quinta-feira, 2 de julho de 2009

As mordaças de Rangel

O debate sobre o Estado da Nação ficou marcado por dois factos gravíssimos: um que mereceu amplo destaque por tudo quanto é comunicação social e também por parte da blogosfera - o gesto de Manuel Pinho. Tal gesto teve na hora a sanção merecida (como aqui se sugeriu): Manuel Pinho já não é ministro da Economia.
O outro, a que atribuo não menor importância, foi o ataque lançado pelo deputado Rangel contra Henrique Granadeiro por este ter vindo a público lembrar "as tentativas de intervenção do governo PSD na Lusomundo Media que levaram à [sua] demissão" e recordar "que foi um executivo social-democrata (era Manuela Ferreira Leite ministra das Finanças) que obrigou a PT a comprar a rede telefónica fixa, que pertencia ao Estado, para realizar receitas extraordinárias que permitissem equilibrar o défice das contas públicas".
Factos são factos e as palavras de Henrique Granadeiro serviram para provar que a "política de verdade" que o PSD proclama é, de facto uma política de hipocrisia. Nesse sentido prestou um excelente serviço ao país !
Isto digo eu, que aceito também que Rangel e o seu partido não tenham apreciado particularmente as declarações de Henrique Granadeiro, pondo a claro a inconsistência do discurso sobre a verdade de Manuela Ferreira Leite (e não só).
Aceito isto, mas já não aceito que Rangel se atribua a prerrogativa de, usando a tribuna da Assembleia da República, vir atacar um cidadão português que deu a conhecer ou recordou factos de que ele próprio tem conhecimento, fazendo-o no pleno uso do seu direito de cidadania.
Já se sabia, pelas palavras de Manuela Ferreira Leite que, para o PSD, (ou, ao menos, para ela) a democracia tem dias (nos meses em que não se suspende). Com Rangel ficamos também a saber que, para o PSD, (ou, ao menos, para ele) a liberdade de expressão é relativa. Pelos vistos, na óptica rangeliana, nem todos os cidadãos deste país têm o direito de se exprimir livremente. Nem mesmo quando as afirmações produzidas correspondem à verdade, como foi o caso. (Por muito que MFL desminta, os documentos vindos a público não deixam dúvidas sobre isso. E isso é que lhes dói !)
Este episódio faz-me recordar um outro anterior em que Rangel falou em mordaças, não se percebendo a que propósito, pois mordaça o cavalheiro não usa. O ataque a Henrique Granadeiro (repito: desencadeado a partir da tribuna da Assembleia da República, tal a sua importância) lança finalmente luz sobre a questão. Rangel falava do que sabe: quem tem as mordaças, pelos vistos, é ele!
Espero, sinceramente, que nunca, mas nunca na vida, a rangeliana figura tenha a oportunidade de as usar. Nem a ousadia, porque, seguramente, teria resposta pronta por parte dos que prezam a liberdade a todo o custo. Somos muitos e chegamos para ele !

6 comentários:

Anónimo disse...

Esta história provavelmente está mal contada.

Granadeiro era o presidente da PT?

Foi obrigado, obrigado a comprar por tuta e meia uma coisa valiosíssima que o Estado lhe deu à sua empresa que tinha que fazer ou botar figura perante os seus accionistas!!!???

Compra uma fortuna por uma bagatela e agora vem dizer que foi obrigado?!
Não gostei nem aprovo a venda se, de facto, foi significativamente abaixo do preço real.
Se o preço não era justo e se não era correcto o que estava a ser feito, esse senhor deveria, nessa altura, ter resistido e que me lembre , nessa altura ficou CALADINHO, a guardar o taxinho ou a cadelinha que lhe garantia a mama.
A MFL e o rangeliano não me merecem nestes casos grande estima, mas não me venham defender granadeiros assim, eles não merecem por certo apreço, mas claro, ainda bem que exercem o seu direito a usar da palavra e a emitir opinião porque assim a gente começa a conhecer por que razão andou tantos anos a pagar os telefones mais caros da Europa.

Sim é com gente assim cavalgando com empresas majestáticas sobre o povo e exaurindo-lhe os seus tostões que estes figurões se permitem endireitar agora a espinha depois de a haverem vergado sabe-se lá perante quem.
Que venha o diabo e que escolha, senhores!
Cumprimenta, afectuosamente,
Abel Dias Fragateiro

Francisco Clamote disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francisco Clamote disse...

O diabo não é para aqui chamado ! Quem foi chamado foi Rangel um "democrata" com aspas. E, mesmo assim, já é favor cá da casa.Cumprimentos afectuosos retribuídos !

Quint disse...

O Rangel anda inchado ... ontem e hoje anda por aí a semear que foi ele, sim ele o primeiro a exigir que o Pinho se demitisse!
O tipo anda nitidamente deslumbrado e pode ser que lhe lhe saia o tiro pela culatra.

Quanto ao amor pela liberdade de expressão e Democracia estamos conversados.

Francisco Clamote disse...

Que anda inchado, nota-se bem. Se não se cuida, ainda rebenta !

Anónimo disse...

Não percebi se o "favor cá da casa" se refere à referência ao diabo ou às considerações tecidas e bordadas sobre GRANADEIRO.

Realmente invocar "o diabo" para escolher é, de facto, uma blasfémia.

Inclino-me para a 1ª hipótese.
Porém se se refere às considerações sobre Granadeiro recordo as suas palavras:
«Factos são factos e as palavras de Henrique Granadeiro serviram para provar que a "política de verdade" que o PSD proclama é, de facto uma política de hipocrisia. Nesse sentido prestou um excelente serviço ao país !Isto digo eu, que aceito também que Rangel e o seu partido não tenham apreciado particularmente as declarações de Henrique Granadeiro, pondo a claro a inconsistência do discurso sobre a verdade de Manuela Ferreira Leite (e não só).»

É que a valia das afirmações proferidas por estas personalidades terá de ser aferida com os seus actos e suas consequências.
Se os actos apontam para nada ou algo de pouco relevante ou até para refinado fariseismo, essa só poderá ser a medida padrão do mérito da intervenção.
Cumprimentos.
A D Fragateiro