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O Orçamento do Estado para 2015 é um caso de estudo. Várias cenouras (ainda pequeninas, mas sugere-se que possam crescer) vão sendo lançadas a esses setores das classes médias: o quociente familiar, a ampliação das deduções à coleta, os vales de educação. Do outro lado da balança, há o corte de 700 milhões na despesa com educação e a redução em 100 milhões da verba destinada às prestações sociais não contributivas (complemento solidário, abono de família, rendimento mínimo, subsídio social de desemprego).
Claro que a punção fiscal continua de tal monta (aliás subindo!) que não será a atual maioria de direita a beneficiar desta brecha no apoio público ao Estado social. Seja por via dos combustíveis, ou do IMI, ou das taxas "verdes", ou do IRS, ou do preço da eletricidade, virtualmente nenhum setor das classes médias lucrará um par de euros. E estas são certamente das primeiras a dar-se conta dos truques e engodos do Orçamento, de que as rábulas da sobretaxa e da cláusula de salvaguarda são prova bastante.
Mas todos quantos, à direita ou à esquerda, desejam que Portugal continue alinhado com o modelo social europeu devem evitar cair na armadilha de pensar que um pouco menos de impostos seria justificação bastante para fragilizar ainda mais a rede social. Esse é o princípio do fim do contrato democrático.»
(Augusto Santos Silva. Na íntegra: aqui)
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