Este "post"em que se questionava a legitimidade da Fenprof para pedir responsabilidades políticas à ministra da Educação mereceu um primeiro comentário discordante por parte de um "Anónimo" que mais tarde deixou de o ser, ao identificar-se como o nome de Mário Moreira. Em socorro do "bloguista" da casa, surgiu depois um outro "Anónimo", tendo-se na sequência estabelecido um diálogo entre os dois, sem qualquer interferência aqui da "casa". Como o diálogo entre os dois visitantes foi dado por findo, regresso eu ao tema, trazendo-o da pouca visibilidade da "caixa de comentários" para a luz do dia da página do blogue, para fazer umas quantas observações, sem pretender (que fique claro) ter a última palavra sobre o assunto.
1- Retomo e reassumo a minha afirmação de que nem a FENPROF, nem os seus dirigentes, enquanto tais, incluindo o Mário Nogueira, têm legitimidade para pedir responsabilidades políticas ao Ministério da Educação e por uma razão muito simples que é a de que as organizações, com natureza de pessoa jurídica, ou, o mesmo é dizer, de pessoa colectiva [falo, p.e., de associações (sindicais, patronais ou outras) de fundações, sociedades, cooperativas, etc.] se regem pelo princípio da especialidade, princípio que se traduz no facto de a sua capacidade jurídica estar limitada à prossecução dos fins (ou objecto) constantes dos respectivos estatutos.
Ora, que eu saiba, e com a devida ressalva dos partidos políticos, não há em Portugal qualquer outro tipo de organização que tenha entre os seus fins o exercício da actividade política e, de qualquer forma, não é o caso da Fenprof, a quem, como às demais organizações sindicais, é vedado, pela lei, o exercício de tais actividades.
Significa isto que as associações sindicais não poderão exercer, pelos meios que entendam, a defesa dos interesses dos trabalhadores que representam ? Obviamente que não. Têm, aliás, à sua disposição, toda uma panóplia de instrumentos de que podem lançar mão, desde as manifestações até à greve e é bom que assim seja. Quem viveu ainda alguns anos sob a ditadura de Salazar e Caetano só pode concordar com o direito de livre expressão e de manifestação e com o direito à greve. É pelo menos o meu caso. O que não pode é confundir-se o exercício de tais direitos com a pretensão de pedir responsabilidades políticas a um ministro, pois com tal pretensão, a Fenprof, em vez de se assumir como associação sindical está a transformar-se em sucursal de um partido político que todos sabemos qual é e do qual, se não erro, o Mário Nogueira é também dirigente. O facto prova que quem veste vários fatos, ao mesmo tempo, tem dificuldade em saber qual o que deve usar em cada uma das circunstâncias. Por último direi que me parece claro que esta colagem a um partido por parte da Fenprof, não lhe trará vantagens nem a ela, nem aos professores que representa. O problema, todavia, não é meu, pelo que passo adiante.
2. No desenvolvimento da discussão, vieram à baila outros temas que me permito também comentar. Antes, porém, importa fazer aqui uma declaração de interesses: Não sou e nunca fui professor, mas há cá em casa quem o tenha sido durante muitos anos e tenho, por essa via, algum limitado conhecimento sobre o assunto. Dito isto, devo confessar que: (i) a profissão de professor é uma profissão extremamente exigente e requer verdadeira vocação, o que nem sempre existirá em muitos dos que actualmente exercem a profissão; (ii) tão exigente a considero que, eu, por exemplo, reconheço não ter as qualidades para desempenhar tal múnus.
3. Passando adiante: Entre os assuntos tratados nos comentários e sobre o qual me parece dever dizer uma palavra figura a questão dos gastos no sector da educação. A este propósito, parece-me que o Mário Moreira (desculpe a informalidade do tratamento) não tem qualquer razão na tese que defende e, a meu ver, é mesmo absurda. O único valor que pode ser considerado para se saber se um país afecta pouco ou muito dos seus recursos a determinado sector tem de ser o da percentagem do PIB. Só em termos relativos é que se pode aferir qual a importância dada ao sector X, face aos demais sectores. Socorrendo-me do seu exemplo, vamos supor que o país A tem um PIB de 500,00 € e o país B um PIB de 100,00 €. Sabido que, em termos absolutos, o país A afecta à educação 50,00€ (10%) do seu PIB, na sua lógica, o país B, para se poder comparar com o país A, em termos de igualdade de tratamento do sector da educação, teria de afectar outros 50,00€, ou seja o equivalente a 50% do seu PIB. Nesse caso, pergunto eu, os outros sectores (Saúde, Segurança Social, Justiça, Segurança Interna, Forças Armadas, Agricultura, Indústria, Comércio, etc.) viviam de quê ? Do ar?
