Se não me faltam motivos para maldizer a acção dos actuais governantes, a começar na insensibilidade perante o sofrimento dos mais pobres e a acabar no servilismo perante os ricos e economicamente poderosos, a verdade é que o que neles mais abomino é a hipocrisia de que dão provas. Sirva de exemplo o ministro topa-a-tudo que dá pelo nome de Miguel Relvas, ministro que é aqui chamado tão só porque é exemplo mais recente. Com efeito, a Relvas é atribuída a afirmação de que os desempregados "Estão todos os dias nas nossas preocupações e nós não arranjamos desculpas, ao contrário de outros. Se há circunstância que nos tira o sono verdadeiramente, são os números alarmantes do desemprego".
Relvas, num só fôlego, consegue a proeza de fazer um duplo exercício de hipocrisia.
É hipócrita quando diz que o desemprego lhes tira o sono, porque, se fosse esse o caso, é evidente que o governo não teria seguido a política de austeridade do tipo "custe o que custar", porque era (e é) sabido que tal política não podia ter como resultado outro que não fosse o do aumento galopante do desemprego. Como está provado. Relvas por sinal, não tem cara de mal dormido. Bem pelo contrário.
E não é menos hipócrita quando afirma que "nós não arranjamos desculpas, ao contrário de outros", porque se há aspecto em que este governo se distingue dos anteriores é precisamente porque não assume as próprias responsabilidades e gasta boa parte das suas (fracas) energias em arranjar e alimentar o bode expiatório.
Têm, aliás, reconheço, boas razões para isso, porque o bode expiatório é sua única tábua de salvação. No dia em que os portugueses conseguirem abrir os olhos, por entre a poeira lançada na e pela comunicação social, muito cuidado devem ter com a própria pele.
1 comentário:
Sempre o maldito discurso da "pesada herança"...
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