terça-feira, 30 de junho de 2015

Foi v. quem pediu uma "almofada"?

Desde que as negociações entre o Governo grego e as instituições (UE, BCE e FMI) começaram a descarrilar, o governo português garantiu, desde a primeira hora, que do eventual falhanço das negociações não decorria qualquer risco para Portugal, graças à já famosíssima "almofada" de mais de uma dezena de milhares de milhões de euros (de dívida entretanto contraída a pensar no pior). O país, com a dita "almofada", estaria preparado para durante uns quantos meses (até ao final do ano?) fazer face a eventuais reacções adversas por parte dos mercados financeiros.
Parece não haver razão para duvidar da existência da "almofada". Sobra, no entanto, a pergunta sobre a razão da sua existência, pergunta que não vejo devidamente esclarecida, nem pelo governo, nem pela comunicação social. Compreende-se porquê. É que a constituição da dita "almofada" é a prova mais provada de que a actuação deste governo  ao longo de toda a actual legislatura não se traduziu, ao invés do proclamado, num sucesso, mas sim num rotundo e inconfessado fracasso. Como é óbvio, só precisa de "almofada" quem se sente desconfortável com a situação em que se encontra. Se este governo se deu ao trabalho de constituir a dita "almofada" é porque ele próprio se não sente confortável com a situação em que se encontra o país, o que vale por dizer que nem o próprio governo acredita nas reformas cujo êxito vem reclamando, nem nos benefícios do "ajustamento" por via da  "austeridade" dita expansionista. 
Não acredita e com razão: o país, de facto, está mais pobre, a economia não passa da cepa torta e, surpreendentemente, até a dívida pública aumentou assustadoramente nos últimos quatro anos, passando de 96% do PIB, no final de 2010, para mais de 130%, actualmente. 
Digo surpreendentemente, porque é mesmo uma surpresa verificar que a dívida pública aumentou exponencialmente, em vez de diminuir, como seria de esperar, tendo em conta os cortes (de salários e de pensões) os aumentos de impostos nunca antes vistos e a venda dos últimos anéis, venda esta tão acelerada que está mais que justificada a atribuição a este governo do título de  Comissão Liquidatária. 
Com uma dívida pública muito superior à existente no final de 2010, é evidente que se, entretanto, surgir algum incidente de percurso que, na óptica dos "mercados", ponha em causa a viabilidade e o futuro do Euro, não haverá "almofada" que nos valha. Diga o que disser o governo ou o eminente "matemático" Cavaco.

"Se ao menos houvesse o decoro de permanecer em silêncio" *

«O ponto de não retorno talvez já tenha sido transposto. A entropia está em marcha. Portugal está agora na linha da frente da crise europeia. Como estava previsto no relatório da UBS, de setembro de 2011, sobre as graves consequências da eventual saída da Grécia da zona euro. Ou no relatório da Fundação Bertelsmann, de setembro de 2012, que vinculava a saída da Grécia à queda de Portugal, e a custos astronómicos para toda a zona euro, incluindo a Alemanha. Durante cinco anos a Grécia funcionou no dominó disfuncional da zona euro como um dique protetor perante as fragilidades de Portugal. Um governo português, formado por pessoas medianamente inteligentes e patrióticas, teria apoiado, mesmo que moderadamente, qualquer governo grego, fosse ele do Syriza ou de qualquer outro partido. Deveria fazê-lo por razões jurídicas e morais, mas também por puro egoísmo político. A Grécia era um dique protetor do interesse nacional. Infelizmente, o governo de Passos Coelho e o seu eco de Belém fizeram tudo para humilhar, enfraquecer e fragilizar Atenas. Agora, só um milagre poderia evitar que o dique grego se desmorone. Os nossos juros estão a subir, a desvalorização do euro significará desequilíbrio externo e perda do valor do aforro. Os "cofres cheios" vão começar a ser esvaziados. Quando mais precisávamos de estadistas, limitamo-nos a ter em Portugal os veteranos que utilizaram a malha larga da política partidária para se promover. Nos tempos de fartura, isso seria suportável. Pelo contrário, nos dias excecionais, como os que estamos a viver, tanta incompetência pode ser mortal para a sustentabilidade do Estado. Se ao menos houvesse o decoro de permanecer em silêncio.»
[VIRIATO SOROMENHO-MARQUES (na imagem): "O dique grego" . Daqui]
(*Infelizmente, nem isso)

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A "grande descoberta" de Passos Coelho

Depois de sucessivas declarações do próprio e de outros membros do seu governo de que a crise que a Grécia atravessa não viria a ter reflexos em Portugal, graças à famosa "almofada", Passos descobriu finalmente que "ninguém pode estar imune àquilo que possa vir a acontecer". E fez a grande descoberta, exactamente no dia em que a bolsa portuguesa sofreu um rombo superior a 5%,  batendo, na queda, toda a concorrência. Sem apelo, nem agravo. Uma "inteligência" este Coelho!
(Imagem daqui)

Por montes e vales: Chãs d'Éguas




Em plena Serra do Açor, a aldeia de Chãs d'Égua. freguesia de Piódão, concelho de Arganil

quarta-feira, 24 de junho de 2015

domingo, 21 de junho de 2015

"Plano de ajustamento greco-português"


(Fotografia de um pequeno excerto da crónica com o título em epígrafe da autoria de Rui Cardoso Martins, publicada na Revista 2 do "Público" (edição de hoje). Infelizmente, sem link, porque vale a pena ler o texto na íntegra.)

