terça-feira, 11 de maio de 2010

"Olho vivo", mas com palas.

O "Olho vivo" ("Público" de 7 de Maio) de Eduardo Cintra Torres, sempre atento aos desvios da ortodoxia que cultiva, detectou num artigo de Frei Bento Domingues (a que já aqui fiz referência) vindo a lume no "Público" de 2 Maio, uma coincidência entre o autor do escrito e as posições do "Governo socratista no que à (des)informação diz respeito". Coisa grave que o nosso "Olho vivo" não podia deixar passar em claro, como é bem de ver, para quem conheça a peça.
 Mas em que consistiu, afinal. o "crime" de Frei Bento Domingues? No essencial, Frei Bento limitou-se a verberar algum jornalismo e em particular "os infindáveis telejornais, tecidos do princípio ao fim quase só por desgraças" para, na sequência, estabelecer uma comparação entre tais jornalistas e os pregadores que centravam a pregação no medo do inferno e que no Norte eram designados por "padres da vinagreira".
O "Olho vivo" não gostou da comparação e vai daí toca a dar uma lição a Frei Bento sobre o que é e não é a verdade, e sobre o que é e não é a liberdade de informação, tirando, aliás, ilações que não têm cabimento no texto, como quando conclui que Frei Bento Domingues entende que a liberdade de informação é mostrar notícias "positivas". Cintra Torres pode ter "Olho vivo" mas treslê, pois Frei Bento Domingues (pessoa que conheço desde os idos da minha juventude em Coimbra e que, pelo que dele sei, não precisa de lições em matéria de liberdades e/ou de verdades e menos ainda das vindas de um qualquer Cintra Torres) o que censura é apenas que "mesmo quando há sinais de que é possível enfrentar as enormes dificuldades com que o país se debate" se insista "em mostrar que não há saída".
Mas Cintra Torres até vai mais longe e não hesita em estranhar que "Frei Bento condene as notícias "depressivas" quanto a religião cristã se fundamenta numa tragédia que, em cada eucaristia, os fiéis recordam e vivem". Até eu, que não sou Frei, nem Bento, sei que a religião cristã se fundamenta não na tragédia do Calvário, mas sim na alegria da Ressurreição (Se Cristo não ressuscitou, a nossa fé é vã - alguém disse e escreveu e eu cito de cor).
Como diz o outro, quem te manda a ti, sapateiro (Cintra Torres) tocar rabecão?
Mas, como um azar nunca vem só, não é que o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, no discurso de aceitação do Prémio Pessoa retoma a lição de Frei Bento Domingues ? Lê-se, com efeito, no "Expresso" do último sábado, que, a este respeito, D. Manuel Clemente escreveu: "O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários. Mas existe" .
É muito azar de Cintra Torres, ou a explicação é bem mais simples ?
Vou por aqui. Cintra Torres pode ter "Olho vivo", mas com palas.  Ou será "burka", que limita ainda mais o campo de visão ?

2 comentários:

mdsol disse...

Muito bem!

Será pena se o ECT não ler.

:)))

capitolina disse...

Esse ETC é dos tais que não aceita regras nem ética, para ele ao jornalista só cabem direitos, a começar pelo de dizer o que lhe apeteça. E quando alguém diz que não vale tudo, ETC empiurça do alto da sua profissão e verbera o horror do escândalo de haver gente que quer cortar as perninhas ao jornalismo... Basta ter lido alguns dos seus textos para ter horror a continuar a lê-lo.