4. Noto, se bem entendi, que o Mário Moreira deixou sem resposta a questão apresentada pelo 2º Anónimo, relativamente aos salários dos professores em Portugal comparativamente com os de vários países da UE, incluindo a França, Alemanha e Holanda. Não é que o assunto me pareça muito relevante. Fica aqui, em todo o caso, o registo.
5. O Mário Moreira refere-se ainda ao muito trabalho (50 horas semanais , muitas ainda por cima não remuneradas). Devo confessar-lhe que tal número não me impressiona minimamente. Fui durante décadas funcionário público e, em quase toda a minha vida de funcionário público, trabalhei mais horas por semana do que o número que apresenta, sem queixumes e sem remuneração extra. Serve-me de desculpa o facto de o exercício das minhas funções ter sido como técnico e em cargos dirigentes (não políticos, esclareço), facto que prova simultaneamente que até pessoas com pouca qualidade, como é o meu caso, podem ser dirigentes na função pública.
6. Compreendo o desconforto e o desagrado dos professores em geral e dos professores cumpridores em particular, perante as medidas levadas a cabo pela actual ministra da Educação. Se calhar, se eu estivesse nessa situação, sentiria o mesmo, porque ninguém aprecia alterações que afectam a nossa vida e contendem com hábitos criados, nem sempre os melhores, diga-se. Tal não significa, no entanto, que os professores tenham razão. A generalidade da população não é dessa opinião, tanto quanto me é dado julgar pelo que ouço.
7. Resta-me, por agora, agradecer aos dois intervenientes no diálogo a sua contribuição para a animação da casa. Saudações cordiais aos dois. E por aqui me fico.
1- Retomo e reassumo a minha afirmação de que nem a FENPROF, nem os seus dirigentes, enquanto tais, incluindo o Mário Nogueira, têm legitimidade para pedir responsabilidades políticas ao Ministério da Educação e por uma razão muito simples que é a de que as organizações, com natureza de pessoa jurídica, ou, o mesmo é dizer, de pessoa colectiva [falo, p.e., de associações (sindicais, patronais ou outras) de fundações, sociedades, cooperativas, etc.] se regem pelo princípio da especialidade, princípio que se traduz no facto de a sua capacidade jurídica estar limitada à prossecução dos fins (ou objecto) constantes dos respectivos estatutos.
Ora, que eu saiba, e com a devida ressalva dos partidos políticos, não há em Portugal qualquer outro tipo de organização que tenha entre os seus fins o exercício da actividade política e, de qualquer forma, não é o caso da Fenprof, a quem, como às demais organizações sindicais, é vedado, pela lei, o exercício de tais actividades.
Significa isto que as associações sindicais não poderão exercer, pelos meios que entendam, a defesa dos interesses dos trabalhadores que representam ? Obviamente que não. Têm, aliás, à sua disposição, toda uma panóplia de instrumentos de que podem lançar mão, desde as manifestações até à greve e é bom que assim seja. Quem viveu ainda alguns anos sob a ditadura de Salazar e Caetano só pode concordar com o direito de livre expressão e de manifestação e com o direito à greve. É pelo menos o meu caso. O que não pode é confundir-se o exercício de tais direitos com a pretensão de pedir responsabilidades políticas a um ministro, pois com tal pretensão, a Fenprof, em vez de se assumir como associação sindical está a transformar-se em sucursal de um partido político que todos sabemos qual é e do qual, se não erro, o Mário Nogueira é também dirigente. O facto prova que quem veste vários fatos, ao mesmo tempo, tem dificuldade em saber qual o que deve usar em cada uma das circunstâncias. Por último direi que me parece claro que esta colagem a um partido por parte da Fenprof, não lhe trará vantagens nem a ela, nem aos professores que representa. O problema, todavia, não é meu, pelo que passo adiante.