Xô!


(in "Público", edição impressa de hoje)

sábado, 20 de junho de 2015

Com vénias e salamaleques não nos livramos dele(s), não!


"1. O sujeito - Pedro Passos Coelho - que aumentou o IVA da restauração e da energia, e queria aumentá-lo outra vez para reduzir a TSU das empresas, diz que foi só uma recomposição do cabaz de bens?
2. O sujeito - Pedro Passos Coelho - que retirou o RSI e o abono de família a milhares de pessoas e reduziu as prestações do RSI e do complemento solidário de idosos diz que os cortes não afetaram os mais pobres?
3. O sujeito - Pedro Passos Coelho - que só não cortou nos salários e pensões a partir de 600-700 euros e só não cobrou impostos sobre o subsídio de doença e desemprego porque foi impedido pelo Tribunal Constitucional, diz que os cortes não afetaram os mais pobres?
4. O sujeito - Pedro Passos Coelho - que é o primeiro-ministro do país que viu sair meio milhão de emigrantes nos últimos quatro anos, diz que é falso que tenhamos tido mais emigrantes do que a Espanha ou a Irlanda?
5. Chamem-lhe o que ele é, senhoras e senhores deputados socialistas, senhores e senhoras porta-vozes do PS, chamem-lhe mentiroso, aldrabão, indiferente ao sofrimento do seu próprio povo e indigno das funções que exerce! Chamem-lhe o que ele é, não tenham medo! Ou pensam que ganham a luta com vénias e salamaleques?"

(Augusto Santos Silva. in Facebook)

Passos: uma fábrica de mentiras

Dizer simplesmente que Pedro Passos Coelho é um aldrabão, por muito elevado que seja o estatuto que nessa qualidade se lhe atribua, é correr o risco de ficar muito aquém no reconhecimento devido aos seus méritos nessa matéria. Isto porque, na verdade, Passos Coelho é muito mais que um aldrabão. É, comprovadamente,  uma autêntica fábrica de mentiras. Veja-se, a titulo de exemplo,  só a quantidade de mentiras que a "fábrica" produziu numa breve sessão na Assembleia da República:

1.  "A ideia de que em Portugal só passamos a ter emigração com esta crise é falsa" disse o artista para quem também "é falso que tenhamos tido mais emigração que noutros países", acrescentando que "na Irlanda o saldo migratório foi mais grave".

O gráfico (infra) do Eurostat desmente-o ponto por ponto. 


2. Na mesma sessão, Coelho assegurou que os mais pobres "não foram afectados por cortes nenhuns"
Os quadros abaixam reproduzidos encarregam-se de o desmentir de novo e sem margem para dúvidas. Senão vejam:



~




Estamos, claramente,  perante uma produção de aldrabice em série, com uma máquina em tão boa forma que já nem se engasga.
(Os quadros acima reproduzidos foram "pescados" aqui,  aqui e aqui)

Lampeiros? Pois seja!

«(...)
Tudo isto vem a propósito da palavra que mais me veio à cabeça – bem sei que uma cabeça muito deformada pelo “ressabiamento” por este governo não me ter dado um cargo qualquer – quando ouvi o debate parlamentar com o Primeiro-ministro na sexta-feira passada. Como ele está lampeiro com a verdade! Lampeiro é a palavra do dia.
(...)

Aconselhar os portugueses a emigrar? Nunca, jamais em tempo algum. Bom, talvez tenha dito aos professores, mas os professores não são portugueses inteiros. Bom, talvez tenha dito algo de parecido, mas uma coisa é ser parecido, outra é ser igual. Igual era se eu dissesse “emigrai e multiplicai-vos” e eu não disse isso. Nem ninguém no “meu governo”. Alexandre Mestre era membro do Governo? Parece que sim, secretário de Estado do Desporto e disse: "Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras". Como “sair da sua zona de conforto” é uma das frases preferidas do Primeiro-ministro, e a “zona de conforto” é uma coisa maléfica e preguiçosa, vão-se embora depressa. E Relvas, o seu alter-ego e importante dirigente partidário do PSD de 2015, então ministro, não esteve com meias medidas: “é extraordinariamente positivo” “encontrar [oportunidades] fora do seu país” e ainda por cima, “pode fortalecer a sua formação”. Resumindo e concluindo: “Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante". Parece um coro grego de lampeiros.

