domingo, 3 de maio de 2015

Ingenuidade ou outra coisa?

"Não dá para acreditar", escreve Manuel Carvalho, hoje no "Público" numa peça intitulada  "Passos no país dos Dias Loureiro" ao comentar o facto de Passos Coelho ter escolhido para apresentar como símbolo do empresário que ele deseja para Portugal, nem mais nem menos do que alguém que esteve envolvido no desastre que foi o BPN, ou como escreve Manuel Carvalho "um arguido no caso do BPN (absolvido em primeira instância) por suspeitas num negócio que envolve um lobista libanês, uma empresa marroquina e uma tecnológica com sede em Porto Rico que fez desaparecer das contas do banco nada mais, nada menos, do que 40 milhões de euros". Ou seja, Passos Coelho apresentava ao país como exemplo a seguir o homem que Cavaco Silva, perante o escândalo, e depois de muita insistência, se viu forçado a demitir do Conselho de Estado: Dias Loureiro. Esse mesmo!

Ao contrário do que escreve Manuel Carvalho, penso que o elogio público feito por Passos Coelho a Manuel Dias Loureiro faz todo o sentido, tendo em conta que os perfis de um e de outro têm, em boa verdade, muito em comum. Para Manuel Carvalho, Dias Loureiro será um indivíduo execrável, mas o que dizer de um Passos Coelho que é um caloteiro e mau pagador, segundo o próprio testemunho, e que, pelo menos, do ponto de vista político, dificilmente pode deixar de ser visto como um aldrabão consumado?

Passos Coelho será melhor rês do que Dias Loureiro? Duvido. A meu ver, diferenças, se as há e admito que sim, serão de grau, que não de natureza. Não há, aliás, outra forma de explicar o público elogio a não ser que se admita que há, efectivamente, uma grande identificação entre quem profere o elogio e o elogiado. 
Numa cerimónia pública como aquela em que os factos ocorreram, não passaria pela cabeça de ninguém, no seu perfeito juízo, enaltecer a figura de uma pessoa, ou propô-la como exemplo a seguir, se o autor do elogio não se revisse na figura do outro.

O que verdadeiramente não dá para acreditar é na ingenuidade de Manuel Carvalho que, no final do seu escrito, se dirige a Passos Coelho para que, "entre duas vírgulas, diga apenas algo como isto: “Eu não vejo Dias Loureiro como um exemplo para vencer na vida nem recomendo aos portugueses, principalmente aos mais jovens, que o tenham como modelo nas suas opções de vida”.
Eu disse: ingenuidade?  Se calhar, devia dizer outra coisa.

3 comentários:

Majo disse...

~
~~ Aconselho a leitura do artigo «Anatomia de um intocável». na Visão...

~~ Enquanto que um fartou-se de jogar golfe enquanto esperou a averiguação de indícios,
outro está detido, privado de liberdade em Abril, fora de Lisboa, por tempo indeterminado...

~~ Mais uma baixeza ética de 'pedrocas', passos de coelho, o tal amiguinho de relvas rasteiras...



~~~~ Excelente e animado final do dia das mães. ~~~~
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Anónimo disse...

Chicamigo

Passar os limites ou ultrapassa-los vem dar a mesma coisa para Passos Cuelho que aponta como exemplo Dias Loureiro; e exemplo que deve ser seguido pelos jovens pois Loureiro é um modelo de bom empresário.

Onde? Em Cabo Verde para onde fugiu? Nem aí, ao que me conste...

Tanta vergonha têm o gajo que aplaude e o aplaudido: nenhuma. Este (des)Governo está de rastos. Mas o seu chefe aplaude o "inocente" Dias Loureiro. Que mais pode acontecer?

Abç

Anónimo disse...

Acreditar que haja em Portugal algum Partido que vá, realmente, fazer grande diferença, aí, sim, considero ingenuidade.
Longe vão os tempos das políticas caseiras e, por mais que pintem paisagens e se ponham a massajar os números com resultados para antes ou depois, mais arabesco ou mais uma distribuição de amendoins, acaba por vir tudo pré-programado e pré-legislado de fora, e, curiosamente, com tanto teatro cá dentro, ninguém parece ligar ao que se está a passar lá fora, há rumores de estar a ser ultimado um gigantesco acordo comercial entre a U.E. e grandes corporações americanas, acordo esse, que nem sequer vai passar pelo Parlamento europeu, por aqueles em quem votámos (na ilusão de que ainda mandamos alguma coisa)e se, desta vez, não vai passar pelo Parlamento Europeu, a razão é simples, em 1998 todos disseram Não, pois estavam em causa normas ambientais, uso de químicos e substâncias que têm estado proibidas até em produtos alimentares. E o mais assustador é que, nesse contrato comercial, pode ficar estabelecido que, se depois não conseguirem vender os produtos, por os europeus se recusarem a usá-los, por pensarem que prejudicam o ambiente ou não os consumirem na sua alimentação por acharem que são perigosos para a sua saúde, o contrato pode conter cláusulas de pedidos de indemnização aos países que lhes possam dar prejuízos ou diminuir os lucros, ou seja, já sabemos que os Estados são os contribuintes que vão pagar.
Gente poderosa anda a jogar com o nosso futuro e, neste momento, está a ser criado um fundo em que há quem já tenha investido um milhão no intuito de vir a receber umas 25 vezes mais pois, esse dinheiro que está a ser angariado será para ser usado nos tais futuros processos de pedidos de indemnização, a visão do costume, da especulação financeira...

Resumindo tudo, sabe o que o país me parece?
Um barco a meter água no porão e andam todos no convés a discutir se, para o almoço, é melhor bife ou frango... e os nossos jornalistas vão estando entretidos a escrever quais são os que dizem que o bife é duro e os que garantem que o frango tem salmonelas... sem esquecer os que não querem frango nem bife e esperam pelo milagre de uma bela sardinhada...
Quanto a assuntos, realmente, sérios, anda uma meia dúzia de jornalistas, na sua maioria estrangeiros, como foi antes da crise de 2008/2009 a quem ninguém ligou nenhuma porque depois das coisas acontecerem, há aquela velha alternativa de exigir tudo ao Estado... que muita gente ainda não aprendeu que somos todos nós... e para quem não exige nada antes das coisas acontecerem, realmente quero pensar que é por ingenuidade porque acredito que há quem saiba muito mais do que eu e ande bem caladinho por ter outras prioridades urgentes... uns de sacarem os bifes e outros os frangos, para os das sardinhas não há milagres e para os restantes...
deviam começar a aprender a diferença entre direitos e privilégios porque assim fica fácil 1% controlar os outros 99% dividem para reinar e é como roubar chupas das mãos de crianças
E aposto que o Francisco sabe quem eu sou ;) lol