Embora tenham surgido nos
media algumas notícias em contrário, dando conta que o
PSD, o
CDS e o
BE defendem a realização de eleições na sequência do pedido de demissão de José Sócrates do cargo de primeiro-ministro, o "Terra dos Espantos" está em condições de confirmar (através da fonte já citada na
notícia anterior, fonte que, embora bem (mal) informada, como é habitual, é merecedora de toda a credibilidade) a realização do encontro do Grupo dos 5 (PECNOT, em inglês) que ontem teve lugar em São Bento e que já hoje teve continuação, tendo, na última reunião, ficado, definitivamente, assente a estrutura e composição do futuro Governo, estrutura e composição que passarei a divulgar. Entretanto, cumpre dar conta de que houve algumas alterações em relação ao que ontem foi aqui anunciado, dado ter havido necessidade de fazer alguns ajustamentos.
Dito isto, passemos à
composição do Governo PECNOT:
Primeiro-ministro: Pedro Passos Coelho (PPC) presidente do PSD, sem assento na Assembleia da República (AR) por obra e graça da sua antecessora, Manuela Ferreira Leite, por razões que ela lá saberá. Confirmada a informação anteriormente divulgada. Aceite a contragosto pelos restantes partidos, dada a inexperiência em funções governativas, mas imposto pelo PSD, invocando imperativos constitucionais, pois como partido mais votado cabe-lhe indicar o chefe do Governo;
(Passos Coelho, com cara de parvo)
Vice-primeiro-ministro e ministro da Presidência, da Defesa, da Lavoura e do Mar: Paulo Portas (PP) presidente do CDS. Na primeira versão assumia apenas as pastas da Lavoura e do Mar, pelas razões já mencionadas anteriormente. Entenderam, no entanto, os PECNOT, após mais profunda reflexão, que dada a experiência adquirida nos Governos Durão Barroso e Santana Lopes, também lhe ficava bem entregue a pasta da Defesa, até porque, segundo tem sido divulgado, já tem na sua posse muita documentação do ministério. Finalmente, a entrega da pasta da Presidência a Paulo Portas, por sugestão do próprio, foi considerada, dada a sua muita experiência, uma excelente forma de contornar a inexperiência (e, ao que tudo indica, incompetência) de PPC. Portas manda no Governo e PPC faz de conta. Bem visto. PP está de parabéns.
(Paulo Portas a coçar o nariz, para disfarçar a vontade de rir e a pensar: desta vez levei o PSD à certa)
Ministro de Estado, da Economia e da Energia: Francisco Louçã, deputado e coordenador do Bloco de Esquerda (BE). Inicialmente pensado para ocupar a pasta das Finanças, para a qual estava bem preparado, como é sabido pelas suas intervenções no plenário, acabou, por conveniência partidárias, por optar pelas pastas da Economia e da Energia. E não se pode dizer que tenha feito uma má opção. À uma, Louçã, como economista de renome, está mais que à vontade na Economia. E da Energia nem é bom falar. É tema que tem abordado com frequência na Assembleia da República, para pedir exigir a sua nacionalização, exigência de que, por ora, prescindiu a bem do entendimento da patriótica e "coesa" coligação.
(Francisco Louçã, na habitual pose de pregador)
Ministro de Estado e do Trabalho: Jerónimo de Sousa, secretário geral do PCP. Confirma-se a primeira informação. Razões mais que óbvias: Não só é o único representante da classe trabalhadora com assento na AR, como o seu partido é o único Partido dos Trabalhadores.
(Jerónimo de Sousa. A vida pega-nos cada partida, está ele cogitar, com ar bem disposto )
Ministro das Finanças: Luís Fazenda, deputado do Bloco de Esquerda. Tem tudo, incluindo o apelido, para dar um bom ministro das Finanças e para ocupar um ministério que o nosso bom povo tem o costume de designar por ministério da Fazenda. Razão ponderosa que levou Francisco Louçã a optar pelo ministério da Economia e da Energia.
