quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Trapaceiros

Toda a actuação do governo à volta do enredo dos swaps, a começar na ministra das Finanças, passando pelo secretário de Estado do Tesouro ora demissionário e a acabar no governo como um todo cheira mal, ou, para utilizar uma expressão agora entrada em moda pela mão do ministro Machete e também usada por Joaquim Pais Jorge, cheira a podre.
Vamos por partes:
Como é evidente desde a primeira hora, Maria Luís Albuquerque, então ainda na qualidade de secretária de Estado do Tesouro, ao trazer para a opinião pública o assunto dos swaps tentou, por mais de uma forma lançar o odioso da questão sobre o Governo anterior.  O tiro, porém, acabou por sair-lhe pela culatra, não só porque ela própria subscreveu contratos desse tipo, enquanto responsável financeira duma empresa pública, mas sobretudo porque, uma vez no governo, só tomou conta do assunto, tarde e a más horas,  apesar de avisada em devido tempo, permitindo com a sua inacção que as perdas potenciais associadas aos swaps tivessem duplicado. Daí a enrolar-se numa teia de mentiras e meias verdades foi um passo que a actual ministra das Finanças deu com o á-vontade de quem se julga a coberto de total impunidade. De que, aliás e inexplicavelmente, tem gozado.
(Inexplicavelmente não será bem o termo mais adequado, sabendo-se quem é o primeiro-ministro, mas enfim, passemos adiante.)
Uma vez arvorada em ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque escolheu para  a substituir na Secretaria de Estado do Tesouro a pessoa menos indicada para o cargo, por razões que só ela saberá, sendo, porém, certo que  a escolha Joaquim Pais Jorge, alguém que interveio na tentativa de levar o Governo de José Sócrates a subscrever swaps, com o intuito de mascarar a verdade das contas públicas, não tem explicação possível. E não tem, porque essa tentativa só pode ser qualificada como uma trapaça. E não é pelo facto de a tentativa não ter resultado que os seus autores (a começar pelo banco que a promoveu) deixam de poder ser considerados como trapaceiros. A trapaça só não teve um "final feliz", porque o Governo de José Sócrates não era composto por gente feita da mesma massa.
Não restam hoje dúvidas de que Joaquim Pais Jorge, enquanto director do Citigroup, participou nas reuniões em que o seu banco tentou vender os swaps. Ele próprio o reconheceu, depois de o ter negado durante um dos briefings do Lomba, mas só depois de divulgado pela SIC um documento que atestava a sua presença nas reuniões.
Não obstante não haver já a mínima dúvida sobre a participação de Joaquim Pais Jorge na tentativa de venda ao Governo anterior dos swaps fraudulentos, o actual governo, com a desvergonha que o caracteriza, ousou ainda mais uma manobra para manter Pais Jorge no governo, vindo a público alegar que o documento que comprometia o demissionário secretário de Estado tinha sido manipulado. Sabe-se hoje (a SIC tornou público o facto, há momentos) que não existe qualquer manipulação de documentos, pois o que acontece é que existem, pelo menos, dois documentos: um na presidência do Conselho de Ministros (aquele a que a SIC tinha tido acesso) e um outro no IGCP (o invocado pelo governo para justificar a pretensa mistificação).
Seja como for, a manobra que o governo tentou levar a cabo, sabendo a verdade dos factos, só pode ser vista como mais uma tentativa de trapaça que só não resultou, porque o próprio Pais Jorge, não tendo suportado durante mais tempo a pressão vinda de todos os lados, incluindo até da parte de militantes do PSD, acabou por se demitir, apesar de estar, no que respeita a trapaças, entre gente à sua altura.
Fê-lo, porém, em termos que não abonam  nada  a seu favor. Ao invocar como razão da demissão não o seu envolvimento e a sua responsabilidade na tentativa de venda dos swaps fraudulentos, mas a sua falta de "tolerância para a baixeza" com que o assunto foi tratado, revela que não aprendeu nada e continua a ser o que foi.
A baixeza (e a podridão de que também fala), não estão do lado de quem denuncia os factos, mas sim do lado de quem pratica os actos.
Estes, sim, dizem, claramente, onde mora  a podridão.

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