quinta-feira, 2 de junho de 2011

Razões simples

Duas razões simples, porque não tenho nenhuma razão especial para votar PS, nem nenhum interesse pessoal em tal opção. Anseio sim por um Governo justo e solidário e o melhor para o meu país.
Mas passemos às razões: 
A primeira deriva do facto de constatar que, nos últimos seis anos, os governos do PS fizeram reformas muitíssimo importantes, não obstante as muitas dificuldades que tiveram que enfrentar e os vários obstáculos que tiveram que ultrapassar, umas e outros com origem, quer na Presidência da República, quer nos partidos da oposição, quer nas "corporações profissionais". Reformas que, por sinal (e este é o aspecto para mim mais relevante) foram apostas baseadas numa visão de futuro e apostas certas: no domínio da educação e da ciência (áreas onde nunca se investiu tanto e com resultados que só não vê quem não quer, designadamente, no alargamento da rede de creches, do alargamento ensino pré-primário, na diminuição do abandono escolar, no aumento exponencial do número de doutorados etc. etc.); na qualificação dos portugueses em geral, através das "Novas Oportunidades"; nas novas tecnologias, através do plano tecnológico, tendo como resultado a generalização da banda larga, a informatização das escolas e demais serviços públicos permitindo o acesso on line aos cidadãos); nas energias renováveis (eólicas e novas barragens, cuja produção não só  permite a diminuição das importações de combustíveis fósseis e uma menor poluição, mas também contribui para uma maior independência energética); na Segurança Social, cuja reforma veio garantir a sua sustentabilidade; na protecção dos idosos e dos mais carenciados (Rendimento Social de Inserção e Complemento Solidário para Idosos); na área da Saúde, com especial destaque para a criação dos Cuidados Continuados; e, para não me alongar, que para mim é quanto basta, falarei  na simplificação administrativa, que através do "Simplex", muito contribuiu para facilitar a vida aos cidadãos, nas suas relações com os organismos públicos.
Poder-se-á contrapor que os Governos do PS não conseguiram evitar o pedido de "ajuda" externa. É verdade, mas a réplica até é fácil: i) a crise económica internacional que afectou e afecta a economia mundial não nasceu em Lisboa, mas nos Estados Unidos, donde alastrou para todo o mundo desenvolvido, nem a crise da dívida soberana teve origem em Portugal, mas na Grécia; ii) e se o Governo tem responsabilidade na situação a que se chegou, a  responsabilidade das oposições não é de menor grau, pois convém lembrar que, durante a actual legislatura, tivemos dois Governos, o do PS, com apoio minoritário Assembleia da República, que agia ou tentava agir, e outro formado pelas oposições que, dispondo da maioria na Assembleia da República frequentemente se concertaram para  anular ou boicotar a acção do Governo. Foi, aliás, essa acção concertada que esteve na base da queda do Governo, tornando inevitável, pela subida das taxas de juro e da baixa do rating da República, a  vinda da "troyka".
A outra razão ainda é mais simples:  é José Sócrates. O político que, tendo sofrido ataques de toda a ordem, com uma insistência e uma virulência nunca vista, ao longo dos últimos anos, incluindo no rol dos ataques, as maiores calúnias e imputações (vindas de gente sacana, mas nunca provadas) e os maiores insultos, mesmo assim não desistiu, é o único com têmpera e com capacidade para nos tirar do "buraco" em que fomos lançados pela "gula dos mercados" e pela irresponsabilidade de todas as oposições. Sem excepção e sem perdão. 
Ao invés, apesar de ter a seu favor tudo quanto é comunicação social, hoje completamente dominada pela direita, comunicação social que mais que enaltecer as qualidades do líder do PSD, porque não as consegue inventar, se dedica, com particular afinco, não recusando lançar mão dos meios mais obscenos, para denegrir  os adversários do PSD e José Sócrates, muito em particular,  Passos Coelho não me convence. Sendo um inexperiente e tendo já dado abundantes provas de inconsistência, o que me leva a crer que não resistirá aos primeiros "encontrões", que são mais que certos, com ele na liderança do Governo, o naufrágio é certo. Mais uma razão para não votar nele. É que, embora já tenha à mão o colete de salvação, não gosto de água fria. 

4 comentários:

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Mais ou menos o que penso. Abraço.

Francisco Clamote disse...

Sofia, agradeço a visita e o comentário. E, claro, retribuo o abraço.

jota disse...

A primeira razão parece-me um boa razão, mas se tanta gente contesta o Governo PS não deve ser só porque as Oposições os convenceram perfidamente.

Muita gente viu o Governo a abrir os "cordões à bolsa" antes das eleições de 2009 quando a economia mundial estava a começar a entrar me crise. É um facto incontornável o crescimento do endividamento público. Lamento ter que dar razão nesse ponto à Manuela Ferreira Leite.

Tal como lamento dar razão ao Santana Lopes na questão das Scuts. Em 2005 eu não percebi o peso que elas iam ter nas contas públicas.

Pode ter razões simples para votar PS, mas talvez valesse a pena assumir que também existe um lado negativo na Governação PS. Até para puder corrigi-la.

Peço desculpa pela ousadia.

Francisco Clamote disse...

Caro Jota:
Tem razão no que se refere ao "abrir os cordões à bolsa". O PS, no entanto, não fez mais do que aquilo que fez o PSD em anteriores oportunidades.Cavaco é até o expoente máximo nessa matéria. Tal não significa que aprove o abrir os cordões à bolsa, nas vésperas de eleições, mas não me parece que esse facto me permita relativizar tudo o resto.
Bom e por falar nas SCUTS, que não começaram com os Governos do PS, recordo-lhe que, na altura, foram recebidas com aplauso geral. A contestação só surgiu agora, devido aos apertos orçamentais.
Finalmente, não tenho dúvidas que o PS cometeu erros e conheço alguns outros que não refere no seu comentário. Quem os não comete? A minha apreciação global, no entanto, é altamente positiva. Se o PS vai ou não corrigir os erros, só lhe posso responder que não sei se sim, nem quando.
Desculpar a sua ousadia? Mande sempre, meu caro.