terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Citações # 29

Manual de instruções para campanhas negras
por Pedro Adão e Silva

"Há um equívoco muito generalizado: é mais fácil desenvolver uma campanha negra envolvendo um vizinho, um colega de trabalho ou mesmo um familiar.
Nada de mais errado. Não hesite, pense em grande. A evidência empírica revela que uma campanha bem orquestrada pode ser eficaz se dirigida a um artista de televisão com particular notoriedade ou até mesmo, pasme-se, a um político.
Após criteriosa selecção do alvo, há que passar à fase a que os especialistas chamam de contextualização. Esta, isoladamente, não produz qualquer efeito - razão porque foi, durante tanto tempo, menosprezada. Contudo, como revelam diversos casos de sucesso, é decisiva. Deve agora proceder à escolha da natureza da campanha. As acusações mais seguras continuam a ser o enriquecimento ilícito e tudo o que remeta para comportamentos sexuais. Se optar pela segunda hipótese, tenha presente que relações extra-conjugais têm taxas de sucesso marginais. Pelo contrário, há evidência empírica que demonstra a robustez de campanhas assentes em alegações de relações homossexuais ou até comportamentos sexuais desviantes. No passado, havia dois instrumentos preferenciais para a contextualização: as cartas anónimas e o "ouvi dizer". Se bem que estes mecanismos ainda revelem assinalável eficácia, as novas tecnologias abriram novas possibilidades. Escreva um ‘email' e ponha a circulá-lo. As caixas de comentários dos jornais ‘online', fóruns e ‘blogs' têm-se revelado particularmente úteis.Seja paciente e aguarde dois, três anos. Não suspenda a sua actividade, aproveite este período para estabelecer alguns contactos (junto de "amplificadores selectivos) e, não menos importante, pesquise informação sobre o seu alvo, bem como os seus familiares. Recorra a um motor de busca na ‘net' e, se tiver recursos, utilize um serviço de ‘clipping'. A informação disponível vai surpreendê-lo. Nesta altura tem de insinuar-se junto dos "amplificadores selectivos". Há tipos preferenciais de amplificadores com quem convém desenvolver uma boa relação: um jornalista e alguém, no mínimo, com acesso à fotocopiadora no Ministério Público e/ou na Polícia Judiciária.
Chegou agora a fase decisiva. É o momento para a campanha se tornar visível. Se a contextualização tiver decorrido bem, até você se vai surpreender com os níveis de credulidade. Mesmo um facto com escassa solidez revelar-se-á verosímil. Não se preocupe muito com o modo como esse facto vai ser posto à prova. O mais provável é que não o seja e, caso isso aconteça, se ele tiver sido devidamente amplificado, pouco importa que venha a ser desconsiderado. O resultado pretendido já foi alcançado. Assim que tiver feito chegar a denúncia às autoridades, coloque rapidamente o "seu" jornalista ao corrente.
Tem agora uma semana para mobilizar toda a informação que entretanto recolheu e plantá-la criteriosamente junto dos media. Não se preocupe em estabelecer relações de causa e efeito, basta associar factos. Vai ver que funciona. Há também um princípio elementar: ainda que continue a privilegiar o jornalista que primeiro deu voz à campanha, é agora importante diversificar. Há um mecanismo que se tem revelado muito conseguido: dar uma notícia parcialmente a um jornal e completá-la com informação à noite numa televisão. Por esta altura, deverá existir um caldo cultural propício a envolver familiares. Avance.
O essencial do seu trabalho está feito. Tirando algumas intervenções cirúrgicas, a competição pelas audiências entre os media encarregar-se-á de fazer o resto. Assistirá a um fenómeno curioso: as notícias serão dadas várias vezes, como se se tratasse de novidade, mesmo que tenham sido desmentidas, e os órgãos de comunicação amplificarão as notícias uns dos outros, sem qualquer critério. Neste momento, o nome do seu alvo deve surgir invariavelmente associado a expressões como "suspeito", "arguido", "implicado", "envolvido". Ainda que na verdade não haja nenhum indício, é o momento em que os comentadores estarão a falar da fragilidade em que se encontra, da necessidade de se explicar ou, até, de colocar o lugar à disposição. Pode, em casa, assistir confortavelmente ao desenrolar da campanha.
Apesar da natureza simples deste tipo de campanha, os mais temerosos têm procurado saber quais são os riscos para os autores morais. A literatura refere alguns casos que se revelaram problemáticos. Contudo, são excepções e só foram deslindados muito tempo depois. O "protocolos dos Sábios de Sião", o caso Dreyfus e o de George Edalji em Inglaterra são disto exemplo. Mais recentemente, na Bélgica, as autoridades revelaram particular celeridade em desmontar a campanha movida contra o ex-ministro Elio di Rupo. Mas, para quem opera a partir da Europa do Sul, não há motivos para preocupação. A coligação entre aqueles que defendem o primado do Estado de direito é de tal modo frágil que, facilmente, serão derrotados pela sólida união entre péssimo jornalismo e investigação negligente."

1 comentário:

Anónimo disse...

Li o artigo, li os comentários ao artigo e não apreciei.

A mensagem que o autor envia, a propósito de evidenciar uma cópia do suposto ritual ou cartilha para estragar a reputação a alguém, é a seguinte:
"Não acreditem naquilo, tudo é pura maldade, vejam a semelhança com a tal receita!".

