A vitória de Passos Coelho nas "directas" ontem realizadas para eleição do presidente do PSD não constitui, de per si, nenhuma surpresa, já que as sondagens, entretanto realizadas, por pouco credíveis que fossem, segundo os especialistas, já apontavam para esse resultado. As surpresas surgem quando se olha para os números, que traduzem uma vitória folgada: 61,06% para Passos Coelho, contra 34,47% para Paulo Rangel, 3,61% para José Pedro Aguiar-Branco e 0,23% para Castanheira Barros.
Ora, estes números significam que, não obstante a candidatura de Aguiar-Branco ter sido cilindrada pela bipolarização criada à volta de Passos Coelho e Paulo Rangel, nem assim este conseguiu uma votação que pudesse ombrear com a do vencedor. Daí que se possa dizer que, dada a bipolarização, os grandes vencidos tenham sido Paulo Rangel e os "caceteiros" que o acompanhavam (J. Pacheco Pereira e V. Graça Moura, p.e) a par de pessoas estimáveis, como António Capucho. De facto, o candidato Castanheira Barros não contava e tanto assim que, no discurso de vitória, Passos Coelho nem a ele se referiu (o que não condiz muito com o perfil que dele traçam) e Aguiar Branco, dadas as circunstâncias, também já não podia alimentar grandes esperanças.
Recambiado para o Parlamento Europeu, o taumaturgo de verbo fácil (mas que, afinal, nem no interior do partido faz milagres) fica o PSD entregue a Passos Coelho e ele sim pode vir a constituir uma grande surpresa (boa ou má) porque, de facto, politicamente, Passos Coelho é uma melancia por abrir. Sabe-se que representa uma corrente mais liberal dentro do PSD e que é uma pessoa cortês, mas, como é óbvio, tais dados são insuficientes para lhe definir a estatura como político.
Natural é, pelas ideias que perfilha, que venha a ser uma má surpresa para Paulo Portas e para o CDS, que, com um PSD mais inclinado para a direita, poderão ver travada a ascensão verificada nos últimos tempos. Diria o contrário para Sócrates e o PS, mas muito dependerá de outros factores. Se Passos Coelho for capaz de traçar um rumo e de apresentar soluções alternativas credíveis, deixando para trás a política do "bota-abaixo" da direcção antecessora, tudo pode acontecer.
Como não sou futurólogo direi: veremos.
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