sábado, 22 de outubro de 2011

"A prioridade do Governo não é cortar o défice é cortar salários"

"Concorda com o Presidente da República em relação à injustiça das novas medidas de austeridade?
Sim. Estas medidas terão um impacto recessivo maior do que se esperava. É completamente iníquo.

Serão eficazes contra o défice?
Não me parece que a prioridade do Governo seja o défice público, mas os custos salariais. Está a ser aplicada uma fórmula para ganhar competitividade que passa por gerar desemprego, aumentar o horário de trabalho e flexibilizar a legislação, conseguindo assim baixar o nível geral dos salários. É um modelo que sempre foi discutido, mas nunca foi aplicado com esta dureza. E estou convencido de que não funciona em Portugal.

Porquê?
As famílias estão demasiado endividadas. Esta fórmula até pode dar resultado se o ajustamento necessário for pequeno e as famílias tiverem menos dívidas. Neste caso, vai provocar um aumento significativo do incumprimento junto da banca.

Não é só o problema da equidade; há ainda a estratégia económica?
Parece-me que a preocupação do Presidente foi chamar a atenção para o problema da equidade, mas também para o facto de as medidas serem erradas. A estratégia é, de facto, errada.

Que alternativa preferiria?
O mais justo seria introduzir uma regra no IRS aplicada a todos. Mas, ao contrário da sobretaxa deste ano, os rendimentos de capital também teriam de ser incluídos.

Existe o risco de uma escalada na tensão social?
Quando se tira dois meses de reforma, não se está apenas a tirar rendimento, mas a confiscar património acumulado. As pessoas não são parvas. Haverá protestos permanentes."
(...)
(Extracto de entrevista a João Ferreira do Amaral.Na íntegra, aqui)

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