Há algum exagero no título, mas que o FMI se assemelha bastante a uma casa de orates afigura-se-me fora de dúvida. Trata-se, na verdade, de uma instituição internacional onde as divergências e a descoordenação são realidades evidentes. Isto, pelo menos, no que respeita à apreciação que a própria instituição faz relativamente à intervenção da troika em Portugal, pois, de facto, os responsáveis do FMI tão depressa apontam para a existência de erros, quer na análise da situação económica de Portugal, antes da intervenção, quer em relação às medidas que vieram a ser implementadas com vista a ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelo país, como, com insistência, continuam a falar em sucesso do "ajustamento", apesar de tal sucesso se ter traduzido: numa enorme diminuição do PIB (que ainda não recuperou para os valores existentes anteriormente à vinda da troika, nem recuperará tão cedo); num significativo aumento do número dos pobres; no agravamento das situações de pobreza; no aumento das desigualdade entre pobres e ricos; na emigração de centenas de milhares de pessoas na força da vida; na destruição de milhares de empresas e até no enfraquecimento do sistema financeiro.
Perante resultados como estes, qualquer pessoa no seu perfeito juízo teria de concluir que a "receita" do FMI se traduziu num completo fracasso, bem como admitir que só numa casa de orates é que é possível continuar a existir gente como um tal Subir Lall que não se cansa de defender insistentemente a mesmíssima receita que levou ao desastre e que, no essencial, se resume a mais cortes nos salários, nas pensões e nas prestações sociais.
Felizmente, a receita do FMI tem cada vez menos defensores entre nós. Hoje já não falta quem faça uma apreciação negativa das propostas do FMI veiculadas pelo dito responsável, mesmo entre pessoas que, com maior ou menor entusiasmo, seguiam a doutrina da austeridade criadora que deu no que deu. Deixo dois exemplos em dois textos, um da autoria do actual director do DN e outro da autoria do seu antecessor no cargo, publicados, por sinal, no mesmo jornal e na mesma data. Aqui ficam os títulos e os links:
FM o quê? (Paulo Baldaia);
Já ninguém atura o FMI (André Macedo). Duas tomadas de posição bem elucidativas, acho eu.
Também é verdade, reconheço, que continua a haver por cá paladinos da TINA (There Is No Alternative ) como o Gomes Ferreira (da SIC) ou o Camilo Lourenço. Mas é uma pena, digo eu, continuarem por cá, porque, de facto, onde ficavam bem era lá. Na casa de orates.