Há por aí quem tente branquear as responsabilidades do Bloco de Esquerda (BE) e do PCP na subida da direita ao poder, mas a tarefa não se adivinha fácil. Pelo menos, para os eleitores que transformaram o BE no novo "partido do táxi", essas responsabilidades foram óbvias e os factos estão aí para o confirmar. Inútil como parceiro duma solução governativa à esquerda, o Bloco revelou-se, isso sim, um aliado precioso da direita, não só porque tomou o PS como inimigo principal, ao longo das duas legislaturas, mas também porque não hesitou em conluiar-se com a direita, em mais do que uma ocasião, acabando por lhe escancarar as portas do poder.
É verdade que Louçã, na sua megalomania, ainda ensaiou, por mais que uma vez, o número de ser ele a liderar um Governo de esquerda, mas faltando-lhe o poder de fazer o milagre da multiplicação dos pães, (neste caso, melhor diria dos votos) ninguém o podia levar a sério. E não levou, como se viu.
Ao contrário do Bloco, o PCP, que tem tanta responsabilidade quanto o Bloco no desfecho do acto eleitoral de ontem, acabou por não ser penalizado. Não é, no entanto, difícil encontrar uma explicação. É que o PCP tem uma forte implantação no mundo do trabalho e domina boa parte dos sindicatos. Os eleitores contam, pois, com ele para sustentar a contestação social contra as medidas radicais que já se sabe que o Governo da direita vai tomar. O Bloco, porém, não tem apoio no mundo laboral e, por isso, em sede de contestação social, pouco ou nada conta. Além da retórica e da megalomania de Louçã, o BE nada mais tem para oferecer e este ponto fez e faz toda a diferença.
Não me admiraria, por isso, se o resultado das eleições de ontem vier a revelar-se como o princípio do fim do Bloco e também não me custa admitir como provável que Louçã, embora a contragosto, já tenha começado a redigir a certidão de óbito. A confirmar-se o" infausto" acontecimento, confesso que não derramarei uma lágrima.
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