segunda-feira, 4 de maio de 2015

A pregar no deserto ?

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Quem não tiver dúvidas que levante um braço. E, com modéstia, lembremo-nos que houve um tempo, em que nós, tal como o Presidente da República, não tínhamos dúvidas e nunca nos enganávamos… A surpresa é que muito do discurso dos partidos de esquerda é hoje, quase sempre, remanescente dessa época. E em vez de uma procura de pontos comuns, há um clubismo e um eleitoralismo, que põem em segundo ou terceiro lugar o mundo real. Ora há convergências possíveis ao nível da educação, da saúde e da segurança social. É possível uma luta comum contra a precariedade. É possível encontrar uma barreira às privatizações. Para tudo isso é necessário ter o espírito de encontrar coincidências e, pelo contrário, não andar a “catar” as divergências, mesmo que prováveis ou possíveis, no sentido de abrir fossos, onde ainda pode haver pontes. Claro que a preservação do Estado social é incompatível com o tratado orçamental (no que é omisso o documento estratégico do PS), que tem que haver pelo menos renegociação da dívida enfrentando o centro de poder na Europa. Mas mais uma vez, o caminho faz-se caminhando, arriscando possíveis erros. A realidade traz-nos surpresas e não é no quietismo narcísico de análise ou na resistência enquistada no seu terreno, tratando sempre os outros partidos da esquerda eleitoral como o inimigo principal, que encontraremos solução para a desgraça actual. Estaremos agora, nos dias após a morte de Mariano Gago e os elogios post mortem, a esquecer as críticas vorazes, sem relevar nunca os lados positivos do seu Ministério, que o acompanharam enquanto foi ministro, só porque o era num Governo PS? Quem se esqueceu que vá aos registos dessa época. E pense
(Isabel do Carmo; "Linhas verdes e linhas vermelhas". In "Público". Via: A Estátua de Sal)

1 comentário:

Isa GT disse...

A maneira mais fácil de nunca resolver nada e acabarem por nos tirar tudo é insistindo no que nos separa.
Tudo pode ser, maldosamente utilizado como género, raça, religião, classes sociais... sabem enrolar-nos misturando direitos com privilégios, tudo pode ser utilizado conforme os interesses menos transparentes e, pelo menos, um desses motivos é utilizado para nos distrair, enganar e manipular porque no fundo, em épocas de crise, há coisas essenciais para defender e resolver em conjunto.

Curiosamente só vemos isso quando já não há hipótese de voltar atrás ou acabar por cair na dura realidade do inevitável e, nessas alturas, aprendemos da pior maneira, que afinal temos mais em comum do que imaginávamos...
O pior exemplo, é quando acontece uma catástrofe natural, e nos damos conta da nossa insignificância, do quanto precisamos uns dos outros e até vemos as pequenas coisas tão valiosas que pareciam insignificantes. Será preciso sofrimento máximo para chegar à conclusão do que realmente é importante para todos? Se não tentarmos chegar a acordo sobre alguma coisa vamos acabar sem coisa nenhuma.

Já faleceu mas, para desanuviar, deixo aqui o meu cómico preferido a falar sobre aquelas pequenas semelhanças;)que nem notamos link