quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Haja calma !

Face à declaração que Cavaco Silva dirigiu ao país, através da comunicação social, é lícito deduzir que não lhe passa pela cabeça resignar. Problema dele e do país. Tal não impede, obviamente, que, pessoalmente, não continue a considerar que o seu comportamento no "caso das escutas" revela que não tem, nem a isenção, nem as qualidades exigíveis para o exercício do cargo que ocupa, como já disse. A sua comunicação ao país, é, do meu ponto vista, a prova cabal.
Tal opinião, no entanto, não me leva a imaginar, sequer, que Cavaco Silva possa tentar levar a cabo algum "golpe", como o José Teles aqui admite. E por duas razões:
Primo: se a tal se atrevesse, Cavaco Silva não precisava que alguém o tentasse "encostar" ao PSD. Era ele próprio quem se "encostava" e nunca mais recuperaria a sua credibilidade, mesmos para os seus crentes;
Secundo: Cavaco Silva, afirmam os comentadores, é um institucionalista e, como tal, é impensável que desse um tal passo, pois, além do mais, não quererá passar à história como o primeiro e até agora único presidente desrespeitador da Constituição da República.

Isto disto, passo a outro ponto que se prende com o futuro próximo.A notícia de que o "Presidente marcou para amanhã audiência com secretário-geral do PS" tem dado origem a algumas interrogações sobre o próximo futuro e é este o ponto que de que agora me ocupo, para dizer:

I. É evidente que as relações pessoais entre Cavaco Silva e o actual primeiro-ministro atingiram um ponto de não retorno, pese embora a contenção e o sentido de Estado de que José Sócrates deu provas e continua a dar;

II. Tal facto, no entanto, não me parece que constitua nenhum drama, pois o importante é que as instituições democráticas funcionem e tenho como certo que a natureza da relações pessoais, sejam elas boas ou más, entre os titulares de órgãos de soberania, ainda que não seja irrelevante, não impede o regular funcionamento das instituições, pois este é assegurado pelo acatamento e observância das regras constitucionais. Por isso, digo: haja pois calma!

Adenda:

Por muito impossível que a mim me pareça, a hipótese de Cavaco Silva não vir a indigitar José Sócrates como primeiro-ministro do próximo Governo é discutida aqui, citando opiniões de vária proveniência. Insisto, pelas razões acima adiantadas, que não vale a pena criar efabulações sobre a questão.

5 comentários:

Anónimo disse...

O "Palavrossaurus" nada tem a ver com isto, mas eu, como leitora dele e embora duvide que venha a ser publicada, aqui, lhe deixo um pouco de água para ajudar a lavar este local ou então arejar:

"Imaginemos que Cavaco procedera com cálculo eleitoral objectivo, aquando do seu silêncio prolongado na matéria das escutas e que, por omissões sucessivas, manifestara gravosa inépcia e inabilidade na gestão de tal problema obscuro, agravando-o numa escalada de fragilização da prórpia Presidência. Mesmo assim a verdade é só uma: os coiotes e as hienas do sistema político português logo se apressaram a senilizar o Presidente, eliminando-o politicamente, abatendo-o sem apelo nem agravo. Hoje aparece completamente isolado, alvo do escárnio de Ana Gomes, o que é lisonja, alvo da devastação argumentária de variados Filipe Tourais, objecto dos insultos sibilinos do Governo, contestado e autopsiado por qualquer blogger e blogue engajado como este, e é assim que o grande combatido e desprezado de Mário Soares aparece confinado na cena política portuguesa, passando ele pelo exclusivo urdidor de conjuras, pelo único perturbador do "normal" funcionamento da "democracia". Na verdade, o trunfo dos porcos vigora claramente em Portugal. Saem a perder os menos calculistas e menos capazes de perfídia. Saem a perder os detentores de uma rectidão rara, apesar de todos os defeitos e défices políticos. Nunca se leva a melhor, neste mundo de homens, em relação àqueles que vivem do lodo e para o lodo moral. Podem pois rafastelar-se no esgoto e no reles os que hoje desqualificam e apodam de zaranza Cavaco Silva: «É o primeiro encontro de Cavaco Silva e José Sócrates depois das eleições e da troca de acusações em torno do chamado caso das escutas.»
Publicada por joshua em 9:21 AM 0 comentários
Etiquetas: Cavaco Silva, escutas "

Pelo menos é outra perspectiva, gostei muito daquela de o escárnio de Ana Gomes ser um elogio, embora discorde que tamanha nojeira se possa transformar num cristal, mas que há milagres, lá isso há.
(Anabela)

Francisco Clamote disse...

Se se delicia com o que escreve o Palavrossaurus, só tenho que a felicitar. E por aqui me fico.

Anónimo disse...

Um conselho amigo! Feche a loja! Razões? Estão à vista. Mas que tempo mais mal empregado!

Um leitor amigo

Francisco Clamote disse...

Caro anónimo:
Agradeço-lhe o conselho, tanto mais que é feito em nome da amizade.
As razões é que eu não as vejo e, por isso, não seguirei o conselho dado com tanta boa vontade. Como deve compreender, cada um "emprega o tempo2 com muito bem entende. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Por mais que se remende e se diga que a colaboração institucional vai vencer, a verdade é que Cavaco a matou e só houve uma ressurreição em que muita gente acredita e eu não.
Zé Mário