2. No desenvolvimento da discussão, vieram à baila outros temas que me permito também comentar. Antes, porém, importa fazer aqui uma declaração de interesses: Não sou e nunca fui professor, mas há cá em casa quem o tenha sido durante muitos anos e tenho, por essa via, algum limitado conhecimento sobre o assunto. Dito isto, devo confessar que: (i) a profissão de professor é uma profissão extremamente exigente e requer verdadeira vocação, o que nem sempre existirá em muitos dos que actualmente exercem a profissão; (ii) tão exigente a considero que, eu, por exemplo, reconheço não ter as qualidades para desempenhar tal múnus.
3. Passando adiante: Entre os assuntos tratados nos comentários e sobre o qual me parece dever dizer uma palavra figura a questão dos gastos no sector da educação. A este propósito, parece-me que o Mário Moreira (desculpe a informalidade do tratamento) não tem qualquer razão na tese que defende e, a meu ver, é mesmo absurda. O único valor que pode ser considerado para se saber se um país afecta pouco ou muito dos seus recursos a determinado sector tem de ser o da percentagem do PIB. Só em termos relativos é que se pode aferir qual a importância dada ao sector X, face aos demais sectores. Socorrendo-me do seu exemplo, vamos supor que o país A tem um PIB de 500,00 € e o país B um PIB de 100,00 €. Sabido que, em termos absolutos, o país A afecta à educação 50,00€ (10%) do seu PIB, na sua lógica, o país B, para se poder comparar com o país A, em termos de igualdade de tratamento do sector da educação, teria de afectar outros 50,00€, ou seja o equivalente a 50% do seu PIB. Nesse caso, pergunto eu, os outros sectores (Saúde, Segurança Social, Justiça, Segurança Interna, Forças Armadas, Agricultura, Indústria, Comércio, etc.) viviam de quê ? Do ar?
4. Noto, se bem entendi, que o Mário Moreira deixou sem resposta a questão apresentada pelo 2º Anónimo, relativamente aos salários dos professores em Portugal comparativamente com os de vários países da UE, incluindo a França, Alemanha e Holanda. Não é que o assunto me pareça muito relevante. Fica aqui, em todo o caso, o registo.
5. O Mário Moreira refere-se ainda ao muito trabalho (50 horas semanais , muitas ainda por cima não remuneradas). Devo confessar-lhe que tal número não me impressiona minimamente. Fui durante décadas funcionário público e, em quase toda a minha vida de funcionário público, trabalhei mais horas por semana do que o número que apresenta, sem queixumes e sem remuneração extra. Serve-me de desculpa o facto de o exercício das minhas funções ter sido como técnico e em cargos dirigentes (não políticos, esclareço), facto que prova simultaneamente que até pessoas com pouca qualidade, como é o meu caso, podem ser dirigentes na função pública.
6. Compreendo o desconforto e o desagrado dos professores em geral e dos professores cumpridores em particular, perante as medidas levadas a cabo pela actual ministra da Educação. Se calhar, se eu estivesse nessa situação, sentiria o mesmo, porque ninguém aprecia alterações que afectam a nossa vida e contendem com hábitos criados, nem sempre os melhores, diga-se. Tal não significa, no entanto, que os professores tenham razão. A generalidade da população não é dessa opinião, tanto quanto me é dado julgar pelo que ouço.
7. Resta-me, por agora, agradecer aos dois intervenientes no diálogo a sua contribuição para a animação da casa. Saudações cordiais aos dois. E por aqui me fico.
Actualização: Já depois de publicada esta mensagem, verifico que o Sindicato dos Professores da Região Centro vai na mesma linha da Fenprof, como se pode ver por aqui. Não é que tal não fosse expectável, mas a verdade é que o mesmo som, ainda que a várias vozes e a toda a hora, também cansa.
