Depois de pretensamente acautelada a sua retaguarda, combinada a versão a divulgar por Coelho e pela Tecnoforma e conhecida a decisão da PGR no sentido de não meter o bedelho no assunto, Pedro Passos Coelho estava, finalmente, em condições de, com alguma segurança, vir prestar declarações sobre o seu relacionamento com a Tecnoforma e a ONG que lhe estava associada, o chamado Conselho Português para a Cooperação. Curiosamente, essas declarações coincidem, no essencial com versões postas a circular ainda na véspera, por jornalistas, pelos vistos, bem informados, como o Ricardo Costa
Passos Coelho, depois de afirmar durante largos dias de que não se lembrava do que se tinha passado, veio agora declarar, por inspiração sabe-se lá de quem, que se limitou a receber despesas de representação.
É verdade que continua sem dizer de que quantias se trata, mas para quem deu mostras de sofrer de graves lapsos de problemas de memória, há que ter alguma paciência e esperar que, com tempo outros pormenores venham a surgir..
É, outrossim, verdade que Pedro Passos Coelho não aceitou o repto que lhe foi lançado no sentido de permitir o levantamento do sigilo bancário relativamente às suas contas, para que não subsistissem quaisquer dúvidas sobre a veracidade das suas afirmações.
A recusa, sem concessões por parte de Coelho, é a prova provada, segundo algumas mentes mal intencionadas, de que as declarações de Passos Coelho são uma aldrabice de fio a pavio.
Concedo que, atentos os antecedentes do sujeito que fazem com que ele seja tido na conta de um aldrabão profissional e de um trampolineiro de alto coturno, as pessoas possam ser levadas a fazer um tal julgamento, mas um juízo dessa natureza é, neste caso, profundamente errado.
Permitam-me que me explique:
Logo á cabeça, pergunto, sob que o pretexto, é que se poderia exigir a Passos Coelho que fizesse "streap- tease" em público? Não era isso o que lhe era exigido? Logo com esta simples observação somos levados a concluir que Coelho recusou e recusou muito bem.
Há, porém, algo muito mais importante a alegar em abono da recusa de Passos Coelho. Este, como se sabe, ao fazer as revelações sobre as despesas de representação não se esqueceu, como lhe cumpria, de enaltecer as suas (muitas) qualidades e, dentre elas, a sua modéstia. Ora foi esta virtude, que ele possui em altíssimo grau, que o impediu de autorizar que fossem vasculhadas as suas contas. E por que razão, perguntar-se-á? Pela razão simples de que por essa forma ficar-se-ia a saber que ele na distribuição de dinheiro pelos pobres e necessitados é um autêntico émulo da (falecida e agora santa) Madre Teresa de Calcutá. Nunca a sua extrema modéstia lhe consentiria que tal facto viesse a público.
Acreditem!