Continuemos. A crise não atingiu os mais pobres porque “os portugueses com rendimentos mais baixos não foram objecto de cortes”, disse, lampeiro, Passos Coelho. Estou a ouvir bem? Sim, estou. Contestado pela mentirosa afirmação, ele continua a explicar que os cortes no RSI foram apenas cortes na “condição de acesso ao RSI” e um combate à fraude. A saúde? Está de vento em popa, e quem o contraria é o “socialista” que dirige um “observatório” qualquer. Sobre os cortes nos subsídios de desemprego e no complemento solidário de idosos, nem uma palavra, mas são certamente justas medidas para levarem os desempregados e os velhos a saírem da sua “zona de conforto”. Impostos? O IVA não foi aumentado em Portugal, disse Passos Coelho com firmeza. Bom, houve alterações no cabaz de produtos e serviços, mas o IVA, essa coisa conceptual e abstracta, permaneceu sem mudança, foi apenas uma parte. Então a restauração anda toda ao engano, o IVA não aumentou? E na luz, foi um erro da EDP e dos chineses? Lampeiro.

Continuemos. A crise não atingiu os mais pobres porque “os portugueses com rendimentos mais baixos não foram objecto de cortes”, disse, lampeiro, Passos Coelho. Estou a ouvir bem? Sim, estou. Contestado pela mentirosa afirmação, ele continua a explicar que os cortes no RSI foram apenas cortes na “condição de acesso ao RSI” e um combate à fraude. A saúde? Está de vento em popa, e quem o contraria é o “socialista” que dirige um “observatório” qualquer. Sobre os cortes nos subsídios de desemprego e no complemento solidário de idosos, nem uma palavra, mas são certamente justas medidas para levarem os desempregados e os velhos a saírem da sua “zona de conforto”. Impostos? O IVA não foi aumentado em Portugal, disse Passos Coelho com firmeza. Bom, houve alterações no cabaz de produtos e serviços, mas o IVA, essa coisa conceptual e abstracta, permaneceu sem mudança, foi apenas uma parte. Então a restauração anda toda ao engano, o IVA não aumentou? E na luz, foi um erro da EDP e dos chineses? Lampeiro.

Depois há a Grécia. “Não queremos a Grécia fora do euro” significa, por esta ordem, “queremos derrubar o governo do Syriza”, “queremos o Syriza humilhado a morder o pó das suas promessas eleitorais”, “queremos os gregos a sofrerem mais porque votaram errado e têm que ter consequências”, “queremos a Grécia fora do euro”. O que é que disse pela voz do Presidente? Na Europa “não há excepções”. Há, e muitas. A França por exemplo, que violou o Pacto de Estabilidade. A Alemanha que fez o mesmo. 23 dos 27 países violaram as regras. Consequências? Nenhumas: foi-lhes dado mais tempo para controlar as suas finanças públicas. Mas ninguém tenha dúvidas: nunca nos passou pela cabeça empurrar a Grécia para fora do euro, até porque na Europa “não há excepções”. Lampeiros é o que eles são. Lampeiros

Este tipo de campanha eleitoral é insuportável, e suspeito que vamos ver a coligação a “bombar” este tipo de invenções sem descanso até à boca das urnas. O PS ainda não percebeu em que filme é que está metido. Continuem com falinhas mansas, a fazer vénias para a Europa ver, a chamar “tontos” ao Syriza, a pedir quase por favor um atestado de respeitabilidade aos amigos do governo, a andar a ver fábricas “inovadoras”, feiras de ovelhas e de fumeiro, a pedir certificados de bom comportamento a Marcelo e Marques Mendes, a fazer cartazes sem conteúdo – não tem melhor em que gastar dinheiro? – e vão longe.

Será que não percebem o que se está a passar? Enquanto ninguém disser na cara do senhor Primeiro-ministro ou do homem “irrevogável” dos sete chapéus, ou das outras personagens menores, esta tão simples coisa: “o senhor está a mentir”, e aguentar-se à bronca, a oposição não vai a lado nenhum. Por uma razão muito simples, é que ele está mesmo a mentir e quem não se sente não é filho de boa gente. Mas para isso é preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.
(...)»
(José Pacheco Pereira : "Demasiado lampeiros para serem sérios". Na íntegra: aqui)

(Não é por nada, mas eu, por caso, prefiro chamar-lhe "aldrabões" com todas as letras. Porém, como a língua portuguesa é muito rica e maleável, "lampeiros"  também serve perfeitamente para designar a corja que de há mais de 4 anos a esta parte vem destruindo este país. Lampeiros ou aldrabões o que é preciso e urgente é correr com eles. Para fora de cena e, de preferência, para o mais longe possível. Só de imaginar que Passos, Portas, e Cavaco vão continuar a andar por aí, até uma pessoa que não seja "lampeiro" se arrisca a ficar doente. Com febre e sem outra razão aparente, garanto eu.)
(Imagem daqui)

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Nem é pedir muito: simplesmente, puxem pela memória!

