Tenho por bem assente que a próxima eleição para a liderança do PSD não vai acabar com as facções que se têm vindo a degladiar no seio do partido, contribuindo, por essa forma, para o seu enfraquecimento. Como é notório.
Para começar, o actual sistema de eleição não ajuda, pois, não havendo segunda volta, é eleito o candidato que obtenha o maior número de votos. Concorrendo mais de dois candidatos é difícil que algum deles venha a obter mais do que uma maioria relativa, sendo, inclusive, de admitir que, tal como aconteceu nas anteriores "directas", o candidato vencedor não fique a grande distância de um ou dos dois candidatos vencidos. À partida, um tal resultado diminui a legitimidade e a autoridade do vencedor. Como é óbvio.
Depois, também é verdade que nenhum dos actuais três candidatos à liderança reúne, nem as condições, nem as qualidades para conseguir a desejável unidade.
De facto, é, desde logo, evidente que as três candidaturas são portadoras de projectos políticos diferentes: mais social-democrata a de Aguiar Branco; mais conservadora a de Rangel; e mais liberal a de Passos Coelho.
Mas se há diferença de projectos, o mesmo se pode dizer em relação aos candidatos, também eles com personalidade bem distinta:
Aguiar Branco, a correr sob o lema da unidade, é uma pessoa aparentemente cordata, mas falta-lhe, a meu ver, carisma e tem um discurso pouco entusiasmante, pelo que é natural que não venha a galvanizar o eleitorado, ainda que ele seja, julgo eu, aquele que dos três teria mais condições para estabelecer consensos e alcançar a unidade que proclama.
Paulo Rangel surge como o candidato da ruptura, embora, paradoxalmente, venha na linha de continuidade da actual direcção que, dizem, o apadrinhou. O seu estilo palavroso e agressivo pode vir a gerar entusiasmo entre os militantes ansiosos por chegar de novo ao poder e tal pode vir ser um factor relevante nesta eleição. Ele é, no entanto, dentre todos os candidatos, o que mais dificilmente conseguirá unir o partido. Por um lado, é um facto que já criou grandes anticorpos no interior do PSD. Por outro, o seu conservadorismo (por alguma razão, pretendeu esconder a sua militância no CDS) e a pouca credibilidade em termos de respeito pelos compromissos assumidos (Aguiar Branco que o diga) não são de certo bons augúrios para atingir aquele objectivo.
Mudar é o lema de Passos Coelho que tem, de resto, legitimidade para falar em mudança, pois ele encabeçou, nas anteriores "directas", uma corrente que tem vindo a ser qualificada de liberal e, durante o mandato da actual direcção, não só não se afastou dessa orientação, como tem surgido como seu representante. Só que o lema da mudança, bem vistas as coisas, tem também o significado de corte com o passado e o corte traduz-se, afinal, em ruptura. E lá estamos de novo caídos em facções.
O mais certo, pois, é que as lutas internas, seja qual for o vencedor, estejam para ficar e durar.
Demonstratum quod erat demonstrandum, diria, para finalizar, que as opções até agora conhecidas não são de molde a gerar grande entusiasmo entre os militantes do PSD, pois, se bem julgo, nenhum dos candidatos reúne condições para vir a ganhar eleições legislativas, porque também nenhum deles tem perfil para desempenhar o cargo de primeiro-ministro:
Aguiar Branco tem a seu favor o parecer uma pessoa sensata e o facto de ter alguma experiência política, quer como deputado, quer como ministro da Justiça. Falta-lhe, no entanto, carisma e o seu discurso é tudo menos entusiasmante, como já disse. E também é verdade que a sua passagem pelo Ministério da Justiça, além de breve, não deixou rasto.
A Rangel não falta discurso. No entanto, o que lhe sobra em palavras, falta-lhe em actos, ou seja, é palavroso, mas inconsequente. E há abundantes provas disso. Para além de que tem agressividade a mais e sentido das conveniências (ou de Estado) a menos: as suas intervenções no Parlamento Europeu não têm outro significado. Até os seus companheiros de partido o reconhecem. Finalmente, da sua passagem pelo Ministério da Justiça, como secretário de Estado, não reza a história. Simplesmente.
Passos Coelho não tem qualquer experiência governativa. A aposta nele é, pois, uma aposta de alto risco. Vivendo o país dias difíceis, quem se disporá a arriscar nele ?
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