o discurso apocalíptico do ano anterior, Cavaco Silva presenteou, este ano, os portugueses, com uma mensagem de Ano Novo tida como serena e consensual. Fora eu cínico e seria levado a considerá-la como mais uma peça da campanha eleitoral. Como o não sou, tomo-a pelo valor facial. Até mais ver. 

Bom ano !

Embora com atraso, devido a outras preocupações, não quero deixar passar a efeméride da transição para o ano 2011, sem deixar aqui, os votos de um Bom Ano para todos os visitantes. E se é certo que 2011 vai ser um ano difícil para muitos portugueses, não menos certo é que as dificuldades não se ultrapassam com lamúrias. Confiança no futuro é meio caminho andado. Quem o diz é o tentilhão aqui retratado, por sinal, bem mais assisado do que muitas cabeças pensantes que andam por aí.
(Clicando na imagem, amplia)