«(...)
A atual maioria foi capaz de instalar no imaginário público a ideia de que o PS de Sócrates foi o único culpado pelo descalabro financeiro a que se chegou a 2011. Contudo, puxando pela memória dos anos imediatamente anteriores a essa data, não consigo recordar o catálogo de cortes orçamentais que os partidos dessa mesma maioria então propuseram. Pelo contrário, quase só me lembro de propostas para mais despesa. Era o PS que estava no Governo, mas a Oposição não deu então sinais da uma grande responsabilidade financeira. E disto, curiosamente, ninguém fala.
(...)»
(Francisco Seixas da Costa: "A herança de Sócrates". Na íntegra: aqui. Destaque meu)

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Desonra lhes seja feita!

Chega a ser obscena a forma como a troika nacional (Cavaco, Coelho e Portas) se coroa de louros pelo facto de o desemprego, depois de ter andado lá pelos 17%, ter caído ultimamente para 13%. 
Falo de obscenidade, porque, de facto, faz parte do adquirido da ciência económica que o anémico crescimento da economia portuguesa não explica um tão elevado decréscimo da taxa de desemprego. A explicação terá, pois, de ser procurada alhures.
É sabido que pelo menos uma parte da chamada troika nacional, é muito dada a invocar milagres para explicar o aparentemente inexplicável. O presente caso, porém, não é inexplicável, embora, não há que negá-lo, seja surpreendente. Ainda assim a baixa da taxa de desemprego tem uma explicação muito comezinha e que nem é difícil de encontrar. Basta ter em conta que, em 2014, cerca de 130 mil portugueses foram forçados a emigrar por não encontrarem trabalho no seu país.
Quero com isto dizer que ao governo de Cavaco, co-liderado por Passos e Portas, não é atribuível mérito algum, no caso? Não lhe faço essa injustiça, pois mérito teve. A austeridade "custe o que custar" teve o indiscutível mérito de, ao longo da actual legislatura, ter empurrado centenas de milhares de portugueses (quase meio milhão) para fora do seu país. Desonra lhes seja feita!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Visitas de Estado ? *

Estando a Roménia a viver uma grave crise política, com o primeiro-ministro em parte incerta, digam-me lá o que é que Cavaco foi até lá fazer.
Alguém com um mínimo de bom senso, mesmo que a visita estivesse aprazada, é evidente que, em tais circunstâncias, o aconselhável seria regressar a penates, finda a visita à Bulgária.
Se calhar, a Dª Maria e o seu Aníbal ainda não conheciam a Roménia. Bom, se era esse o caso, a insistência na visita fica explicada.
(* O raio do ponto de interrogação não queria, mas acabou por ficar no título. E fica lá muito bem, acho eu) 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ele aliviado, nós preocupados

Cavaco, durante mais uma passeata, desta vez, à Bulgária e à Roménia, declarou estar "mais aliviado" em relação à privatização da TAP. Perante o confessado "alívio" presidencial, Ferro Rodrigues lembrou-se de perguntar se Cavaco se baseará em informações desconhecidas do parlamento e dos partidos da oposição e se tais informações serão tão ou "mais fiáveis do que as que há um ano o levaram a dizer que o BES estava sólido".
Lembrou-se de perguntar e com inteira razão, atendendo aso antecedentes. De facto, se a fiabilidade das informações em que Cavaco se baseou para agora se sentir aliviado com a privatização for  de teor idêntico ou semelhante àquela em que se baseou para garantir a solidez do BES,  é caso,  para as nossas preocupações aumentarem exponencialmente, até porque o alívio de Cavaco se baseia, pelo que ele diz, num pressuposto que só um cego não vê que não é verdadeiro. Segundo ele: "A maioria do capital é português". Eu não digo que Cavaco seja cego, mas é evidente que ele não quer ver que a  maioria do capital é encabeçada por um português apenas e só para Bruxelas ver. Não saberá Cavaco que o português que integra o consórcio vencedor sabe tanto de aviões quanto Cavaco de lagares de azeite? Saber, até sabe, mas faz que não sabe, porque o que lhe interessa é dar cobertura a mais uma acção danosa desde governo de destruição nacional que, nessa ominosa tarefa, tem contado com a sua indefectível cumplicidade.
É por essa e por outras que razão têm os dirigentes partidários a quem já hoje ouvi dizer que os portugueses só ficarão aliviados no dia em que Cavaco partir de vez. Também acho.
(reeditada)

domingo, 14 de junho de 2015

Para que serve ter um presidente como Cavaco em Belém?

