A subtracção, ou melhor dizendo, o roubo puro e simples de parte dos depósitos bancários imposto pelos líderes europeus a Chipre, como condição da prestação do auxílio financeiro de que o país necessitava, pode ser visto como o equivalente à libertação de uma legião de demónios que só pode ter como consequência lançar aquele país no caos, porque abala a confiança no sistema financeiro cipriota produzindo um efeito que é precisamente o contrário do pretendido, pois tinha o objectivo de "fazer frente à débil situação do sector bancário", situação que se era débil mais debilitada ficou. De facto, não é difícil antever que a banca cipriota vai ter que enfrentar um levantamento maciço de depósitos, assim como é fácil prever que em Chipre se vai assistir a um incremento exponencial de fuga de capitais do país.
O mais difícil, como se costuma dizer, é dar o primeiro passo. Dado este, outros com toda a facilidade se podem seguir, pelo que não é de desprezar a probabilidade de os líderes europeus virem no futuro a tomar medidas idênticas em relação a outros países sujeitos a resgate e submetidos à intervenção e supervisão estrangeiras, como é o caso de Portugal, da Grécia, da Irlanda e, de algum modo, da Espanha e da Itália.
Se tal vier a acontecer, é mais que evidente que a União Europeia deixará de existir tal como hoje é concebida, pois o descalabro atingirá toda a Europa.
Como é que gente supostamente inteligente pelos cargos que ocupa toma medidas tão estúpidas é para mim um mistério só compreensível à luz dos interesses dos países europeus economicamente mais fortes, com a Alemanha à cabeça, países cujos bancos vão ser procurados como refúgio para os capitais expatriados. Outra explicação não vejo, tal é o tamanho do erro.
Não sei qual a posição tomada pelo governo de Coelho e pelo "impressionante" e "inconcebível" ministro Gaspar a propósito das medidas impostas a Chipre. Não sei, mas aconselho um e outro a porem as barbas de molho.
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