sábado, 11 de abril de 2009

Falando cá com os meus botões...

Que a objectividade em jornalismo é uma ficção, já não é propriamente uma novidade e, para se chegar a tal conclusão, basta pensar que ninguém se consegue despir dos próprios preconceitos por mais que o jornalista (que não é diferente dos restantes mortais) se esforce por ser honesto e objectivo. Isto é o que se pode afirmar em geral, mas quando se entra no domínio da política a objectividade jornalística é manifestamente "mandada às malvas" (com as naturais e louváveis excepções) e a deontologia profissional não chega, na maior parte dos casos, a entrar nas redacções e fica à porta. Se houvesse necessidade de demonstração bastaria o caso Freeport [que já nos proporcionou a leitura, a audição e a visão de tanto boato e insinuação (sem o menor reparo do órgão deontológico)] para provar à saciedade que assim é.
Os jornalistas, quando se trata de questões políticas ou que digam respeito a políticos, comportam-se mais ou menos como os adeptos dos clubes de futebol: a falta marcada contra o clube da simpatia do adepto, para este, nunca existe e a pretensa falta cometida pelo clube adversário e que não foi assinalada é porque o árbitro é cego ou foi comprado. Digamos que a objectividade jornalística, em matéria de política, não anda longe da objectividade clubística, se bem que a afirmação deva ser entendida com a devida dose de "grano salis", como é óbvio. Talvez se justificasse, por isso, para aumentar a credibilidade, que as peças jornalísticas viessem acompanhadas de uma "declaração de interesses" donde constasse a filiação ou a simpatia "clubística" do autor. Tal declaração ajudaria sem dúvida o leitor, ouvinte, ou telespectador, a fazer um juízo de valor sobre a objectividade do que lhe é apresentado.
Há casos, porém, em que tal não é necessário. É o que se passa com José Pacheco Pereira que se apresenta semanalmente no "Público", ao sábado, com a capa de historiador, mas que é mais conhecido como comentador encartado em vários meios de comunicação social e cuja filiação "clubística" já é conhecida e por isso dispensa a tal declaração de interesses.
A crónica que hoje publica a três colunas, ocupando toda a penúltima página, como de resto é normal, é mais um exemplo acabado de falta de objectividade. Todavia, como já se sabe que o autor escreve pro domo sua (ou antes pro dama sua), o leitor tem a possibilidade de atribuir às suas reflexões e conclusões o seu valor real, que, neste caso particular, não é nenhum. Na verdade, que outro valor se pode atribuir à resposta afirmativa por ele dada à interrogação também por ele formulada e que dá o título à crónica "Tem mesmo a certeza de que nos dias de hoje existe um governo em Portugal ?".
Pacheco Pereira é tido como pessoa inteligente, mas crónicas deste tipo, tal o seu excesso, deixar-me-iam na dúvida, se não fosse o facto, por mim tido como assente, de que a filiação "clubística", não só afecta a objectividade do adepto, como, inclusive, leva o adepto a não ter noção da realidade: não vê o que está à vista de toda a gente e, ao invés, vê o que não existe. No caso de Pacheco Pereira esta "doença clubística" é particularmente evidente: por um lado, não se apercebe de um Governo que governa e, pelo contrário, considera como excelente escolha do seu partido (o PSD) a actual líder, a quem presta vassalagem, quando é bem claro (as sondagens o dizem) que a senhora não tem, nem condições, nem credibilidade para desempenhar as funções de primeira-ministra.
Diria até que no caso de Pacheco a "doença" deve ser mesmo grave, pois só assim se explica que ele não veja o que até os adeptos menos "ferrenhos" do "clube" reconhecem e afirmam.

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