segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O dia em que nem tudo são vitórias

O PS foi não só o partido mais votado (37,67% dos votos) como o que recolheu maior número de mandatos e recuperou, em relação às anteriores eleições autárquicas, 21 presidências de Câmaras Municipais. Tem, pois, razões para festejar, embora os festejos tenham que ser comedidos, pois o PSD continua a ter o maior número de presidências (140 contra 131 do PS) . O registo da moderação foi, aliás, o utilizado por José Sócrates ao pronunciar-se sobre as eleições, pese embora o especial sabor da vitória alcançada em Lisboa, onde a lista do PS, liderada por António Costa, bateu toda a direita coligada com Santana Lopes.

O PSD, apesar de continuar a ter o maior número de presidências, não tem, a meu ver, grandes motivos para se regozijar, não só porque perde para o PS, algumas dezenas de Câmaras, como perde algumas apostas pessoais da sua líder, casos de Lisboa e Leiria. O que prova que, ao contrário do que esta afirmou, "a escolha dos candidatos [não] foi criteriosa e [não]respondeu aos anseios das populações locais". Isto, para além de outras razões, como é óbvio. E convém ainda lembrar que os resultados alcançados pelo PSD se ficam a dever ao facto de os seus candidatos se apresentarem ao eleitorado em coligação com o CDS em dezenas de casos (mais de sessenta, se não estou em erro). Sem essas coligações, o PSD, a estas horas, não estaria a reivindicar a maioria das presidências de Câmaras, algumas das quais assegurou por pouco mais do que 100 votos 100. Foi o caso da Câmara de Faro.

Quem, por esta altura, deve estar bem arrependido da opção pelas coligações é Paulo Portas, embora, publicamente, se declare satisfeito com “subida moderada” da presença autárquica. E, de facto, tem razão para estar arrependido. Com estas eleições, o CDS, ao prestar-se a servir de muleta para o PSD nas coligações, transferiu para este uma boa parte dos ganhos recentemente adquiridos nas eleições legislativas. Ao fazê-lo "por três réis de mel coado" sai destas eleições como um perdedor, sem apelo nem agravo. Reconheço, no entanto, que Paulo Portas tem desculpa, pois nunca lhe deve ter passado pela cabeça, nem nos momentos de maior optimismo, que o CDS viesse a alcançar, nas legislativas, o resultado que obteve. Nem ele, nem ninguém. Nem as sondagens, como é sabido.

Louçã, a meu ver e já o disse no "post" anterior, saiu, destas eleições, atropelado e aos trambolhões. E o Bloco também, como é claro.
O PCP que, do meu ponto de vista, até teria alguma razão para estar satisfeito com os resultados, pois, em termos de poder autárquico, continua a manter-se como a terceira força política (que já era) depois de ter descido para a quinta posição nas legislativas, parece estar a digerir mal a derrota sofrida em Aljustrel, em Beja e na Marinha Grande. A derrota em Beja, a primeira depois do 25 de Abril e logo com a obtenção de uma maioria absoluta por parte do PS deve, de facto, ser dura de roer. Jerónimo de Sousa confirma.
Para compor o ramo deste dia em que nem tudo são (foram) vitórias, ainda temos as eleições de de Isaltino Morais e Valentim Loureiro para prova de que há vitórias que, envergonhando-nos, são derrotas.