Ora a questão não é acreditar se o senhor é culpado ou não.
Existe um facto principal que é uma carta das autoridades do RU pedindo elementos e investigações sobre (dá-se de barato) factos que eram os mesmos que as autoridades policiais portuguesas pediram às inglesas há anos atrás.
Os jornais estão no seu direito e eu no meu direito de saber o que se passa àcerca disso . Os jornais vão ter com o tio do senhor e este bota faladura, falam com outros referidos e supostos intervenientes e surgem pormenores que os jornalistas escarrapacham nos jornais.
Ainda ninguém chamou de corrupto ao senhor, mas este fica furioso com tudo isto e com os seus familiares e adverte que não é assim que o deitam abaixo (sim porque um animal selvagem ou bravo ou coisa assim foi como ele há uns anos se auto classificou, não se vence de qualquer maneira).
Vem a notícia de que o tio tem offshores, que o senhor comprou uma casa num sítio caro, a mãe, também comprou segundo dizem junto ao filho a pronto pagamento e a uma offshore e que só declarou +/- 250,00 € de rendimentos no IRS desse ano e o tio até remata que "ele" nem seuqer fala à mãe (ali ao lado?).
É claro que tudo isto é um regabofe para o povo, pois este povo em crise e a perder os empregos, associa offshore a muito dinheiro, a fuga ao fisco, e este povo, agora o outro povo, o da classe média (em extinção acelerada) e que julgava que ganhava bem acima da média, e que não consegue sem fortuna pessoal herdada pagar colégio ou escola privada aos filhos ou pensão à mulher, comprar essas casas caras em Lisboa, mesmo tendo em conta o Salário de Ministro, of course que desconfia e pensa: mas o meu dinheiro é macho e o dos outros é fêmea?
Nem vale a pena explicar que a senhora até poderia nem sequer ter apresentado declaração de IRS nesse tal ano, pois que, se for o caso, pode ter de rendimentos milhares de contos de juros proveniente de aplicações financeiras, e, porque prescidiu do englobamento de rendimentos, nada mais tem a declarar no IRS porque não sendo parvo, paga os impostos devidos pela legal taxa liberatória de 20% que o sistema financeiro se encarrega de cobrar e de entregar ao Estado.
Ora este pormenor pouca gente sabe. Nem os jornalistas sequer saberão por que razão há declarações de políticos no tribunal constitucional com milhões de Euros em aplicações financeiras e vivem em casas arrendadas...
A malta que paga IRS a 30 0u 40% e IMI + IMT + imposto de selo, mais IVA mais taxa do ISPP na gasolina e não tem cartão gold de um banco com support in offshore, claro que arregala o olho e diz: será que me estão a lixar e eu a ver?
Tudo isto é um borbulhar de maus pensamentos e tudo isto porque o enredado na teia é o Primeiro Ministro de Portugal que governa com uma maioria absoluta há cerca de 4 anos e que bem poderia ter alterado tudo isso e pouco fez designadamente na área da justiça.
Portanto, tem:
1º Um ministério Publico, corporativo, fechado, lento, passivo, onde faltam aqui e acolá provas de competência, de humildade e de muitas outras coisas com desacertado passo e em desiquilíbrio com uma Polícia Judiciária e em disputas (assim parece!) sobre quem manda e quem faz ou deve fazer, e isto, já vem, pelo menos, desde o Dr. Cunha Rodrigues.Lembram-se de quem tinha mais poder, se era o dr. António Costa ministro da Ad. Interna, se o actual Ministro da Justiça quanto à PJ?
Como se resloveu a questão de o Ministério Público dever pedir o reembolso a favor do Estado dos valores considerados esbanjados pelos responsáveis identificados pelo Tribunal de Contas? Lembram-se do que disse o antigo presidente do TC - Alfredo José de Sousa sobre a actuação do MºPº e da legalidade e actuações e dificuldades então vigente?
Não era verdade que quando o advogado do ofendido/vítima queria saber e consultar o estado do processo logo lhe respondiam que o processo estava em segredo de justiça, mesmo anos depois sobre a participação e que muitos até prescreveram?
Alteraram qualquer coisa e o que dizem? Ah, os prazos são muito curtos etc. Nem a comparação com o que se passa noutros países mais evoluídos os convence. É que, aqui em Portugal os criminosos são muito mais espertos e complicam mais as coisas...
Foi este lamaçal que permitiu que um processo estivesse parado durante todos estes anos? E perante os termos da carta rogatória que enviaram para Londres, ainda não tinham ouvido em declarações ninguém cá???
Não se sabe, nem sequer se saberá se alguém virá a ser responsabilizado por isto.
A gente desconfia que por aquelas bandas é preciso fazer muita porcaria para alguém ser acusado de algo. Quando da investigação da Casa Pia, lembro aqui o noticiado incidente de o procurador haver mandado um extracto do processo em recurso para o tribunal da Relação de Lisboa com lacre e de modo a não poder ser visto pelo senhor Procurador da República junto do Tribunal da Relação e, bem assim uma outra notícia de que esse procurador não terá respeitado orientação de um seu superior, tudo isto mostra haver indícios de que por ali anda roda livre e demasiada autonomia.
2º.Segundo, aquilo das construções nas áreas protegidas é mesmo esquisito, dado que se aquilo estava entregue a um secretário de Estado (tão nervosico no debate dos Prós e C.), porque razão lá vai o MINIsTRO , avocando?
Depois
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3º....

Conclusão: O cidadão J. Sócrates aqui não existe.Esse é o engenheiro civil, trabalhou numa C M. e este título já deu o que tinha a dar e obteve-o como qualquer portuguesinho.
O Visado é o senhor Primeiro Ministro no tempo em que era ministro do Ambiente e em que tudo veio a lume quando o seu partido estava para ganhar as legislativas.
Tenho dito.Mas muito mais há para dizer!
Portanto vamos a ter calma e a não desatinar.
Francisco Arruda.