(Imagem daqui)
(Imagem daqui)
3 comentários:
Vou começar por responder, corrigindo-o: o meu nome é Mário Amoreira e não Mário Moreira. Posto isto, vou tentar argumentar o blog da forma mais sintética que conseguir:
1- Uma vez que o ME não é aluno, professor, presidente do CE, Encarregado de Educação, ou outro, faz com que todas as responsabilidades que possa ter são políticas. Os sindicatos existem para defender a classe a que pertencem. Para isso, têm (na minha opinião) todo o direito de criticar políticas que sejam (na opinião deles) lesivas à classe que defendem. Para defenderem os professores, é legítimo criticar políticas que descredibilizem a profissão (como o objectivo de zero chumbos até ao 9º ano, por exemplo). Ora, o blog criticava a FENPROF por pedir responsabilidades políticas ao ME pelo «“ambiente das escolas”. As conclusões, (...) são de “enorme perturbação” e “alguma desorientação” nas escolas, devido à “pressão” do Ministério da Educação» Segundo a opinião de Mário Nogueira, «Os problemas apresentados pela Fenprof dizem respeito aos horários de trabalho, à avaliação de desempenho, à gestão das escolas e ao concurso de professores». Qualquer uma destas questões insere-se no âmbito de actuação dos sindicatos. Como para a FENPROF a responsabilidade desta situação é do ME e como o dito anteriormente, o ME só tem responsabilidade política, é óbvio que a FENPROF só pode pedir um tipo de responsabilidades ao ME: as responsabilidades políticas. Se o caro Francisco Clamote (a informalidade impõe-se – discutir é saudável) não pensa desta maneira, está no seu direito. Já agora, como aparte, fica a pergunta: que outro tipo de responsabilidades pode o ME ter no que respeita à Educação?
Vamos à parte da discussão interessante: Se me permite, vou reproduzir o seu argumento:
«O único valor que pode ser considerado para se saber se um país afecta pouco ou muito dos seus recursos a determinado sector tem de ser o da percentagem do PIB»
Concordo consigo. O problema é quando o ME, através da boca da Ministra, diz que gastamos 95% do orçamento para a educação com ordenados. Dito desta maneira, parece que os profs portugueses ganham muito. Na realidade, o orçamento é que é pequeno. Para dar um exemplo concreto, deixe-me falar da Bélgica (por ser parecido com Portugal em demografia): com 10,4 milhões de habitantes (Wikipédia), assemelha-se a Portugal em demografia. É mais pequeno, o que quer dizer que a densidade populacional é maior. O PIB per capita dos belgas é de 37.730 USD; o português é de 18.105 USD (wikipédia). Quer isto dizer que a Bélgica tem um PIB 2,086 vezes maior que Portugal. Partindo do princípio que têm o mesmo nº de profs (mais coisa, menos coisa), olhando para os dados da OCDE (education at glance 2007 – o link foi no meu outro comentário), descobrimos que :
1- A Bélgica gasta pouco mais de 6% do PIB e Portugal gasta pouco menos que 5,5% do PIB (valores entre 1995 e 2004) Fazendo as contas a 10 milhões de habitantes, o orçamento da Bélgica é de 22.638.milhões de € e o de Portugal é de 9.577,5 milhões de €. Ou seja: a Bélgica investe 2,36 vezes mais na educação que Portugal.
2- Gastos por aluno: Bélgica: pouco mais que 8000 USD; Portugal quase 6000 USD;
3- Ordenados dos profs no início de carreira: B- 27.754 USD; P- 19.704 USD Média UE- 28.311 USD
4- Ao fim de 15 anos de serviço: B- 38.901 USD; P- 32.275 USD; EU- 37.762 USD
5- No topo da carreira: B- 61.039 USD; P- 50.634 USD; EU- 52.263 USD
Parece-me que estes dados são suficientes para demonstrar que, se Portugal gasta a esmagadora maioria do orçamento da educação em ordenados, isso é porque gasta pouco em educação e não porque paga muito. No entanto, volto a concordar consigo: Portugal não pode gastar mais. Só não quero que o ME deturpe os números para nos acusar de Lordes de ordenados imensos.
4- Não deixei sem resposta, o Francisco Clamote é que não leu. De qualquer maneira, aqui vai o trabalho de casa que não fez:
Salário anual dos profs ao fim de 15 anos de serviço, por ordem (apenas EU): 1- LUX (90.000); 2- Suíça (60.000); (…) 4- Alemanha (52.000); (…); 8- Holanda (48.000); 20- França (42.000); 21- Portugal (41.000).
