domingo, 4 de maio de 2014

O homem que mordeu o cão

Passos Coelho, Portas e Maria Luís Albuquerque que,  ainda há poucos dias, haviam garantido que não estavam previstos nem novos aumentos de impostos, nem novos cortes, acabam de dar razão a quem acha que se alguma característica pode, com inteira justiça, ser atribuída a este governo é a sua fraca/nula relação com a verdade. Pouco dias volvidos, aí está o Documento de Estratégia Orçamental que desdiz, ponto por ponto, tudo o que antes fora anunciado. Não só é aumentado o IVA, como sobe a contribuição dos trabalhadores para a segurança social. Trata-se, num caso e no outro, de subidas marginais (0,25% num caso e 0,2%, no outro) é certo, mas qualquer dos aumentos está em contradição com o que antes fora garantido. Com a agravante de o agravamento (passe o pleonasmo) incidir sobre as mesmas vítimas desde que este (des)governo entrou em disfunção: os trabalhadores.
Não se pode dizer que, desta vez, a mais recente aldrabice de Passos Coelho, Portas & Cª não tenha sido objecto de múltiplos comentários desfavoráveis nos media. Para dizer a verdade, eu que já vi passar em claro, nos media, quando não com aplauso, medidas bem mais gravosas e mentiras bem mais descaradas (a começar nas debitadas durante toda a campanha eleitoral que deu o excelente resultado que está à vista de quem não for cego, ou não fechar os olhos), confesso que esta reacção desfavorável, tão desproporcional em relação a outras no passado, não me surpreende, pois tem uma explicação simples: desta feita, as medidas não se dirigem, em primeira e única linha, às vítimas preferidas da corja que está no poder (funcionários públicos, reformados e pensionistas) pois também atingem quem trabalha na comunicação social. Se nos lembrarmos da comoção que varreu o país, há um ano e tal, com o anúncio do aumento da TSU,  podemos ver na actual reacção dos media a estas medidas, uma réplica daquela outra, réplica  menos violenta, é verdade,  mas apenas porque a medida também é menos gravosa. 
Quererei eu, com este arrazoado, minimizar o interesse da contestação em curso? De forma alguma, pois se alguma coisa desejo é que a contestação a este governo cresça de dia para dia, já que se trata, a meu ver, de um governo ilegítimo, porque nascido da fraude, digam os juristas o que disserem, julgue Cavaco o que julgar.Um dia a menos, com estes farsantes no governo, é um dia ganho para o país.
O que eu quero dizer, na minha, é que o relato sobre as aldrabices deste governo, useiro e vezeiro nessa "arte", já não é notícia, tal como, utilizando o exemplo de escola tão citado pelos jornalistas, não é notícia o facto de um cão ter mordido um homem. Notícia é relatar a estória do homem que mordeu o cão. No caso deste governo, merecedor de notícia seria a eventualidade de Passos ou alguém da Cª ter resolvido falar verdade ao país. Uma notícia de que, pelos antecedentes, não estou à espera, pois a mentira vicia e este governo sofre desse vício desde a nascença.

2 comentários:

Majo disse...

~
~ Um caso sério e problemático para quem tem filhos e netos adolescentes,~
na idade de formação do caráter.

~ São exemplos perniciosos.

~ ~ ~ Uma ótima semana. ~ ~

Anónimo disse...

A mentira funciona como uma droga para esta escumalha. São incapazes de viver sem ela.