quarta-feira, 2 de setembro de 2015

"Afasta-se e pressiona": nova versão da quadratura do círculo

Autor da proeza, desta feita, o DN.
"Governo afasta-se e pressiona Banco de Portugal a vender antes de arrancar a campanha eleitoral" escreve o Diário de Notícias.
Sabe-se (e não há forma de o negar) que o governo de Passos Coelho, foi, em última instância, o único responsável pela decisão que pôs termo à existência do BES. Como, obviamente, não podia deixar de ser. 
Sabe-se igualmente que tal governo que, entre outros lamentáveis hábitos, também tem o de sacudir, por sistema, a água do capote, não fugiu, uma vez mais, à regra de se eximir às suas responsabilidades. A tarefa, neste caso, reconhece-se, até foi facilitada pela existência de um bode expiatório predisposto, à partida, a carregar com as responsabilidades alheias: o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, entretanto, reconduzido no cargo, prova de que, em Portugal, o poder até não é mal agradecido.
O facto de a narrativa do governo de Passos et al. ser falsa, a todas as luzes, não impediu que ela tenha feito o seu caminho na comunicação social. A notícia acima citada é prova disso. Quem a redigiu, ao escrever "Governo afasta-se", engole por inteiro a versão governamental, sem se dar conta de que entra em completa contradição quando adianta que o mesmo governo "pressiona o Banco de Portugal".
É evidente que uma tal notícia enferma do mal que afecta grande parte da comunicação social portuguesa. Por uma razão ou outra, os media, na sua maioria, transformaram-se em meros repetidores acríticos do poder. Que tal aconteça, em abstrato, já é mau. Com um governo de gente como esta, com enorme vocação para a aldrabice, não só é mau. É péssimo.
[Imagem (Coelho - vê-se bem - a pressionar ao longe!) daqui.]

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