Embora se saiba que há 509 mil desempregados que não entram nas contas oficiais (que, se contassem, colocariam a taxa de desemprego bem acima de 20%), a acentuada descida dos números do desemprego, segundo os dados que ultimamente têm vindo a ser divulgados pelo INE, conquanto tenha de ser vista como uma excelente notícia, se os números corresponderem à realidade para lá da estatística, não pode também deixar de causar alguma perplexidade, mesmo considerando que a descida do desemprego é acompanhada por uma baixa ainda mais acentuada do lado do emprego (foram perdidos 219 mil empregos desde o segundo trimestre de 2011 até ao final do segundo semestre deste ano).
A grandeza deste número de empregos perdidos explicável, em grande parte, pela sangria dos trabalhadores mais jovens e mais qualificados, entretanto empurrados para a emigração pela política de desastre deste governo, deveria ser suficiente para fechar a boca a quantos do lado dos partidos da maioria se vangloriam dos resultados anunciados pelo INE. Deveria, se nos partidos da maioria ainda houvesse o sentido da decência e alguma noção de solidariedade para com as vítimas da sua política de austeridade "custe o que custar", mas não é, manifestamente, o caso.
Seja como for, a perplexidade permanece e só desapareceria se se concluísse (e longe está uma tal conclusão) que é errada a tese defendida pela generalidade dos economistas de que não há crescimento do emprego se a economia não crescer algo acima de 2%. Sabe-se, sem margem para dúvidas, que não é esse o caso da economia portuguesa que só lentamente tem vindo a sair de uma recessão prolongada de pelo menos 3 anos.
Não havendo justificação do ponto de vista dos estudos económicos para esta súbita e acentuada descida do número de desempregados, em véspera de eleições, e não pondo em causa a seriedade e a independência dos trabalhadores e dirigentes do INE, resta fazer apelo a uma qualquer espécie de intervenção divina para encontrar a explicação.
É por isso que eu, embora não garanta, também não ponho de parte a hipótese de o milagre ser obra do martelo do deus Hefesto.
1 comentário:
A considerar, sem dúvida!
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