domingo, 19 de julho de 2009

Discurso sobre a vergonha !

O anúncio por parte de José Sócrates de que o programa eleitoral do PS vai incluir novas medidas de âmbito social, incluindo um novo subsídio para as famílias abaixo do limiar da pobreza e o reforço da rede de cuidados continuados, suscitou um amplo coro de reacções por partes das forças de esquerda, PCP e BE, (o que não deixa de ser motivo de espanto) mas também por parte dos partidos da direita (o que é mais compreensível).
O discurso de Louçã é pura demagogia porque desvaloriza todas as mediadas tomadas pelo actual Governo (e as anunciadas) no sentido da diminuição da pobreza e da desigualdade social e ao mesmo tempo centra as suas diatribes no aumento do desemprego, como se este não fosse o resultado directo da crise económica que afecta todo o globo. Louçã sabe que é assim; que tal fenómeno não é um exclusivo de Portugal; e que, pelo contrário, há países bem mais afectados por esse flagelo, incluindo alguns que nos são próximos. Como sabe também que o problema não é algo que qualquer governo possa resolver isoladamente (nem sequer o governo da maior potência mundial - os Estados Unidos) e que só a nível global poderá ser encontrada a solução, através da concertação de polítcas e de objectivos. Se o problema é global, a solução, global terá de ser. Toda a gente o sabe. Ora, Louçã não é tolo e se insiste no tema é porque o seu discurso não é sério.
O PCP não usa de maior seriedade, pois continua a acusar o Governo de ter agravado a pobreza e as desigualdades, afirmação que é contestada pelos dados apurados pelo INE que demonstram que durante a actual legislatura se verificou exactamente o contrário.
Paulo Portas, o inimigo número 2 (lugar que lhe cabe, depois do avanço de MFL ) das medidas de política social tomadas pelo Governo, designadamente no âmbito do rendimento mínimo, arma-se em futurólogo e prevê que as promessas feitas pelo primeiro-ministro não são para cumprir, ao mesmo tempo que se arroga o mérito da redução da pobreza em Portugal, esquecendo-se, decerto, que a redução da pobreza se verificou não enquanto ele esteve no Governo com Durão Barroso e com Santana Lopes, mas durante a actual legislatura. Aliás, foi em 2003 que se atingiu o recorde de desigualdade quando a direita (CDS e PSD) estava no poder. Factos são factos e não conversa fiada, matéria, em que P. Portas, pedindo meças a qualquer outro, ganha.
No entanto, quem vai mais longe é M. Ferreira Leite (who else?) porque não só repete a acusação de Paulo Portas, mas indo mais longe, considera uma vergonha o anúncio do primeiro-ministro.
Ora, como bem diz José Sócrates "o dever de um líder político é fazer propostas e apresentar o seu programa, e não esconder as propostas" e vergonha é, digo eu, esconder as suas propostas ou ideias, com receio de serem copiadas (como faz, ou diz fazer MFL) ou dizer hoje uma coisa e amanhã outra. O "rasga/não rasga" é já, reconhecidamente, a marca de MFL e a atitude de esconder (o quê, falta saber) é ela, sim, uma vergonha e ao mesmo tempo a prova de falta de ideias (sérias e consistentes).

2 comentários:

Quint disse...

Objectivamente, gostava de entender onde está a legitimidade para se opor a que, num quadro de enormes dificuldades, se proponha que as famílias com menor rendimento tenham um apoio como o agora proposto por José Sócrates.
E ainda desde quando está este inibido, na sua qualidade de governante que aspira a ser reeleito, de poder propor medidas?
Se as mesmas são exequíveis ou não, é questão diversa agora que todos queiram que também neste domínio a José Sócrates se apliquem princípios diversos daqueles que se aplicam aos restantes actores da cena política é que me causa espanto. Pela lata, essencialmente.

Francisco Louçã tem sido recorrente neste tipo de linguagem e até no recurso aos famosos “sound bytes” que alguém à sua direita popularizou. Veja-se que até Pacheco Pereira lhe elogia os cartazes!
Contudo, ouvindo-o fica-se sempre com a dúvida se é sério nas intenções já que nas premissas o não é. Penso que não. Louçã mostra e dá sinais que gostaria de levar o PS a um ponto tal de erosão que depois lhe permitisse a ele e ao BE ditarem as regras sem contudo terem de assumir responsabilidades. Esta a verdade das coisas e daí a retórica. Sibilina, assertiva e feita de causas aparentemente modernas.

O PCP, que tradicionalmente prefere um governo de Direita, a ter de fazer uma só concessão que seja ao PS, mantêm-se a cartilha e reforça-a pois tem ali a morder-lhe os calcanhares o BE. De certa forma, competem ambos entre si na afirmação de guardiães da Democracia, da Liberdade, da Justiça Social sem que, contudo, se vislumbre no PCP alguma capacidade de abdicar dalgumas coisas em nome do interesse nacional com que tanto enchem a boca.

Ao PP estranha-se apenas o discurso pois quem tanto enche a boca com os reformados, a lavoura, os espoliados e afins também devia apontar baterias aos sectores da sociedade que têm beneficiado destes novos apoios sociais. Contudo, opta claramente por tentar captar votos através da associação entre a vadiagem e a gatunagem e quem recebe o Rendimento de Inserção Social, por exemplo.
Para o PP, nada mais fácil que afirmar que todo e qualquer português que recebe um apoio social desta natureza é um malandro. Já não é o um sócio-gerente duma PME.
Porquê?
Porque estes estão organizados e aqueles não. E, em Portugal, já se sabe que quem está organizado costuma ser um poder mais ou menos temido pelos decisores políticos.

Quanto a Ferreira Leite está quase tudo dito. Visto é que ainda não, mas isso é outra conversa.

fortix disse...

Primeiro tira. Depois quer dar. Não está mal... como "promessa"... :)