Não me vou alongar a comentar os resultados saídos das eleições autárquicas de ontem, até porque aqueles falam por si. Não me dispenso, em todo o caso, de umas quantas observações.
Para começar, não se pode negar que o PS teve uma excelente vitória que, no entanto, podia ter sido bem mais expressiva, se a direcção do partido não tivesse feito algumas más opções, como em Matosinhos, na Guarda e em Cascais, por exemplo, e se não tivesse perdido para a CDU, a meu ver, em grande parte por culpa própria, a presidência de um sem número de autarquias, sobretudo no Alentejo.
A CDU sai também destas eleições como uma claríssima vencedora, sobretudo à custa do PS, devido certamente ao mérito dos seus candidatos, mas também porque soube capitalizar o voto de protesto contra o Governo, usando a estratégia de meter no mesmo saco o PSD e o CDS, mas também o PS, como não podia deixar de ser, visto que este é, sem dúvida, o seu adversário de estimação, estratégia que resultou e que se traduziu em corresponsabilizar os três partidos pela assinatura do memorando, estratégia que o PS não soube contrariar chamando a atenção para o facto de o PCP ter alinhado ao lado da direita no derrube do Governo de Sócrates e de ser, por essa via, corresponsável pela vinda da troika e pela chegada da direita ao poder.
Vencedores saíram também vários candidatos a concorrer como independentes, com destaque para Rui Moreira, no Porto e Guilherme Pinto, em Matosinhos. Não estou certo sobre se o êxito dos independentes nestas eleições não é fruto de especiais circunstâncias não repetíveis no futuro. Em todo o caso, certo é que, para já, a sua eleição contribuiu, ainda que de forma modesta, para modificar o panorama autárquico e quem sabe se, com as vitórias dos independentes, os partidos não terão aprendido que não podem continuar a ser simples aparelhos formatados para a conquista do poder e que não são os únicos instrumentos utilizáveis para o exercício da cidadania.
Ao invés, não sofre contestação que o PSD averbou uma derrota em toda a linha, aliás admitida pelos seus dirigentes. Ainda assim, reconheço que, no interesse do país, tal derrota deveria ter sido ainda mais estrondosa. Tão estrondosa que não deixasse dúvidas ao residente em Belém sobre a necessidade de livrar o país da (des)governação de Passos Coelho.
Derrotado sai também o Bloco de Esquerda. Julgo que os seus dirigentes continuarão à procura de uma explicação para o desaire, o que não é fácil. Talvez essa explicação resida no facto de o BE ter fraca implantação a nível das autarquias e de ter sido esmagado, enquanto partido de protesto, pela força e pela implantação do PCP. Talvez.
Do CDS, em boa verdade, é difícil falar em vitória ou em derrota, pela simples razão de que o CDS, no plano autárquico, é irrelevante e não é o facto de ter passado a deter a presidência de cinco câmaras municipais, em vez de uma, que muda a avaliação. Basta atentar na percentagem de votos alcançados no todo nacional para se chegar a tal conclusão.