Comentando a entrevista de Aguiar Branco publicada no "Expresso" da semana passada, Miguel Sousa Tavares (MST), na edição de hoje do mesmo semanário, escreve, na sua crónica habitual, este excerto:
"Não percebi por que razão José Pedro Aguiar Branco, que foi um ministro da Justiça consensual, não regressou agora ao cargo, para continuar o que estava a fazer (*). Parecia-me que isso seria sentido de serviço público, enquanto que a pasta da Defesa é apenas um lugar burocrático-decorativo. Mas, ao ler a sua entrevista na última edição do Expresso, percebi a razão: foi vaidade apenas. Começa pela fotografia, que, já de si diz tudo: de pé, encostado às muralhas do Forte de S. Julião da Barra, o olhar no horizonte para onde partiram os Gamas e os Albuquerques, em pose de quem saiu directamente dos painéis de S. Vicente, nota-se que ele não prima pela modéstia. O que logo se confirma na extraordinária resposta à primeira pergunta (se sente bem no fato de ministro da Defesa): "é uma missão de soberania que vai ao encontro da minha maneira de ser" (oh,pá!). Pois a sua noção de missão de soberania dá-lhe para passar toda a entrevista a dizer mal do governo anterior, a quem atribui todas as responsabilidades pela situação passada, presente e futura, incluindo até a autoria do próximo Orçamento do Estado! E vai tão desbragado no seu combate ao fantasma de Sócrates que acaba a dizer que até as promessas do Governo de Hugo Chávez de investir nos Estaleiros de Viana do Castelo (sob sua jurisdição), se traduziram em nada. Ora, consta na imprensa que foi justamente a confirmação de uma encomenda da Venezuela que permitiu, por ora, salvar os Estaleiros e 400 postos de trabalho - um problema para o qual ele não tinha a menor ideia de solução. O senhor ministro, continuando grandioso, devia ser mais cauteloso."
(*) Aqui está um ponto em que sou forçado a não acompanhar o julgamento de MST. Até se pode estar de acordo com a afirmação de que Aguiar Branco foi um ministro da Justiça consensual, mas não pela acção desenvolvida e sim pela inacção. Não me custa a crer, aliás, que o próprio Aguiar Branco, tendo consciência disso, não tenha querido regressar ao posto anterior. Para fazer o quê?
Dá-se o caso de, em tempos, ter apelidado o actual ministro da Defesa de uma "quase-nulidade". A entrevista comentada por MST propicia-me uma excelente ocasião para retirar o "quase".
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