Aproveitando o início dos Jogos Olímpicos de Pequim, o Presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili desencadeou uma ofensiva para retomar o controlo da capital da região separatista da Ossétia do Sul, tudo indicando que o fez imponderamente, não tendo em devida conta todos os dados em presença.
A Geórgia tem do seu lado o direito internacional (a Ossétia do Sul encontra-se dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas) mas está demonstrado, até por exemplos recentes (Iraque e Kosovo, só para citar alguns) que o direito internacional quando desapoiado da força, é inerme. Essa é a realidade, por muito que se lamente que assim seja.
Sabendo-se que a
Ossétia do Sul só tem mantido a sua independência de facto, graças ao apoio indefectível da Rússia, não seria muito ousado prever que, perante a ofensiva das forças da Geórgia, Moscovo viesse, uma vez mais, em apoio dos separatistas da
Ossétia do Sul, tanto mais que a Rússia tem agora, com a independência do Kosovo, um bom pretexto para se sentir mais livre para intervir, à margem do direito internacional. Intervenção, aliás, já concretizada e já denunciada pelo Presidente,
Mikhail Saakashvili, segundo o qual o seu país está a ser vítima de agressão por parte da Rússia e também já confirmada por
correspondentes internacionais .
Tudo indica que Mikhail Saakashvili, ao tomar a iniciativa, terá esperado o apoio por parte dos Estados Unidos, que nele tem tido um aliado seguro e estrategicamente valioso, mas para qualquer observador é evidente que as circunstâncias actuais [envolvimento em vários conflitos (Iraque e Afeganistão), relações tensas com o Irão e a Coreia do Norte e o fim do mandato do Presidente Bush,] não são de molde a permitir um confronto dos Estados Unidos com a Rússia, confronto, que, aliás, mesmo sem tais condicionantes, sempre seria altamente improvável, senão impossível, pelos riscos inerentes, que são óbvios.
Os Estados Unidos vão, decerto, envolver-se diplomaticamente (
Condoleezza Rice já anunciou ir desencadear
uma iniciativa internacional para tentar resolver o conflito naquela região separatista) mas não irão mais longe do que isso, porque simplesmente não podem. Se dessa iniciativa resultar a reposição do
statu quo ante, já a Geórgia terá razões para se congratular, pois, perante a desigualdade das forças em presença, não é de afastar a hipótese de a Geórgia vir a sair fortemente penalizada deste conflito em que se envolveu.
Parece, por outro lado, que a intervenção dos Estados Unidos não irá além das iniciativas diplomáticas, como parece inferir-se das palavras do Presidente Bush que, ainda em Pequim, se limitou a pedir
o fim imediato da violência na Ossétia do Sul .
Goradas estarão, pois, as expectativas da Geórgia em obter uma ajuda mais substancial por parte dos Estados Unidos e de outros Estados europeus, o que, a confirmar-se, como tudo indica, revela que os dirigentes da Geórgia cometeram um grave erro de cálculo quando decidiram enveredar pela ofensiva contra a Ossétia do Sul, aproveitando um momento de distracção da comunidade internacional com os olhos postos em Pequim. Foi também um jogo por parte do Presidente Saakashvili, só que este é um jogo perigoso, como o demonstra a situação actual do conflito.
Façamos votos para que este tenha um rápido final.