sexta-feira, 9 de maio de 2014

Água mole em pedra dura ...*

"(...)
Será talvez uma "maçadoria" mas todos temos o dever moral e político de recordar nesta altura aquele que foi o argumento principal de Passos Coelho, como líder da oposição, para rejeitar o apoio do BCE ao PEC IV e empurrar Portugal para a ajuda externa que devastou a economia e a vida dos portugueses nos últimos três anos: o PSD - vejam bem! - era contra o aumento dos impostos. De facto, embora perante medidas fiscais infinitamente mais ligeiras do que aquelas que o próprio Passos Coelho viria depois a aplicar, o PSD, em resolução escrita apresentada na Assembleia da República, justificou assim a sua decisão de provocar uma crise política em 2011, no auge da crise das dívidas soberanas: "Mais uma vez o governo recorre aos aumentos de impostos (...). Mantém a receita preferida deste Governo: a solução da incompetência. Ou seja, se falta dinheiro, aumentam-se os impostos". Foi em nome desta posição, alegadamente "de princípio", que o país foi lançado nesta aventura irresponsável da ajuda externa. Depois, foi o que se viu. Chegado ao poder e feita a aliança entre o PSD e o partido que se dizia dos contribuintes, todos os impostos, sem excepção, foram aumentados muito mais do que estava previsto no Memorando inicial da "troika" e muitíssimo mais do que estava previsto no PEC IV: a "solução da incompetência" tornou-se um pilar enorme na estratégia orçamental da direita, de par com o corte nos salários e o corte nas pensões. E a coisa, pelo que se vê, promete não vai ficar por aqui. O que o Documento de Estratégia Orçamental nos mostra é que, ao fim de três longos anos de governação, o Governo que prometia acabar com as "gorduras" da administração pública permanece incapaz de cumprir sequer um Guião para a Reforma do Estado mas tem ideias perfeitamente claras sobre os impostos que quer aumentar ainda mais.
Isto, é claro, ultrapassa os limites todos. Que o Governo anuncie um novo aumento de impostos violando uma vez mais os seus compromissos eleitorais e poucos dias depois de vários ministros terem prometido exactamente o contrário, ultrapassa os limites mais elementares da decência. Que Marques Mendes tenha revelado que o Conselho de Ministros chegou a aprovar um aumento ainda maior do IVA e teve de ser a "troika" (!) a convencer o Governo a moderar esse aumento para metade, ultrapassa os limites mais generosos da imaginação. Que, no fim de tudo, Passos Coelho ainda venha dizer que este aumento da TSU e da taxa máxima do IVA não é propriamente um aumento de impostos, ultrapassa os limites da paciência.
(...)
(Pedro Silva Pereira; Para lá dos limites. Na íntegra: aqui)

Obs. Não é fácil repor a verdade dos factos e desmontar as mistificações, quando a direita domina, duma forma sem precedentes, toda a comunicação social, mas a dificuldade não justifica a inacção até porque, como diz o ditado popular "água mole em pedra dura, tanto dá até que fura". Pedro Silva Pereira tem sido uma das gotas de água mais persistentes na denúncia da narrativa posta a circular pela direita. Republicar, neste espaço, as suas intervenções na comunicação social é, além do mais, uma forma de  reconhecer o seu papel na denúncia da política de mentira que é o apanágio deste governo.

1 comentário:

Majo disse...

~
~ Nunca é de mais tudo o que possa demonstrar que estamos à mercê de um governo liderado por um garotão inconsequente, coadjuvado por membros do partido que merece menor confiança dos eleitores.
~~ É caso para perguntarmos:
-- Como terá conseguido PC, a licenciatura em economia?!