quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um "herói" altamente improvável

O "Público" na edição de hoje retoma a história ontem divulgada no Diário da Manhã, baseada em material fornecido por Carlos Santos, colaborador do blogue SIMplex, material que ele obteve nessa mesma qualidade, pois trata-se de "e-mails" trocados entre os seus membros. O assunto já foi objecto de um post aqui publicado, onde o leitor poderá cotejar diversos testemunhos de colaboradores do Simplex, sendo que, posteriormente, novos testemunhos vieram a lume: aqui e aqui.


Se regresso ao tema desta não-notícia, é apenas para dizer da minha perplexidade pela elevação do assumido informador a "herói" do dia, nas páginas do "Público", onde o dito figura na coluna do "Sobe e Desce" com uma seta apontada para cima, apresentado como "alguém que rompe com o sistema", embora se lhe critique a oportunidade, "pois já passaram cinco meses depois das legislativas".
Passa o "Público" por cima dessa circunstância bem reveladora da falta de seriedade do informador e sobretudo esquece que a utilização de correspondência privada sempre foi considerado um acto execrável e altamente infamante para qualquer pessoa que tenha um pingo de vergonha na cara. A revelação de correspondência, a admitir-se, só será aceitável (se o for) em casos em que esteja em causa um interesse muito superior ao da reserva da vida privada. Não é, porém, o caso, pois o "SIMPlex" em nada diferiu, quer na sua criação, quer no desenvolvimento dos assuntos tratados, dos procedimentos seguidos por outros blogues apoiantes de forças políticas como o "Jamais" (blog de apoio ao PSD), ou o "Rua Direita" (de apoio ao CDS), como os autores daquele têm sublinhado.
O mais surpreendente no tratamento dado pelo "Público" à "notícia" e ao informador, reside, porém, no facto de o mesmo jornal ter sido percorrido, não há muito, por uma onda de indignação, aquando da revelação do "e-mail" do Luciano Alvarez dando conta das diligências do assessor presidencial Fernando Lima, no "caso das escutas", caso que veio a incendiar toda a campanha eleitoral para as últimas legislativas. E note-se que, neste caso, estávamos perante uma matéria do mais relevante interesse público.
Perante o tratamento dado a um caso e outro (indignação num, promoção do "herói, no outro) é lícito concluir por uma alteração na filosofia do jornal: o que ontem era uma infâmia, hoje é digno de louvor. Aguardemos, pois que, mais cedo que tarde, surja nas páginas do "Público" a revelação do "herói" que nos deu a conhecer as manobras do senhor Lima.
Fico à espera. E, enquanto aguardo, fico a pensar que, se "a tradição já não é o que era", a noção de decência do "Público" e do informador já conheceu melhores dias.


ADENDA:
Variações sobre o tema:

7 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

Que assunto tão sujo...!
Um abraço, Francisco.

Ana Paula Fitas disse...

Obrigado pela inclusão da referência, Francisco.
Um abraço.

mdsol disse...

Uma lástima, meu caro. Estou a ficar que nem posso ...

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Excelente post, Francisco.

Francisco Clamote disse...

Ana Paula:
Nada para agradecer. Abraço.
MDSOL:
Que direi eu, que troquei com ele alguns "e-mails" (que ele pode publicar à vontade) e que ainda tive que ouvir as suas palavrinhas mansas ao telefone!
Sofia:
É sempre reconfortante uma palavra de estímulo. Obrigado.

Francisco Clamote disse...

Caro Miguel: Abraço retribuído, com amizade.

MFerrer disse...

Francisco,
Chapelada, meu caro!
De resto não vejo razão para qualquer admiração.
É da natureza dos infiltrados infiltrarem-se. Da dos traidores, traírem, e dos jornalistas do Público acolherem entusiasticamente este tipo de colaboração. Acho que está tudo bem.
Não há que reclamar!