quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Surpreendido e, quiçá, apreensivo

Os dados do INE dando conta que a economia portuguesa cresceu 1,1% no segundo trimestre deste ano são uma boa notícia. Manda, porém, a prudência que não se embandeire em arco. As palavras da Comissão Europeia vão nesse sentido, o que não impediu o precipitado deputado Pedro Pinto (PSD) de vir proclamar que o caminho seguido por este (des)governo "é o correcto e está a dar os seus primeiros resultados".
Precipitado e duplamente, julgo eu. Em primeiro lugar, porque esquece que os números divulgados surgem na sequência de um decréscimo verificado no 1º trimestre muito superior ao previsto (-4,1%) e, em segundo lugar, porque não se pode ignorar que, apesar do modesto crescimento agora verificado, o PIB nacional ainda está 2% abaixo do verificado no segundo semestre do ano findo.
Resta saber se os resultados se devem ao facto de o governo estar a trilhar o caminho correcto (hipótese que rejeito em absoluto) ou se eles ocorrem, porque o governo encontrou algum obstáculo no caminho prosseguido e errado, obstáculo representado, no caso, pelo acórdão do Tribunal Constitucional, frequentemente diabolizado pelo governo, que o impediu de levar a cabo todos cortes previstos no Orçamento do Estado (hipótese que se me afigura bem mais plausível) cortes que, a terem ido avante, teriam impedido alguma recuperação do consumo entretanto verificada. O fenómeno é bem visível, designadamente, no aumento nas vendas de automóveis, e contribuiu certamente para quebrar o longo ciclo recessivo.Tão longo que é a primeira vez que tal se verifica desde que o actual executivo tomou conta da (des)governação em curso.
Dir-se-ia, pois, que esta pausa na recessão não é fruto, nem da acção, nem das opções do governo que, por alguma razão, até se mostra surpreendido. E mais que surpreendido, suspeito que o governo o que está verdadeiramente é apreensivo. De facto, se a recuperação do consumo prosseguir, é bem provável que o governo veja cair por terra o único êxito que, ao fim de mais de dois anos, pode reivindicar: os excedentes nas contas com o exterior, entretanto verificados, originados, em primeira linha, pela diminuição das importações, diminuição que, por sua vez, deriva das quebras no consumo.
Aguardemos, entretanto, o resultado dos cortes que o governo se propõe levar a cabo em nome da sua "reforma do Estado". Lá mais para o final do ano veremos, então, se o deputado Pedro Pinto continua a ter razão para dar "saltos" de contentamento. Seria óptimo, a todos os títulos, é verdade, e, em particular, muito benéfico para o deputado Pedro Pinto que, atendendo à imagem que passa nas televisões, parece estar a precisar de fazer alguma ginástica. E saltar, dizem, é um bom exercício.

1 comentário:

folha seca disse...

Excelente análise caro Francisco Clamote.
Abraço
Rodrigo