Para não variar, o discurso proferido por Cavaco nas cerimónias do 10 de Junho foi recebido pelos partidos da oposição com indisfarçável desagrado.
Acho que António Costa ao falar em "eco do Governo" acertou na "mouche". Cavaco, depois do derrube do Governo de José Sócrates e da chegada de Passos Coelho ao poder, chegada que Cavaco patrocinou, este nunca mais teve voz própria. Desde então, de Belém não sai outro som que não seja o eco das posições de Passos Coelho. Este, aliás, faz questão de tornar evidente que Cavaco não tem margem de manobra. Se, uma vez por outra, Cavaco se permite o devaneio de emitir uma opinião ainda que ligeiramente desalinhada, logo aparece Passos Coelho a mandá-lo fechar a boca, limitando-se Cavaco a "comer e calar".
A situação é tão estranha e surpreendente que, sem forçar demasiado a nota, até se poderia falar numa segunda vigência da Constituição de 1933, com Passos Coelho a fazer o papel de Presidente do Conselho e Cavaco o de  Américo Tomás.
Para se ter chegado a tal ponto, seguramente, algo de grave, em termos políticos, se passou entre os dois. Na falta de  pistas seguras, fiquemos pela constatação de que Cavaco, ao invés de ser, como lho impõe a Constituição, o garante do regular funcionamento das instituições, é ele próprio, a negação desse regular funcionamento. 
E, já agora, deixo por aqui também a pergunta: um presidente da República que se anula, enquanto tal, serve para quê?  

"Dissimulado e ronha"

«(...)
Cavaco Silva merece o título de político português mais dissimulado e ronha que o nosso regime democrático gerou. Ele é incapaz de conviver de mente aberta e consciência tranquila com a pluralidade de projetos políticos que se expressam na sociedade e, por isso, a sua nata inabilidade para interpretar e representar todos os portugueses e o seu sistemático recurso a atos mesquinhos com cheiro a vingança.
(...)»
(Carvalho da Silva: "Condecorar a troika". Na íntegra: aqui. Destaque meu)

Olá, se merece!

"Há alguém por aí para enfrentar a triste degradação da justiça?"

«O caso Sócrates só podia despertar paixões épicas. Foi assim desde o início, será assim até ao fim. O recente episódio da proposta de prisão domiciliária voltou a atiçar essa fogueira, com comentadores a elogiarem ou a invectivarem a atitude do ex-primeiro-ministro e outros a denunciarem a sua máxima culpa. Uns com prudência e outros com concupiscência.

Sem prejuízo destas opiniões, não estou de acordo. Todas elas partem de uma posição irredutível e determinada: ou o homem é culpado (e então merece todo o castigo desde sempre) ou é inocente (e a recusa da prisão domiciliária é um assomo de dignidade). Decerto, será uma ou outra. Mas o meu ponto é que não temos meios para saber qual delas é a verdade. Só podemos supor, ou por solidariedade pessoal ou política, ou por um ódio de qualquer estirpe. E supor é insuficiente. Ora, não devemos basear a nossa atitude numa suposição, determinada unicamente por paixões, nem muito menos deixar que as suspeitas ou até convicções dos espectadores que somos todos se tornem o substituto da justiça.

Não podemos e não devemos, tanto mais que estamos a ser bombardeados pela mais longa fuga ao segredo de justiça de que me lembro. Se pensa que tudo se tornou possível, aperte o cinto de segurança que vai haver muito mais. Já tivemos a divulgação da gravação de um interrogatório umas horas depois da sua realização, usando o truque de entregar uma cópia à defesa para confundir o rastro do crime, e o que mais virá? Temos constantes e reiteradas antecipações em jornais de “provas” que não foram apresentadas à defesa e que nem podemos saber se figurarão sequer na acusação, e o que mais será? E nem sabemos quando será a acusação: um ano depois, um ano e meio depois, antes das eleições, depois das eleições?

Sugiro ao leitor que se mova então pela única certeza que podemos ter: este processo está a ser conduzido sem respeito pela justiça ou até pela decência. (...)»

(Francisco Louçã. Na íntegra: aqui. Destaque meu.)

sábado, 13 de junho de 2015

Desamparem a loja!

O ultimamente muito falado "mito urbano" mudou de versão. Depois de ao longo desta legislatura o governo de Passos & Portas ter convidado insistentemente os jovens a abandonar a "zona de conforto" apontando-lhes o caminho da emigração e encorajando-os a procurar trabalho noutras paragens, agora que se aproxima o final da legislatura, o governo, através do Ministério da Educação, passou a adoptar uma postura mais adequada ao "não-me-lixem-as-eleições". Os jovens, agora, são apenas incentivados a fazer uma pausa nos estudos e "a partir à aventura". É o que nos conta Joana Pereira Bastos num texto que ocupa 2 (!) páginas do "Expresso" de hoje, edição impressa. 
"Uma pausa que é um passaporte para o futuro" é o empolgante título do trabalho. Tão empolgante que levanta a dúvida sobre se não estaremos perante uma encomenda deste governo que, duma forma ou doutra, não desiste de ver a nossa juventude pelas costas.

