As novas medidas para redução do défice e para consolidação das contas públicas estão aí, repartindo-se entre as destinadas à redução da despesa do Estado e as tendentes à obtenção de maior receita, pela via do aumento dos impostos.
Raros são os comentadores que não concordam com a necessidade de serem tomadas as medidas anunciadas, mas não falta quem acuse o primeiro-ministro e Governo de terem mentido quando, ainda há poucas semanas, afiançavam que não haveria aumento de impostos.
Confesso a minha perplexidade perante tais acusações, pois partem do pressuposto de que o primeiro-ministro e o Governo português tinham a obrigação de prever o que ninguém mais previu. No caso, o descalabro das contas públicas da Grécia e, na sequência, a baixa de notação da dívida soberana portuguesa e espanhola e o ataque especulativo contra o Euro que se lhe seguiu, factos que tornaram imperiosa a tomada de medidas pela generalidade dos países europeus para pôr termo àqueles ataques e que passaram pelo acordo alcançado no último Conselho Europeu e pelas medidas excepcionais nele tomadas.
Diga-se que se a acusação fosse justificada e séria, então a acusação teria de englobar todos os dirigentes partidários, pois não me recordo de ter ouvido nenhum deles defender, durante a campanha eleitoral, o aumento de impostos. Pelo contrário, recordo-me de, ainda antes da aprovação do Orçamento de Estado, termos assistido à formação, na Assembleia da República, de uma coligação de todos os partidos da oposição, a tomar decisões implicando aumento da despesa e diminuição da receita. E também me lembro de ter ouvido o actual líder do PSD (agora solidário com o Governo na tomada destas medidas) afirmar que não se sentia comprometido com as medidas incluídas no PEC negociado com a anterior direcção do seu partido, medidas que eram, todavia, menos graves do que as ora anunciadas.
Tudo isto me parece inquestionável. Não obstante, os críticos não se ficam por aquela acusação e passam, com a maior das facilidades, à afirmação de que José Sócrates vive em "estado de negação".
E eu pergunto:
Negação de quê ? De que o país enfrenta graves dificuldades, à semelhança de todos os países europeus ? Nunca o ouvi negar essa realidade e a verdade é que se tenta passar uma mensagem de optimismo, mais não faz do que a sua obrigação. Para alimentar pessimismos já bastam os profetas da desgraça que por aí não faltam.
Em estado de negação vejo eu muita gente que não aceita, de bom grado, dar a sua contribuição para a resolução do problema, como se este não fosse da responsabilidade do colectivo nacional, como de facto é. E em estado de negação estão também os mesmos críticos que se recusam a reconhecer como importante o facto de se ter apurado no último trimestre, segundos os dados do INE, um aumento de 1% PIB, muito superior aos dos nossos parceiros europeus. Se isto não é estado de negação, é o quê ?
1 comentário:
É melhor não dar atenção ao mundo.
Esta manhã ouvia eu um alguém que não identifiquei dizer na Rádio Comercial que não se sabe quem governa, porque em vez de as medidas serem tomadas no Conselho de Ministros eram tomadas com o presidente da oposição...
Provavelmente há um mês este mesmo criaturo reclamava por o governo não ouvir a oposição...E não dar força às medidas necessárias chamando o maior partido da oposição...
Haverá muitos gemidos?...Num país de gemebundos como este o contrário é que era estranho. E quem mais perora não é, normalmente, quem tem mais razão.
Deixá-los falá-los.
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