segunda-feira, 21 de setembro de 2015

"A prova da ficção dos factos" (I)

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«Na política, verdade e mentira deixaram de ser opostas. Não faz diferença. Paciência. Mas a rubrica Campanhas de Ficção procura a verdade, principalmente se ela nos engana.

A frase I

Eu não sou um homem perfeito.” Passos Coelho, Março de 2015, algures na Península Ibérica, Europa, Planeta Terra, Sistema Solar.

O contexto
Isto foi dito, salvo erro, na altura em que o cidadão Passos Coelho soube, com espanto e amargura, que o actual primeiro-ministro tinha passado vários anos sem pagar as contribuições da Segurança Social. A essa informação inesperada juntou-se o aviso de que o jornal PÚBLICO descobrira o assunto e o ia divulgar. Só teve tempo de se calçar e correr para uma fila da Segurança Social às seis da manhã, como milhares de portugueses desempregados. Mas, em vez de pedir para lhe darem dinheiro para viver, teve de suplicar para o deixarem pagar a dívida, sobrevivendo na política.

Os factos
Pela segunda vez na vida, Passos Coelho admitia uma falha do seu intrínseco valor humano. Ele não é perfeito. Foi igual ao choque do dia em que Filipe la Féria o chumbou num casting de musical romântico. Mas a nota da sinceridade na imperfeição saiu-lhe afinada. Desde então, é perfeito outra vez, até enjoa tanta perfeição condensada num só homem neste mundo conturbado. A frase liga-se, como se sabe, à sua irmã gémea: “Não me lembro.” Quando Passos não sabia se a Tecnoforma lhe pagava ou não dinheiro todas os meses, não declarado, que acumulava com um trabalho em “regime de exclusividade” como deputado da nação.

Em resumo
Desde este “minuto de imperfeição”, Passos fala sem problemas sobre simplicidades como plafonamento vertical e horizontal da Segurança Social. E esta semana, no “debate decisivo” nas rádios, conseguiu entalar António Costa sobre mil milhões nos cortes das prestações sociais, se seria nas mínimas, nas máximas, e nos regimes contributivos, e não sei que mais, ah, e na “condição de recursos”, é isso mesmo, a condição de recursos, uma coisa que — vão-nos desculpar porque nós é que somos verdadeiramente imperfeitos — não entendemos patavina.»

1 comentário:

Jaime Santos disse...

Maldito Filipe de La Féria! Tínhamos ganho um barítono medíocre e perdido um político aldrabão consumado...