Duvido que ainda haja aí alguém, com dois dedos de testa, incluindo os muitos que aplaudiram a constituição do governo "mínimo" que Passos/Coelho andou a congeminar durante uns meses, que continue a considerar como uma boa solução a concentração no ministério da Economia e do Emprego, entregue à responsabilidade de Álvaro dos Santos Pereira, sectores tão diferentes como a economia, o emprego, os transportes e a energia e de juntar num mesmo ministério,
entregue a Assunção Cristas, a gestão da agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território, pois para tal concentração não se encontra nem lógica, nem justificação. E também não creio que alguém considere ainda que as individualidades escolhidas seriam as pessoas indicadas para arcar com tamanha responsabilidade, pois é óbvio que Santos Pereira, sendo um académico, não tinha, no entanto, qualquer experiência de gestão compatível com as exigências requeridas pelo super-ministério, nem, expatriado que era, tinha grande contacto com a realidade do país e que Assunção Cristas, para além de não ter experiência de gestão, também não tinha, nem tem, qualquer preparação em relação às áreas que tutela.
Que tenhamos, em consequência, vindo a assistir à transformação dos dois super-ministros em alvos fáceis de risota, não espanta ninguém: Álvaro dos Santos Pereira, em termos de imagem, passa por ser o ministro da bandeirinhas e dos pastéis de nata e Assunção Cristas é a ministra das gravatas, ou antes, da ausência delas. Culpa de um e doutra, sem dúvida, já que a imagem que se lhes colou é fruto de iniciativas de um e de outra, mas a responsabilidade maior é, sem dúvida, de quem concebeu uma estrutura de governo não funcional e de quem escolheu aquelas pessoas: Passos/Coelho, obviamente. Este, que não é tão burro quanto o título pode indiciar, já se apercebeu que meteu o pé na argola e que o governo por ele engendrado não tem modos de funcionar. Todavia, como tem mais de teimoso do que de burro, não dá a mão a torcer e em vez de proceder a uma reestruturação da orgânica do governo e, em consequência, a uma remodelação, anda, por caminhos ínvios, a levar a cabo uma remodelação encapotada traduzida, para já, na constituição de equipas ou grupos de trabalho a quem é entregue a responsabilidade por sectores integrados no âmbito da competência do ministro Álvaro dos Santos Pereira. É o que se passa com o acompanhamento das privatizações, as renegociações da parcerias público-privadas, a reestruturação do sector empresarial do Estado e a coordenação do programa de emprego jovem atribuída a Relvas (este sim um super-ministro que toca em tudo) e o mais que adiante se verá. O ministro da Economia e do Emprego, por este andar, qualquer dia mais não faz do que passear-se pelos corredores. O ministério de Assunção Cristas, até agora, ainda não sofreu qualquer esvaziamento, mas não é, seguramente, porque esteja a funcionar. Não é preciso ter grande imaginação para supor que tal se deve apenas e só ao facto de Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros em parte incerta e líder do CDS, não estar pelos ajustes.
Não se vê que linha de pensamento ou que estratégica está na base desta remodelação encoberta, tão avulsas e descoordenadas são as medidas tomadas. O que mais parece é que é tão só fruto da teimosia e da burrice e como tal é de esperar que venha a dar maus resultados. Aliás, já está a dar: a última reunião do Conselho de Ministros, ao que conta a comunicação social, transformou-se numa barafunda, com o ministro Álvaro dos Santos Pereira a contestar, com o apoio de vários ministros, a transferência da gestão dos fundos do QREN para a tutela do ministro Gaspar. Para já e por aqui fazem-se votos para que a próxima reunião não termine à batatada.
No meio de toda esta confusão só não compreendo como é que Álvaro dos Santos Pereira, perante tantas e reiteradas desautorizações e provas de falta de confiança, ainda não tomou ele a iniciativa de bater com a porta. Não imaginava, depois de assistir às suas aguerridas intervenções no Parlamento, que tivesse tão "boa boca". Porventura é só mais um que é forte com quem está na mó de baixo e fraco em relação a quem está na mó de cima. Há por cá muita gente dessa estirpe.