domingo, 28 de setembro de 2008

A DesOrdem dos Médicos


Parece inquestionável que as Ordens profissionais têm funcionado menos como entidades responsáveis pela disciplina e deontologia dos seus membros, como lhes cumpre, enquanto instituições de natureza pública e mais como grupos de pressão na defesa de interesses corporativos, mesmo pondo em causa o interesse público que é suposto defenderem. Nesse aspecto, a Ordem dos Médicos leva a palma a todas as outras, incluindo a Ordem dos Advogados que também não tem deixado os seus créditos por mãos alheias (diga-se, à laia de comentário lateral) mas que não conseguiu impedir o surgimento de cursos de Direito como cogumelos após as chuvadas outonais, com a consequente inflação do número de licenciados em direito.
A Ordem dos Médicos, no entanto, com a complacência de sucessivos governos, conseguiu tal feito, daí derivando a actual falta de médicos portugueses, resultado que já há anos tinha sido previsto e é agora evidente:Portugal já tem 4287 médicos estrangeiros a exercer no país e vai avançar com novos acordos para a contratação de mais profissionais.
Faltando médicos em Portugal, não resta outra alternativa senão recorrer a médicos estrangeiros, onde os haja disponíveis, pois a hipótese contrária nem sequer é admissível: Acima de quaisquer outras considerações está a saúde dos portugueses.
É possível que, com o alargamento do "numerus clausus" já concretizado, a formação de médicos em Portugal venha atingir, dentro de alguns anos, o número desejável.
Até lá, graças aos interesses ilegítimos de alguns e à desatenção (no mínimo) de outros mais, teremos que contar com o concurso de médicos estrangeiros, esperando e agradecendo que os haja.
ADENDA: A Ordem dos Médicos concorda com contratação de mais profissionais estrangeiros, anuncia o PUBLICO.PT . Com ou sem a concordância da Ordem, o importante é que venham. Aliás, se a Ordem dos Médicos não concordasse, bem se podia dizer que "fazia o mal e a caramunha". Desta vez não foi por aí e ainda bem.
(A imagem é daqui)

4 comentários:

Anónimo disse...

Em 1976 fui das primeiras vítimas dos "numerus clausus" no acesso a medicina,(após o famoso serviço cívico num hospital e de um ano perdido em consequência, por escassas décimas. Trinta anos depois foi a vez de um filho sofrer do mesmo processo selectivo. Para que a história não se repita, sem ajudas de qualquer espécie, está a terminar o curso de medicina em Espanha.
No final será avaliado com prova de compreensão de língua portuguesa e classificado com 10 valores. Se passar no exame de especialidade o país ganhará um médico a custo zero. É assim desde há séculos. Quem tem um sonho, vai oferecer a ideia e pedir apoio a Espanha. Já foi assim com Fernão de Magalhães ... Séculos depois, ensinamos nossas crianças que era um português ao serviço de Espanha, não explicamos é por que motivo não lhe demos crédito e oportunidade.

Francisco Clamote disse...

O seu comentário é pleno de oportunidade. Está visto que, nós, os portugueses, se bem que ousados, também somos parvos.

Meg. disse...

Meu caro Francisco,

"A DesOrdem dos Médicos"chamou
minha atenção.
Aqui no Brasil o atendimento em
hospitais públicos,principalmente
nas "especiadades",causam angústia e espera...
Os médicos se dizem sobrecarregados e pleiteiam melhores salários,"condições" de
trabalho,etc.
Penso que esses devem ser alguns dos motivos para a emigração...
Culpa de quem??? Do povo?Talvez...
E assim continuará por mais 500anos.

Anónimo disse...

Apoiados tb. comentários. O indisfarsável corporativismo das nossas Ordens Profissionais (mais visíveis Médicos e Advogados,tem sido o maior obstáculo às políticas de Saúde e de Justiça no nosso país.
Impõe-se repensar o modelo de poderes públicos conferidos a estas organizações de profissionais, impedindo-as de fazer resvalar para a defesa exclusiva e encoberta de interesses de classe em vezda defesa do interresse público.O Corporativismo continua a imperar ainda na nossa sociedade, aqui defendida a Bastonário. Zé Mário