Branco é, galinha o põe

Noticia o Público de hoje que Miguel Prata Roque, advogado e professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, afirma que a venda da TAP envolve uma situação de “controlo simulado”.
Alguma dúvida? Perante os factos conhecidos e relatados, não é necessária especial acuidade intelectual para chegar a uma tal conclusão
E, já agora, há também alguma dúvida de que este governo tem plena consciência da vigarice e a aceita, se é que não a patrocinou, com a (inexplicável) pressa em desfazer-se da TAP ao desbarato, cometendo mais um crime de lesa-pátria?
(Notícia e imagem daqui)

Portugal à frente ? Sim, mas roto e esfrangalhado

("Expresso" de hoje, edição impressa)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A mim, também

"Interpelando os jornalistas, ontem, outra vez: "Já conseguiram descobrir uma frase minha em que convido os portugueses a emigrar?", perguntou Passos Coelho. Jornais e telejornais tinham passado o dia a desenterrar frases explícitas sobre aquele convite. Em outubro de 2011, Alexandre Mestre, um secretário de Estado de Passos, convidou os jovens a emigrar. Dois meses depois, o próprio Passos propôs a professores desempregados que emigrassem. As palavras de ambos estão gravadas. E eram a expressão da política de Passos. No ano seguinte, 2012, os portugueses emigraram mais do que em 1966, quando do pico da ida para França. Quando aquelas tolices, de Mestre e de Passos, foram ditas, escrevi a razão que as fazia tolice. Não era lembrarem que havia uma coisa chamada emigração. O meu avô, o meu pai, eu próprio e a minha filha trabalhámos em terra que não nos viu nascer - somos portugueses comuns, sabemos que emigrar está-nos no ADN. A decisão de partir é um direito, e tanto o usarmos só prova que os portugueses sabem ser livres, mesmo em situações adversas. A questão é: aos governantes cabe propor aos portugueses o que fazer cá dentro, não anunciar-lhes que há alternativas lá fora. Um convite a partir é um insulto, é um empurrar para longe do nosso. Mas eis que Passos tomou a iniciativa de voltar ao assunto. Parece que a sua tática eleitoral é mostrar que vai em frente com a pertinácia dos que não têm vergonha. A mim convenceu-me."
(Ferreira Fernandes; "A mim, Passos Coelho convenceu". Daqui)

A mim, também. Há muito.

terça-feira, 9 de junho de 2015

"Perigo de fuga não há", mas há o evidente propósito da humilhação.

"Perigo de fuga não há. Disso já falou quem tinha de falar. Continuação da atividade criminosa, não vejo como, quando aquilo de que se fala é de corrupção e José Sócrates não ocupa qualquer cargo que lhe permita ser corrompido. Por fim, não vejo em que é que uma pulseira eletrónica pode evitar que perturbe o processo. Assim, a tentativa de pôr Sócrates em prisão domiciliária com pulseira eletrónica é difícil de defender.

Quando, meio ano depois, continua a não haver qualquer acusação, é difícil manter a prisão preventiva, em casa ou na prisão. Porque Sócrates é inocente? A prisão preventiva, fora ou dentro de casa, não tem nada a ver com a culpabilidade ou inocência. Tem a ver com os três motivos explicitados na lei que muito dificilmente podem continuar a ser sustentados neste caso.

(...)"
(Daniel Oliveira; "Porque Sócrates não verga". Na íntegra: aqui)

Não há perigo de fuga, não há perigo de continuação (?) de actividade criminosa, não há perigo de perturbação duma investigação que dura há anos, mas há, desde o momento da prisão, o evidente propósito da humilhação.

"Se queres conhecer o vilão, põe-lhe uma vara na mão"

Parece que está na moda, até nos meios judiciais, a citação de provérbios e outros ditos populares. Hoje, por algum motivo, o provérbio em título insiste em vir-me à memória.
Receio bem que o facto tenha a ver com esta notícia: "Juiz mantém Sócrates em prisão preventiva", sob promoção do procurador Rosário Teixeira.

A sentença popular fala em vilão, mas não perde o acerto se substituirmos vilão, por vilões. Pois não?

(Imagem e notícia: daqui)

Por montes e vales # 23

Os "mitos" na novilíngua de Passos Coelho



(in "Público" de hoje)

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Aldrabões há muitos, mas não conheço nenhum com tamanha desfaçatez

Ei-lo mais uma vez em acção. Quanta desfaçatez alto Zeus!

