quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sem um mínimo de vergonha

Manifestamente, não estou em condições de  saber se os termos do memorando foram o que foram em resultado da situação fragilizada em que o país porventura se encontrava, como agora defende o ministro Gaspar.
Há, no entanto, mais umas quantas coisas que também não percebo.
Por exemplo, não compreendo como é que o ministro Gaspar pode fazer uma tal afirmação sabendo-se que faz parte de um governo de coligação formado por dois partidos que não só participaram na negociação das condições do memorando, como pressionaram e saudaram a vinda da troika encarada então por eles como a única forma de resolver as dificuldades por que o país passava.
A afirmação de Gaspar, que implicitamente trata os membros da troika como um bando de malfeitores que se aproveitaram da situação de fragilidade do país é ainda mais surpreendente, vinda de quem vem.
De facto, não é ele considerado, até internacionalmente, como um "ministro da troika" ? 
E, porventura, não aceitou ele, enquanto ministro das Finanças, executar o memorando nos termos acordados?
E, por sinal, não é ele, um dos principais responsáveis pela política do "ir além da troika" em matéria de austeridade? 
De modo que as palavras de Gaspar só podem ser vistas como uma forma de escamotear as suas próprias responsabilidades e as do governo de que faz parte na situação de desastre a que a política seguida conduziu o país.
E, sim, também revelam que Gaspar, para não destoar do primeiro-ministro deste governo, também não tem um mínimo de vergonha. 

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