(Luís Fazenda já a pensar em voos mais altos: "Lisboa, não é negócio" para mim)
Ministro da Justiça: Negrão Belo, actualmente deputado pelo PSD. Tem um currículo, à primeira vista, imbatível, pois conhece o ministério por fora e por dentro: já foi titular do cargo, juiz, director da Polícia Judiciária e até, imaginem, réu num processo por violação do segredo de justiça (absolvido pelos seus pares). Acresce que é considerado como excelente criminalista. É-lhe mesmo atribuída a criação duma nova figura jurídica que veio revolucionar todo o direito criminal: o pré-crime.
Mesmo assim, não foi colheita da primeira vindima. A primeira pessoa a ser sondada foi Paulo Rangel, que do alto da sua pequena estatura, mandou dizer: passem bem, que eu bem estou em Bruxelas, com viagens pagas para passar os fins de semana no Porto. Justificação que não convenceu ninguém. A verdadeira razão, segundo consta, é que não passa pela cabeça de Paulo Rangel sujeitar-se a ficar subordinado ao actual líder do seu partido a quem não reconhece especiais talentos. Considera, aliás, que PPC só o venceu nas últimas directas para a eleição de presidente do PSD, porque já vinha embalado da corrida anterior.
(Negrão Belo, sabendo do convite endereçado a P. Rangel e ainda surpreendido: quem, eu ?)
Ministro dos Negócios Estrangeiros: Bernardino Soares, líder da bancada parlamentar do PCP. Tem excelentes relações com a Coreia do Norte e com Cuba e também não é inteiramente desconhecido na China. Ora, nesta época de globalização, são estes os países que verdadeiramente contam. Acresce que Jerónimo de Sousa fez questão de ter no Conselho de Ministros alguém sempre disposto a dizer "Apoiado". Bernardino Soares tem, mais que nenhum outro camarada, não só o perfil indicado, mas também a experiência ganha no plenário da AR.
(Bernardino Soares, todo sorridente, já a pensar na próxima visita à Coreia do Norte)
Ministério das Polícias: Nuno Magalhães, deputado do CDS. A nova designação do ministério da Administração Interna foi opção de Paulo Portas que os restantes membros do Grupo dos 5 acabaram por aceitar, a contragosto, mas o facto é que PP é quem manda na coligação. Confirma-se a recusa do hesitante Nuno Melo, mas o problema suscitado pelo seu não, foi prontamente resolvido com recurso a outro Nuno, o tal deputado por Setúbal cujo nome não fora fornecido na primeira informação. Escolha excelente, digo eu, tratando-se do deputado que goza da reputação de querer um polícia em cada esquina.
(Nuno Magalhães: a escolha certa para comandar as polícias. Alguém tem dúvidas ? Olhem-me só para esta pose.)
Ministério das Obras Públicas e dos Transportes: Marco António da Costa, vice-presidente do PSD. Confirma-se o Costa, o ministério atribuído e as razões já apontadas.
(Marco António Costa, com cara de poucos amigos, perante as reticências apresentadas pelo PCP e BE relativamente à sua indigitação)
Ministério da Saúde: João Semedo, deputado do BE. É médico, o que, desde logo o recomendava para ocupar a pasta da Saúde. Acresce que é homem capaz de julgamentos rápidos (e, quiçá, apressados, como convém em matéria de saúde, onde são frequentes as urgências) e tem grande talento para escalpelizar qualquer assunto, como houve oportunidade de constatar (uma coisa e outra) ao longo das intermináveis sessões da Comissão de Inquérito Parlamentar ao negócio PT/TVI. É verdade que a sua indigitação não foi aceite de bom grado pelo PSD e pelo PSD, logo à primeira, por se tratar de um defensor do SNS, mas a insistência de Louçã e a perspectiva de uma ruptura das negociações levaram a melhor. Os negócios privados na Saúde, terão de aguardar por melhores dias.
(João Semedo pensativo: como é que vou dar a volta ao crónico défice do SNS? E confiante: eu sou capaz. E é, afianço eu)
Ministério da Educação: Mário Nogueira, dirigente da Fenprof. Foi uma escolha amplamente consensual, não obstante dar-se a circunstância de ser militante comunista. Em boa verdade, porém, a consensualidade verificada nada tem de surpreendente, sabendo-se que goza de muita simpatia nos partidos da direita (poderia até falar-se de conivência) desde que este dirigente sindical iniciou as suas "guerras" (palavra que lhe sai da boca a toda a hora) contra a ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues e também ,em menor grau, contra a actual titular, agora demissionária. Mário Nogueira contava e conta com outro trunfo a seu favor. Adiantou desde logo, que tenciona manter, em simultâneo, o cargo de dirigente da FENPROP, de forma que o ambiente no ministério da Educação, com o Governo ora apresentado, só tem uma comparação possível: vai ser como deus com os anjos. No céu.