5- Se o caro Francisco Clamote trabalhava mais do que o que lhe pagavam e não se queixava, o problema é todo seu. Não pode é esperar que todos sejam iguais. Para dizer a verdade, a maioria dos profs (opinião empírica) sempre trabalhou mais horas do que as pagas e nunca se queixou; foi preciso uma ministra vir à televisão dizer que os profs trabalhavam em média 20 horas (como se não preparassem aulas, não corrigissem provas, não as elaborassem, etc.) e decidisse criar coisas como “aulas não lectivas” (aulas de acompanhamento) para que os profs se começassem a revoltar.
6- Quanto à generalidade da população, estamos a falar de quem? De quem diz que os polícias nunca estão onde são necessários? Que os médicos não fazem nenhum? Que os professores só têm férias? Que os juízes são uns madraços? Que os políticos são uns corruptos? Que os chefes (incluindo os “técnicos em cargos dirigentes”) uns FDP sanguessugas? De quem é que estamos a falar?
7- Cumprimentos e espero não ter ofendido: não era essa a intenção.
Actualização: a FENPROF a criticar o governo por ter cortado o acesso às necessidades educativas especiais a 39% dos alunos???? Que horror! Qualquer dia estão a pedir responsabilidades políticas aos ME! (desculpe a “boca”: não resisti!)
Apenas só um detalhe:
Como pode verificar, o ordenado dos profs portugueses só é comparável aos dos restantes países europeus no último escalão. Ora, esta ministra dividiu a profissão em 2 carreiras (coisa que não acontece no resto da Europa): a de professor, com valores de ordenados à volta dos 15 anos de carreira e a de professor titular. Como só 30% dos profs é que pode ascender a prof titular, a Ministra reduziu o ordenado de 70% dos profs para cerca de metade da média europeia.
Meu Caro Mário Amoreira:
Antes de mais, as minhas desculpas pela deturpação do seu apelido, que, embora involuntária, não deixa de me penalizar.
Feito este meu "mea culpa" que é sincero, passo a responder ao seu comentário que não só não me ofendeu, como até agradeço, pois da discussão nasce a luz, como é costume dizer-se.
1. Começo por constatar que, em boa medida, a nossa divergência, deriva de um diferente entendimento do que seja o "pedir responsabilidades políticas". Eu nunca disse, nem digo, que os sindicatos ou as suas federações não possam criticar a actuação de qualquer ministro, no caso, o da Educação. Não só podem, como devem, quando tal seja do interesse dos seus representados, como também podem e devem manifestar-se por todas as formas que a lei consente.O que eu disse e digo, talvez por deformação jurídica, é que uns e outras não têm legitimidade para pedir, ou seja, exigir responsabilidades políticas, o que é diferente. Na verdade, politicamente, só se responde perante a entidade de quem se depende no plano político.Outro entendimento não faz, sequer, sentido. Na verdade, que sentido faz dizer-se que se exigem responsabilidades políticas quando não está na mão de quem faz a exigência sancionar a falta de resposta do interpelado? No sistema constitucional português (não pretendo com isto ensinar o padre-nosso ao cura) o ministro é responsável perante primeiro-ministro, o Governo, no seu todo, responde perante o Parlamento e perante o Presidente da República e todos os eleitos (deputados e PR) respondem perante o "povo", havendo em todos estes casos, a correspondente possibilidade de sancionamento: o ministro pode ser demitido pelo primeiro-ministro; o governo pode ser derrubado pelo Parlamento e demitido pelo PR e os órgãos eleitos podem ser sancionados pelo "povo" em eleições subsequentes. Não se deduz daqui, como é óbvio, que eu conteste a legitimidade da Fenprop para criticar e questionar o ME em relação aos aspectos que aponta no seu comentário. Se o faz ou não pela forma mais correcta e/ou mais eficaz já é outra história e lá iremos.
2. Passando à questão dos recursos, dir-lhe-ei que tal não foi objecto de qualque referência da minha parte no primeiro "post" e que no segundo me limitei a afirmar que o valor a considerar para se saber se um país afecta pouco ou muito dos seus recursos a determinado sector tem de ser o da percentagem do PIB, afirmação que, pelos vistos, merece a sua concordância. O que disse ou diz a ministra não é da minha conta e sobre esse aspecto não me pronunciei, pela razão simples de que não tenho dados para me pronunciar.