A palavra de Sócrates

DECLARAÇÃO
A minha prisão constituiu uma enorme e cruel injustiça. Seis meses sem acusação. Seis meses sem acesso aos autos. Seis meses de um furiosa campanha mediática de denegrimento e de difamação, permitida, se não dirigida, pelo Ministério Público. Seis meses de imputações falsas, absurdas e, pior – infundamentadas, o que significa que o Ministério Público não as poderia nem deveria fazer, por não estarem sustentadas nem em indícios, nem em factos, nem em provas. Seis meses, enfim, de arbítrio e de abuso. 
Aqui chegados, que cada um assuma as suas responsabilidades. A minha prisão foi uma violência exercida injustamente contra mim, mas foi-o de forma unilateral – foi-me imposta. Esse acto contou sempre com o meu protesto e o meu repúdio; nunca com o meu silêncio e muito menos com o meu assentimento. Agora, o Ministério Público propõe prisão domiciliária com vigilância electrónica, que continua a ser prisão, só que necessita do meu acordo. Nunca, em consciência, poderia dá-lo. 
Por outro lado, não posso ignorar – nem pactuar – com aquilo que, hoje, para mim, está diante dos olhos: a prisão preventiva usada para investigar, para despersonalizar, para quebrar, para calar, para obter sabe-se lá que “confissões”. Também não ignoro – nem pactuo – com a utilização da prisão domiciliária com vigilância electrónica como instrumento de suavização, destinado a corrigir erros de forma a parecer que nunca se cometeram. Estas “meias-libertações” não têm outro objetivo que não seja disfarçar o erro original e o sucessivo falhanço: depois de seis meses de prisão, nem factos, nem provas, nem acusação. 
Meditei longamente nesta decisão, no que ela significa de sacrifício pessoal e, principalmente, no sacrifício que representa para a minha família e para os meus amigos, que têm suportado esta inacreditável situação com uma extraordinária coragem. Todavia, o critério de decisão é simples – ela tem que estar de acordo com o respeito que devo a mim próprio e com o respeito que devo aos cargos públicos que exerci. Nas situações mais difíceis há sempre uma escolha. A minha é esta: digo não.
(Texto e iamgem daqui)

"Que fantástica deve ser a erva em Massamá"!

«(...)
Portas foi aos pulinhos para o palco e apresentar, não promessas, mas garantias. Um verdadeiro momento de arrojo e um passo no futuro do discurso político, e a escolha do homem certo para nos dar garantias. Se há alguém capaz de nos dar garantias que não dá valor a promessas é Portas. 
O vice, e líder da fatia pequena do coligação sem nome (uma espécie de No Name Boys), começou por dizer que a originalidade da proposta começava logo no número de garantia, que eram nove. Segundo Portas, não precisavam de inventar números redondos de propostas só porque isso é o costume. Mas, por acaso, não lhe deu para fazer onze, ou treze. Ficou-se pelas nove, com a desculpa dos números redondos. Um gazeteiro é sempre um gazeteiro. Seja na reforma do Estado, seja nos desejos que o Estado se reforme. 
Depois, o vice começou a enumerar as nove garantias e senti falta que fossem doze, e que houvesse doze passas, porque aquilo eram desejos. Uma mistura entre desejos e... promessas. Uma espécie de conversa de "personal trainer" que também nos dá a catequese. Houve um momento em que o ouvi dizer "e comer batata doce e sumos de fruta". No final, quando já tudo dormitava, Portas garantiu que a reforma da Segurança Social será feita "por consenso", o que me leva a suspeitar que vamos ter de descontar para o consenso.
Depois surgiu Passos, com voz colocada, com ar de quem diz: "Chegou o pai. Eu explico o que se passa". Qual vendedor de aspiradores desata a dizer, não o que vai fazer, mas as tropelias que já fez? E descreve um Portugal absolutamente estonteante, com crescimento acima de todos os níveis europeus, desemprego a desaparecer a galope, um serviço de saúde como nunca se viu no mundo, feito com muito menos, e ficamos a pensar que fantástica deve ser a erva em Massamá
Passos não faz promessas, nem garantias. Não tem discurso escrito, nem nome para a aliança. E não tem programa eleitoral. Passos só tem campanha.(...

(João Quadros; "Que se lixem os programas eleitorais" Na íntegra: aqui. Destaque meu)

"Depois da tragédia, a farsa"

«Depois de terem burlado os portugueses nas eleições de 2011, eis que PSD e CDS, de forma despudorada, propõem-se repetir a farsa nas eleições de 2015.
Em 2011 prometeram defender o estado social, prometeram não cortar salários, prometeram não cortar pensões, prometeram combater a pobreza e prometeram uma reforma do Estado sem custos para as pessoas. Fizeram exatamente o oposto. E agora, em 2015, transformam as promessas de 2011 em garantias de 2015 e voltam a prometer tudo outra vez. Só se engana quem se deixa enganar
(João Galamba . Daqui)

domingo, 7 de junho de 2015

Uma sigla, todo um programa

Se, como tem sido dito, a ideia que a coligação Passos/Portas pretende fazer passar é a de estabilidade e continuidade, então forçoso é reconhecer que a sigla escolhida para se auto-designar traduz na perfeição o que tem sido a política seguida durante toda a presente legislatura e o que seria, se a infausta coligação não viesse a ser posta fora de cena após as próximas eleições. Com efeito, a dupla Passos/Portas não se tem poupado a esforços para pôr toda a gente à chapada. Sobre o êxito ou inêxito dos esforços, falaremos depois das legislativas. Até lá, fogo neles!
Imagem daqui


Quantas peles tem um Coelho?