(Mário Nogueira, antes de despir o fato de guerrilheiro)
Ministério da Ciência e da Cultura: Henrique Raposo. A junção da Ciência e da Cultura num só ministério fica a dever-se ao firme propósito do Grupo dos 5 de reduzir os cargos ministeriais, tendo em vista a diminuição da despesa pública, intenção mais que louvável, nestes tempos de aperto. O preenchimento do cargo não foi, no entanto nada fácil, há que dizê-lo, porque personalidades com o duplo perfil exigido não abundam na área. Acabaram, felizmente, por se lembrar do Henrique Raposo, um puto que escreve no "Expresso" e que tem a mania que sabe tudo. Aceitou. Ainda bem.
(Henrique Raposo, o puto ainda com borbulhas)
Ministério do Ambiente: Heloísa Apolónia, deputada do PEV. O prometido é devido e atribuição do ministério do Ambiente até que faz algum sentido, tendo em consideração o facto de fazer parte do Partido Ecologista "Os Verdes". É verdade que há algumas dúvidas sobre a ideologia ecológica dos "Verdes" mas, pelo menos, são nominalmente verdes, o que não é indiferente em termos de imagem pública que, em política, conta muito. A futura ministra agradeceu o convite e aceitou, como aceitou também e de bom grado a condição de baixar os decibéis. Fez, aliás, questão de salientar que prescinde de exercitar as cordas vocais, uma vez que não irá ter mais oportunidades para ver frente a frente o Eng. José Sócrates, na AR.
(Heloísa Apolónia, fotografada num dos momentos em que enfrentava o primeiro-ministro José Sócrates)
Ministério dos assuntos Paralamentares; Aguiar Branco, deputado do PSD. Foi o ministério sobrante, é verdade, mas nem por isso o futuro ministro se mostrou menos entusiasmado, tal era a "fome". O "pote" não é lá grande coisa, mas tem a compensação de garantir a presença com alguma regularidade nos ecrãs da televisão.
(Aguiar Branco, com ar displicente e a disfarçar, com ar de quem "não quer a coisa")
Notas finais:
1. O leitor atento terá reparado na escassa representação feminina neste Governo. O facto tem explicação: Os partidos da direita (PSD e CDS) fizeram questão de constituir um Governo muito "macho", para enfrentar os cornos do toiro (leia-se as dificuldades a suplantar) e o argumento chegou para convencer, hoje, os partidos da esquerda (PCP e o BE) que, em princípio, não eram muito favoráveis à solução. E até nem foi difícil, há que dizê-lo, pois o mais difícil e o mais surpreendente já tinha ocorrido na véspera, quando ontem aprovaram na AR as cinco resoluções de rejeição do PEC, numa aliança que sendo, sem dúvida, vitoriosa, também não falta quem a considere espúria.
2. O PSD, como maior partido do Grupo dos 5 fez questão de romper com a tradicional designação dos elencos governamentais. O tradicional "Governo Constitucional nº X" já era, porque o PSD entende que deve ser dada primazia à língua inglesa, no seguimento do procedimento adoptado para a divulgação do seu último comunicado. A designação adoptada "Governo PECNOT" tem, pois, a ver com essa opção, dada a vaga semelhança do PECNOT com a língua inglesa, opção que tem uma dupla explicação: à uma, reconhece o PSD que, depois da generalização do ensino do inglês levada a efeito pelos Governos liderados por José Sócrates, os portugueses já estão suficientemente familiarizados com a língua inglesa para ser necessário recorrer à língua portuguesa para transmitir qualquer mensagem; depois, a verdade é que este equipa governativa é muito simplesmente "para inglês ver". Tem lógica!
(Para eventuais desenvolvimentos, cá estaremos atentos, ainda que só por mais uns dias. Valete!