"(...)
P. A paz social que tem sido apresentada como activo do país está em risco?
R. Há cinco anos os roubos nos supermercados eram de perfumes, whisky e lâminas de barbear. Hoje rouba-se atum e esparguete. Há cada vez mais gente a ficar sem subsídio de desemprego, porque esgotou o período. E aos parceiros sociais choca ver a insensibilidade do Governo em relação a isso.
P. O que é espera da aplicação do OE para 2013?
R. Este OE vai ficar na história porque no dia em que saiu o Banco de Portugal já punha em causa o seu quadro macroeconómico. Estamos a assistir a um jogo de espelhos perigoso, com a troika e a senhora Merkel a dizerem que Portugal está a cumprir, quando não está cumprir nada. Estamos a trabalhar numa ficção: aposta-se num modelo mas não se adequa o modelo à realidade.
P. Já não acredita em Vítor Gaspar?
R. A CCP não fulaniza as questões nem entra em jogo político. É evidente que em todo este Governo o Ministério das Finanças é o que mais se tem enganado nos objectivos que define. Mas, mais do que este ministro ou outro qualquer, preocupa-nos a posição autista que se está a ter em relação à degradação da economia do país e dos conflitos sociais que possam ocorrer.
P. O Governo diz que não há alternativa. Ela existe?
R. A responsabilidade do Governo é tentar negociar no plano europeu condições que permitam à economia respirar. Até aproveitando as contradições que existem no FMI. Mas o Governo apagou-se muito na capacidade de negociar. Vemos os primeiros-ministros grego, italiano ou espanhol a movimentar-se nas cúpulas e vemos Portugal na expectativa de que cumprindo de forma mecânica um conjunto de princípios consiga ter benesses, que não me parece que estejam a aparecer."
P. Qual é o ambiente que se vive nas reuniões da concertação social?
R. É cordial, mas há um sentimento de ineficácia e de impotência. Gostaríamos que nalgumas medidas importantes os parceiros sociais fossem mais ouvidos. A asneirada feita com a TSU não teria acontecido se tivessem ouvido antes os parceiros sociais. Acabámos por ver entidades patronais e sindicais quase de acordo. A própria troika ficou perplexa. Mas isso acontece porque essas entidades estão na economia real. E a equipa das Finanças vive num mundo de backoffice europeu.
(...)
P. O primeiro-ministro disse que 2013 seria o ano da viragem económica.
R Isso é irrealista. É retórica política.
P. Como antecipa que estaremos no final de 2013?
R. O desemprego vai aumentar, o rendimento das famílias vai baixar e a conflitualidade social irá subir. Ou há uma revisão efectiva do plano de ajustamento para o adequar à realidade da economia ou aproximamo-nos perigosamente de situações que se vivem na Grécia. (...)"
(Extractos duma entrevista dada por João Vieira Lopes, Presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, ao semanário no "Expresso" e ali publicada na edição de hoje)
1 comentário:
Por outras palavras, o presidente do CES disse mais ou menos o mesmo há uma ou duas semanas.
Hoje, Adriano Moreira deitou mais umas achas para a fogueira.
quando vejo gente do Estado Novo a atacar este governo pela esquerda tenho medo. E quando confirmo que há assessores do governo, pagos por todos nós, para fiscalizarem a blogosfera,começo a sentir vontade de passar à acção.
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