quarta-feira, 20 de maio de 2009

Entrevista a Paulo Pedroso na PNETpolítica

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P. A Câmara de Almada é presidida por Maria Emília de Sousa, da CDU, há bastante tempo. Num cenário em que, no que toca a eleições europeias e legislativas, a CDU e o BE, em conjunto, estão com cerca de 20% das intenções de voto, o que o faz crer ser Almada um município ao alcance de um candidato Socialista?

R. Os eleitores fazem as suas escolhas em cada acto eleitoral. Por exemplo, se é verdade que a CDU sempre ganhou as autárquicas em Almada, é também verdade que já perdeu diversas vezes as eleições legislativas. Cada vez mais, cada eleição é diferente de todas as outras, e estou convencido que o PS e eu próprio temos hoje propostas mais adequadas às necessidades de Almada que o PCP. O actual poder autárquico está cansado, perdeu a capacidade de ouvir, comete erros evitáveis, tem dificuldades em adaptar-se ao ritmo da vida urbana em pleno século XXI.

P. No seu anúncio de candidatura disse que se esgotava um ciclo de 35 anos. Que méritos específicos reconhece a esse ciclo e que sinais toma como indiciando o seu fim?

R. Em trinta e cinco anos, Almada passou todo o ciclo das infra-estruturas, acomodou um enorme crescimento, viveu reestruturações significativas que deixaram cicatrizes, mas foram absorvidas. Sem dúvida que a prioridade dada às infra-estruturas e ao imobiliário ajudou esse crescimento, bem como foi dada uma atenção à política cultural que, embora excessivamente centrada em alguns eventos e em alguns equipamentos, é uma mais valia do concelho.
Mas a Câmara deixou construir demais e desordenadamente. A cidade foi ficando sitiada, fechada, cada vez mais bloqueada. Houve incapacidade progressiva de gerir de modo equilibrado o seu crescimento. Não houve capacidade para para gerir com pulso firme os desequilíbrios que o crescimento também acarreta e o mercado estimula, nem para um programa coerente de gestão urbanística do município.
Talvez a gestão do processo de construção do Metro do Sul do Tejo seja o símbolo mais recente e mais caro da incapacidade progressiva de gestão autárquica. O Metro era uma obra necessária que foi muito mal gerida. Por responsabilidade da Câmara, o traçado conflitua com toda a gente e tem várias opções erradas, as obras atrasaram-se mais de três anos, não foram geridas de modo a diminuir os prejuízos para as populações e prolongam-se em novas obras, que mantêm a cidade esventrada, que podiam e deviam ter sido feitas há muito tempo, como os parques de estacionamento. Articuladamente com o Metro, foi imposto um Programa de Mobilidade que reflecte uma concepção autoritária e fechada da vida urbana e não funcionou, não se adapta aos cidadãos reais da Almada de hoje.
Mas há outros. Trinta e cinco anos depois, a Costa da Caparica, que devia ser a jóia da coroa do concelho continua por modernizar; o problema da habitação social continua por resolver; fizeram-se autênticos guetos que são barris de pólvora à espera de um rastilho; o concelho perde todos os dias oportunidades de emprego, graças a investimentos que são desviados para o eixo Oeiras-Cascais-Sintra, que devemos assumir como nosso competidor e face ao qual hoje somos pouco competitivos.


P. Se tivesse que sumariar 3 ou 4 propostas, para as pessoas de Almada perceberem a diferença de uma gestão sua e do PS, quais seriam?

R. Uma vez eleito, revogarei imediatamente o Plano de Mobilidade e substitui-lo-ei por um sistema de circulação eficaz e mais respeitador das pessoas. Darei grande prioridade à afirmação de Almada como centralidade urbana daquilo a que chamo a Cidade do Sul do Tejo, competindo com Oeiras, Cascais e Sintra por todos os investimentos de relevância metropolitana, aproveitando todas as oportunidades que se abram, para compensar as que se perderam. Procederei à revisão de toda a gestão urbanística da frente de praias, animando-as para que, da Trafaria à Fonte da Telha, tenhamos mais de duas dezenas de kilómetros de costa com vida doze meses por ano, com muito maior qualidade urbanística, e, no Verão, menos superlotadas e com acesso ordenado. Reverei de alto a baixo a política social de habitação, acabando com a construção de novos bairros sociais e sua substituição por uma política de inclusão social das pessoas desfavorecidas em diferentes zonas. Não hesitarei em tomar as medidas necessárias para a melhoria da situação de segurança, criando uma polícia municipal que possa libertar a PSP e a GNR de outras tarefas para as funções de segurança, introduzindo, em articulação com o comércio local, zonas com vídeovigilância e, sobretudo, estimulando a que policiamento de proximidade, melhor iluminação pública e comércio a abrir mais cedo e fechar mais tarde potenciem a segurança urbana.
Nenhuma destas medidas aconteceria se os eleitores voltassem a dar a maioria ao PCP.


P. Consideraria governar Almada em coligação? Eu sei que a pergunta é especulativa, mas procuraria antes de mais um entendimento em que parceiros?

R. Estou convencido que, pelo meu perfil de acção política, sou capaz de gerar consensos em torno de soluções concretas e que os autarcas de várias forças políticas estarão disponíveis para colaborar nesse esforço, desde que recebam a consideração e respeito que merecem como representantes eleitos do povo. Garanto-lhes esse tratamento que nunca existiu no município.
A política local deve ser independente dos directórios partidários. Estarei completamente disponível para atribuir pelouros aos vereadores que tenham interesse e condições para os assumir. No contexto local, é possível gerar proximidades e é necessário e urgente mudar a autarquia para que melhore. Nesse esforço, ninguém estará a mais.
Admito que com o PCP será muito difícil um entendimento, dada a dificuldade que terá, trinta e cinco anos depois, em adaptar-se ao estatuto de força minoritária e os tiques autoritários que desenvolveu.
Mas devo dizer que não é só o PS que denuncia o marasmo a que chegou a gestão municipal, as outras forças políticas também estão a ter uma intervenção decidida no combate aos erros do poder comunista. O PCP é uma força isolada no concelho e que os seus desmandos são alvo de crítica unânime e sistemática de todas as forças políticas locais, o que diz bem de quanto o actual poder está separado da diversidade de modos de sentir da população. Acredito que esse isolamento se reflectirá já nas próximas eleições autárquicas.
O poder e a palavra está nas mãos dos cidadãos. Nas últimas autárquicas, mais de metade não votaram. Apelo a todos que escolham. Nós, os políticos, teremos que saber interpretar as suas escolhas com humildade. A actual maioria pensa julga-se dona do concelho, mas ninguém possui as escolhas dos cidadãos.

(Entrevista conduzida por Carlos Santos e publicada aqui )

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