sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

«Uma mensagem para não ficar na história»?


"Uma mensagem para não ficar na história" é o título dado ao editorial do "Público" de hoje, texto em que é comentada a mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva. A esse título acrescento eu um ponto de interrogação.  Se assim procedo não é por discordar  da substância do editorial que não me custa nada subscrever. De facto, «Ao ouvinte atento, ele [o discurso] surgiu mais como uma colagem de frases dispersas, sem uma centelha acrescida de clarividência ou esperança. Deixando de parte dispensáveis clichés ou banalidades absolutas (como a de que "Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer" e "esse caminho deve ser feito em conjunto"; ou a de que "não nos podemos deixar abater pelo desânimo nem cultivar o pessimismo. Devemos olhar o futuro com confiança renovada"), o discurso não é sequer um arrumar da casa.»
Não obstante a concordância de fundo, discordo do título, porquanto considero, ao contrário do editorialista, que a mensagem de Cavaco merece ficar na história, que mais não seja, como prova da colagem e da subserviência de Cavaco Silva perante o governo de direita de que ele foi o principal promotor e que tem beneficiado continuamente do seu indisfarçável apoio, a pontos de se poder considerar que ele, Cavaco, nas piores horas, foi mesmo o seu único amparo.
Não admira, por isso, que, desde há muito, a maioria dos portugueses tenha a noção de que Cavaco não tem a postura exigível a um Presidente da República. Em vez de Presidente de todos os portugueses, à semelhança dos seus antecessores que sempre cultivaram essa imagem, Cavaco comporta-se como chefe de facção. A mensagem de Ano Novo vem confirmar de modo iniludível, essa ideia.
A postura de Cavaco face ao governo de direita e a parcialidade com que vem exercendo as suas funções, ao arrepio do que estatui a Constituição, chega a atingir foros de verdadeiro escândalo. De facto, na ânsia de apoiar o "seu" governo, agora que se aproxima a data da realização das eleições legislativas, Cavaco chega a ir mais longe do que o primeiro-ministro no desenhar de um futuro risonho: onde Coelho se limita a ver um futuro sem nuvens, Cavaco já consegue vislumbrar um céu radioso.
E termino como comecei: «Uma mensagem para não ficar na história»? Não. Prefiro antes: "uma mensagem para ficar na história". Porquê? Porque é uma vergonha.
(Reeditada)(Imagem daqui)

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