sexta-feira, 19 de junho de 2009

Não há pachorra !

Alguns deputados membros da Comissão Parlamentar de Inquérito ao Sector Bancário mostraram-se hoje muito ofendidos (em declarações prestadas antes da audição do ministro das Finanças) pelo facto de José Sócrates, na entrevista dada à SIC, ter manifestado a sua surpresa com o tratamento de deferência dado por alguns deputados inquiridores às pessoas a quem são imputadas responsabilidades pela situação a que chegou o BPN, em contraponto com o tratamento insolente (e no caso de Nuno Melo, malcriado) proporcionado ao governador do Banco de Portugal.
Já vi, a este propósito, atribuir a tais deputados o qualificativo de "virgens ofendidas". Ora, eu penso que não são uma coisa, nem outra. Na verdade, essa mesma afirmação ouviram eles da boca do governador do Banco de Portugal, durante a sua inquirição, que lhes disse isso mesmo, cara a cara, tendo eles comido e calado. Ora, se assim foi, tal significa que, ao ouvir o mesmo reafirmado por José Sócrates, já não era a primeira vez (logo não são virgens) e se, na altura própria, não reagiram, é porque não se sentiram ofendidos.
Ao que parece e ao que é por eles afirmado, no entender de tais deputados, José Sócrates, só pelo facto de ser primeiro-ministro está impedido de fazer apreciações menos lisongeiras para suas excelências, só porque as excelências são membros de um órgão de soberania de que o Governo depende.
O Governo depende, de facto, da Assembleia da República, mas não depende, nem do deputado A, nem do deputado B ou C. Por isso, criticar o órgão (Assembleia da República) parece-me inadmissível para o primeiro-ministro que dele depende. Pelo contrário, acho que o cidadão e secretário-geral do PS (José Sócrates) tem todo o direito de manifestar as suas opiniões em relação ao comportamento de cada um dos deputados e em relação todos os partidos onde eles se integram, em igualdade com todos os cidadãos e dirigentes partidários deste país. Isto parece-me tão evidente que julgo que nem carece de demonstração.
Tinha, aliás, a sua graça se levássemos o entendimento de tais deputados até às suas últimas consequências: em qualquer debate parlamentar, o primeiro-ministro teria de entrar mudo e sair calado, a menos que fizesse coro com todos os que o confrontassem.
Em nota de rodapé, devo dizer que assisti, em parte, ao desenrolar dos trabalhos da dita Comissão, pelo que posso testemunhar que, no caso do ex-presidente do BPN, Oliveira e Costa, assisti a uma audição, entremeada até com algumas graças para amenizar o ambiente e, no caso do governador do Banco de Portugal, o que vi foi uma inquirição. Só pela utilização das palavras (audição e inquirição) já se vê o quão justos foram os reparos de Vítor Constâncio e de José Sócrates.
Tais deputados, que são tão expeditos a criticar, quanto sensíveis às críticas quando estas lhes tocam, não gostaram. Paciência ! É que não há pachorra para tanta sensibilidade ! Digo eu.

3 comentários:

mdsol disse...

O Nuno Melo parece um novo-rico das comissões parlamentares. E está a ficar um bocado obnubilado com os elogios feitos à comissão que ele toma como se fossem todos para ele. Só assim se entende que o tom usado com os possíveis infratores (e eventualmente criminosos) seja mais adocicado do que com outros interveninetes.

[Ando a ficar prolixa... não quero ser espaçosa...Se vir que tal, abrando. Não quero fazer de Nuna Melo ehehehe]

:)))

Francisco Clamote disse...

É sempre um prazer ler o que escreve aqui ou no seu "branco no branco" Abraço.

mdsol disse...

:))