Pelas contas de Pedro Adão e Silva *, que habitualmente batem certas, como me parece ser o caso, Passos Coelho já vai na sua quarta reinvenção: "homem de ruturas" na fase de candidatura ao lugar de líder do PSD, transforma-se em "candidato de mentiras" durante a campanha eleitoral que desgraçadamente o levou ao cargo de primeiro-ministro, acabando por se revelar, no exercício dessas funções, como um "homem (...) desprovido de compaixão", o mesmo que, em novo disfarce, tenta agora, em vésperas de nova campanha eleitoral, apresentar-se como um "referencial de estabilidade", ele que é o mais perfeito símbolo da instabilidade, pelo menos, para quem sofreu as consequências da sua política de austeridade do tipo "custe o que custar", traduzida em cortes arbitrários de salários e  pensões e em brutais aumentos de impostos, quantas vezes ao arrepio das normas constitucionais.
Seria de esperar que a credibilidade de Passos Coelho, que, com tanta facilidade muda de pele, andasse pelas ruas da amargura. Olhando para as sondagens que têm vindo a ser divulgadas, parece não ser o caso, o que não deixa de ser surpreendente, mesmo tendo em conta que os media, salvo uma ou outra honrosa excepção, se transformaram em agências de propaganda governamental.
Tão surpreendente é o caso que as perguntas surgem naturalmente: Que povo é este ? Que gente é esta?
(*Em crónica publicada na edição impressa do "Expresso" de ontem)

sábado, 6 de junho de 2015

Votem na avozinha

«(...)

Este Governo e esta coligação não mudaram (...) . Estão mansos, em modo eleitoral, mas são os mesmos e, acima de tudo, não conhecem outras soluções senão as mesmas que aplicaram com zelo ultratroikista. Os seus alvos não mudaram, os seus amigos não mudaram, a sua ideia de um Portugal singapuriano não deixou de existir, bem pelo contrário. A sua visão da economia tem os trabalhadores apenas como força de trabalho que deve ser barata, cordata e não fazer greves. Debaixo dos 600 milhões do PEC estão os cortes nas pensões em pagamento. Debaixo do palavreado sobre a “reforma do Estado” estão despedimentos e cortes salariais e por aí adiante. E é por isso que não há programa eleitoral: há Linhas de Orientação para elaboração do Programa Eleitoral que não são “linhas”, nem de “orientação”, nem “elaboradas”, nem “programa eleitoral”. Dizem apenas: votem na avozinha e não vejam o lobo mau por baixo do disfarce.»

(José Pacheco Pereira; "Duas pesadas heranças: a de 2011 e a de 2015". Na íntegra: aqui). Destaques meus)

Números que falam: 65% dos novos médicos ponderam emigrar

Se 65% dos novos médicos ponderam emigrar, como se conclui do estudo referido nesta notícia, tal facto tem o inequívoco significado de que se mantêm as condições que provocaram ao longo de toda esta legislatura a maior sangria de quadros técnicos e de trabalhadores qualificados de que há memória, sangria que, pelos vistos, vai continuar.
Estes números, à semelhança de tantos outros, deviam fazer corar de vergonha Passos e Portas e aconselhariam que a dupla se remetesse ao silêncio aguardando discretamente, com o beneplácito de Cavaco que nunca lhes faltou, que chegue a hora da saída de cena. 
Em vez disso vê-mo-los a andar por aí a vangloriar-se dos resultados da sua (des)governação. Vemos e não gostamos, mas não nos admiramos: o que lhes falta em competência e seriedade, sobra-lhes em descaramento.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Uma grande e trágica devastação

Pode dar-se o caso de a culpa ser minha, porque estou a ser cada vez mais selectivo nas minhas leituras, mas manda a verdade que diga que ainda não li um só comentário que conclua que  o esforço da coligação PSD/CDS para produzir um texto que viu a luz do dia com o extenso título "Linhas de orientação para a elaboração do programa eleitoral" tenha servido para alguma coisa. Por exemplo, para Bernardo Ferrão, se bem o compreendo, a coligação bem podia ter estado quieta, uma vez que não tem nada para dizer e, aparentemente, para Rafael Barbosa, também era aconselhável que estivesse calada, porque, se a intenção da coligação é "manter Portugal no 'caminho certo'", conhecidas as consequências do caminho percorrido, o melhor mesmo é não falar.
Reconheça-se que a dupla Passos/Portas alguma coisa tinha de dizer depois da apresentação por parte do PS de uma proposta de governação alternativa, considerada, por gente insuspeita, como válida e séria. 
Constata-se, porém, que linhas de orientação é coisa que no documento não há, pois não passa de um exercício de auto-elogio e propaganda que nada tem a ver com a realidade. Esta está, sim, bem documentada num excelente trabalho de Christiana Martins e Raquel Albuquerque, com infografia de Carlos Esteves, cuja leitura se recomenda e que termina com uma afirmação de João Ferreira do Amaral que não resisto a citar: "Só dentro de alguns anos teremos uma noção mais aproximada da devastação provocada pela política de austeridade na economia europeia e na economia portuguesa."
Os dados e números disponibilizados no referido trabalho não deixam, no entanto, dúvidas sobre o legado desta infausta dupla governativa: uma grande devastação. E trágica, sobretudo para os desempregados, os forçados a emigrar e os lançados na pobreza.