3.Quanto aos vencimentos dos professores, limitei-me a dizer, no segundo "post" (no 1º foi assunto em que também não toquei) que me parecia que tinha deixado sem resposta a questão apresentada pelo 2º Anónimo relativamente aos salários dos professores em Portugal comparativamente com os de vários países da UE, incluindo a França, Alemanha e Holanda. O meu amigo entende que sim. Eu confesso que não entendi a resposta, de certo, por culpa minha. Em todo o caso, com os dados ora fornecidos por si e que tomo como bons, pois não disponho de outros, fiquei esclarecido e agradeço as suas informações. Não que o assunto me interesse excessivamente, como sublinhei no meu 2º "post". Adianto, para fazer um pouco de humor, que, quanto a salários dos professores, cá em casa, quanto mais elevados, melhor.
4. Quanto aos horários de trabalho: Eu só falei no assunto porque o Mário Amoreira trouxe à colação o seu caso pessoal. E não foi para falar de um problema pessoal meu. Aquilo que para si é um problema (e está no seu pleníssimo direito de assim o considerar) nunca foi problema para mim. Teremos, provavelmente conceitos de "serviço público" diferentes e a mim até nem me custa admitir que o meu conceito está ultrapassado. É, em todo o caso, o meu e é com ele que tenho que me governar.O facto de eu ter dito que 50 horas de trabalho semanais não me impressionava, não tinha, e não tem, implícita qualquer ideia de censura, como julgo ter deixado claro.
5. Em relação às críticas do Sindicato dos Professores da Região Centro por o governo ter cortado o acesso às necessidades educativas especiais a 39% dos alunos (assunto abordado na Actualização do 2º "post") devo esclarecer que não são as críticas que estão em causa. O que está em causa é se tais críticas são ou não verdadeiras. O ME diz que são falsas (o sítio tem hiperligação no "post") e, pessoalmente, não tenho razões para dar mais crédito ao Sindicato do que ao Ministério.
6. A minha resposta deveria ficar por aqui. Acrescentarei apenas o seguinte, com a clara noção de que não sou perito em matéria de educação e de que, por isso mesmo, a minha opinião vale o que vale, o mesmo é dizer que vale pouco.
Pelo que tenho lido nos jornais, o investimento no sector da educação tem tido, em Portugal, fraco retorno em termos de aproveitamento por parte dos alunos, fenómeno que não é de agora. Tal significa que algo não estava (e não está) bem no sector educação e que havia (e há) necessidade de introdução de medidas que invertessem (invertam) a situação. A actual titular da pasta pode ter cometido (e cometeu) diversos erros (eu referiria aqui, a título de exemplo, a criação da figura do professor titular - o meu amigo poderá apontar muitos mais), mas teve, pelo menos, a virtude de lançar mãos à obra. Em matéria de erros, no entanto, os Sindicatos dos Professores não lhe ficaram atrás e aqui sirvo-me da minha experiência como dirigente de uma associação profissional que também fui, durante alguns anos, associação que não sendo sindical, tinha no entanto, alguma similitude no respeitante à defesa dos interesses profissionais dos seus associados. Ora, essa experiência diz-me que os ministros e secretários-de-Estado são pessoas como qualquer um de nós e que tenderão a reagir como qualquer um dos mortais. As críticas profiadas e excessivas, levam necessariamente ao enquistamento de posições. Alguma flexibilidade por parte dos sindicatos [reconhecendo o que é positivo, quando for caso disso e denunciando e criticando (sempre que possível, com urbanidade e com maior vigor quando necessário) o que se considera negativo, é bem mais eficaz do que a contestação permanente de tudo quanto parte do ME, seja bom, seja mau. É, aliás, esta atitude por parte dos Sindicatos dos Professores que me leva a crer que mais que a defesa dos interesses dos professores, o que faz correr a Fenprof são razões políticas e não sindicais.
Já vai longa a resposta, pelo que por aqui me fico, restando-me apenas dizer-lhe que é sempre bem-vindo.
Aceite as minhas cordiais saudações.
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