quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Código do Trabalho e a transformação do homem em pedra

'"(...) A força que mata é uma forma sumária, grosseira, da força. Muito mais variada nos seus métodos, mais surpreendente nos seus efeitos, é a outra força, a que não mata; ou seja a que não mata ainda. Vai matar certamente, ou vai matar talvez, ou talvez esteja apenas suspensa sobre o ser que a todo o instante pode matar; em todo o caso transforma o homem em pedra". Este excerto foi extraído de um livro de Simone Veil intitulado A Fonte Grega.
(...) Entrou ontem em vigor a nova versão do Código do Trabalho. (...)
O direito a uma recompensa justa pelo trabalho prestado; a protecção adequada na doença, na velhice, no desemprego; a consagração do princípio da segurança no emprego; o primado da escola pública; a manutenção de um Serviço Nacional de Saúde universal; a preservação de um sistema de Segurança Social público - tudo isto constitui uma barreira contra a indignidade humana e tudo isto tem vindo a ser progressivamente atacado em quase toda a Europa. O que é, aliás, mais preocupante no tempo presente é a facilidade com que algumas mentes remetem verdadeiras conquistas de civilização para o domínio dos arcaísmos que devem ser removidos. O grande problema do neoliberalismo assenta na pobreza da visão antropológica que o sustenta e se espelha na linguagem rudimentar dos seus clérigos mais fanáticos. É vê-los a falar de mobilidade, de empreendedorismo, risco e sucesso com uma ligeireza própria de quem tem da humanidade uma representação muito redutora.
(...)
Felizmente ainda há quem recuse essa metamorfose que transforma os homens em pedras."
(Francisco Assis - De Simone Veil ao Código do Trabalho; in  "Público", edição impressa de hoje)

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