Em boa hora, Fernando Lima, o assessor de Cavaco, entendeu por bem dar a conhecer, através de um escrito ("A minha verdade") publicado no "Expresso" de ontem, a sua versão sobre o "caso das escutas". E digo em boa hora, porque o escrito de Lima (sem pés, nem cabeça) vem adicionar-se ao discurso (sem cabeça, nem pés) de Cavaco sobre o mesmo assunto, ficando assim demonstrado, ex abundante, que a verdade não mora em Belém.
Senão vejamos:
Para Lima, toda a história não passou de "uma teia bem urdida pelo fértil imaginário dos criadores de 'factos políticos" e nasceu de uma resposta impaciente a perguntas sobre se havia ou não assessores do Presidente a colaborar na elaboração do programa eleitoral do PSD, resposta que assumiu a forma da seguinte pergunta: "Se não há registo de participação pública, como é que sabem o que faz cada um na sua vida privada ? Andam a vigiar os assessores?"
Tanto bastou para que, no dizer de Lima, o "Público" (então dirigido pelo insuspeito de conluio com o "inimigo", José Manuel Fernandes) tivesse transformado, em 18 de Agosto do Verão passado, uma resposta irada, no título de capa do jornal de 18 de Agosto: "Presidência suspeita estar a ser vigiada pelo Governo”.
Ainda segundo Lima, tudo teria ficado por aqui, não fora o DN ter publicado o "e-mail" dirigido por Luciano Alvarez ao correspondente do jornal na Madeira, Tolentino da Nóbrega, relatando, se bem recordo do teor do "e-mail" vindo a público, uma conversa mantida com o Fernando Lima (que, na versão deste, não passa de suposta) em que este deu conta das suspeitas existentes na Presidência sobre o comportamento de um assessor do primeiro-ministro durante uma visita do Presidente à Madeira e solicitou a realização de diligências por parte do "Público" com vista ao esclarecimento do caso.
Ainda segundo Lima, tudo teria ficado por aqui, não fora o DN ter publicado o "e-mail" dirigido por Luciano Alvarez ao correspondente do jornal na Madeira, Tolentino da Nóbrega, relatando, se bem recordo do teor do "e-mail" vindo a público, uma conversa mantida com o Fernando Lima (que, na versão deste, não passa de suposta) em que este deu conta das suspeitas existentes na Presidência sobre o comportamento de um assessor do primeiro-ministro durante uma visita do Presidente à Madeira e solicitou a realização de diligências por parte do "Público" com vista ao esclarecimento do caso.
Convém, neste passo, recordar que no "e-mail" (que, num primeiro momento, foi apodado de forjado, mas cuja existência veio a ser posteriormente confirmada) Luciano Alvarez afirma que a diligência de Fernando Lima junto do próprio Alvarez era do conhecimento do Presidente da República, facto que, na versão Lima, não é verdadeiro.
E, com isto, já temos pano suficiente para concluir que a "verdade" de Fernando Lima é curta, não só, porque omite a reincidência do "Público" na publicação de notícias sobre as suspeitas, porque tal lhe mataria, à nascença, a história que agora aparece a contar, mas também porque qualifica de suposto o encontro com Luciano Alvarez, sobre cuja existência ninguém hoje tem dúvidas.
Mas mais: a "verdade" de Lima enfrenta, também, não só o desmentido de José Manuel Fernandes (que veio posteriormente a esclarecer, em sua defesa, que, em contacto com um membro da Casa Civil do Presidente da República, lhe foi revelado, pelo interlocutor, estar autorizado a tornar pública a existência das suspeitas) mas também a afirmação de Luciano Alvarez que no "e-mail" refere ter Fernando Lima invocado o nome de Cavaco. Porque não desmente Lima estas afirmações? Porque não pode. Ele sabe que, neste caso, quem fala verdade é o "Publico" pela voz de Fernandes e de Alvarez. Só assim se explica, como é bom de ver, que estando as notícias do "Público" na origem de todo o caso, nunca tenha surgido, nem da parte de Cavaco Silva, nem de Lima, nem de qualquer outra fonte de Belém, qualquer desmentido relativamente às notícias do "Público" antes da publicação do "e-mail", nem qualquer manifestação de censura ou de recriminação dirigida ao jornal então dirigido por JMF, depois de conhecido o seu teor.
Sobra uma pergunta: Como explicar que só agora, tarde e a más horas, surja a "verdade" de Lima?
A pergunta não se justifica tanto pela extemporeneidade, quanto sobre a dúvida relativa à sua utilidade, do ponto de vista de Belém. Pelo que fica dito, a versão de Lima não só não colhe, porque os factos conhecidos a contradizem, como nada adianta ao que já se sabia. De facto, a "verdade" de Lima só contribui para reavivar a memória sobre o desempenho de Cavaco Silva em todo o caso, logo agora que estava a recuperar do nível de popularidade negativa que a sua desastrada actuação em toda a história e o seu inenarrável discurso lhe tinham justamente trazido. Belém, pelos vistos, está muito mal servido de assessores!
E, para rematar, uma última pergunta: como se compreende que Cavaco Silva conserve na sua Casa Civil a pessoa a quem ficou a dever, como é público e notório, o envolvimento no caso e que agora, com este depoimento extemporâneo e falho de credibilidade em nada contribui para melhorar a imagem do inquilino de Belém?
A resposta, a meu ver, só pode ser esta: Cavaco Silva está refém de Fernando Lima e da verdade na sua posse a qual, forçosamente, está muito longe da "suposta" verdade agora debitada. É que esta (a suposta) permite-lhe manter as dúvidas até porque a memória de muita gente é curta. Aquela (a verdade verdadinha) ser-lhe-ia fatal: para a imagem que cultiva e para a sua eventual recandidatura.
1 comentário:
Isto é como aquele aforismo "a verdade a que temos direito!"
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