A hipótese aventada por Jorge Sampaio na entrevista ao Diário Económico de, após as eleições, poder ser necessário, em nome da “estabilidade”, criar um Governo de Bloco Central, levantou um coro de vozes que, embora desafinadas no tom, têm seguido a mesma pauta, que é a recusa de um tal governo:
Paulo Rangel fala em incompatibilidade programática (assunto de já falei noutra altura);
Francisco Louçã afirma que o Bloco se oporá a um Governo PS/PSD (não vejo como, mas ele, que é um sabe-tudo, lá saberá) e que um tal governo seria “a pior de todas as soluções”(e qual a melhor, ousaria eu perguntar-lhe. É que, quem conhece a pior, forçosamente tem de saber também qual a melhor e as menos más) e uma “batota eleitoral” (batota, volto a não conseguir descortiná-la, mas tenho que acreditar, pois a clarividência de Louçã é proverbial);
Paulo Portas, que não deixa os seus créditos por mãos alheias, lança mão dos seus dotes poéticos e descobre que "Com a extrema-esquerda a economia empobrece, com o centrão o sistema apodrece” (o que prova que como versejador tem futuro, já que, como político, as coisas não parece correrem de feição)
Ao coro não podia faltar o Professor Marcelo Rebelo de Sousa que, além de clarividente, é também visionário, pois consegue ver o que Sampaio não disse, nem sugeriu. Para Marcelo, as palavras de Sampaio são o reconhecimento de que “o PS não terá a maioria absoluta”. Ora, o mais que um observador isento poderia dizer é que Jorge Sampaio admitiu esse cenário. "Reconhecer" tal eventualidade, a esta distância temporal, é algo que não está ao alcance, nem de Jorge Sampaio, nem de ninguém que não tenha o poder de adivinhação do Professor Marcelo que, mesmo assim, tem dele obtido parcos proveitos, como é sabido;
E, finalmente, é Manuela Ferreira Leite quem, confirmando o seu próprio desmentido, nos garante que não haverá coligação pós-eleitoral com o PS, "pela simples razão que os (s)eus princípios, os (s)eus valores, os (s)eus objectivos políticos, a política que (ela propõe) são radicalmente opostos aos do engenheiro Sócrates". (A senhora está manifestamente equivocada quanto ao que seja uma coligação, que não é um entendimento entre a senhora A e o senhor B, mas, tratando-se de um desmentido reiterado de anterior afirmação sua, e ainda por cima com invocação dos seus princípios, valores e por aí afora, fico muito mais descansado.)
Rematando: se toda a minha gente está de acordo na rejeição de um governo do Bloco Central, incluindo os principais interessados, a que propósito, vem todo este coro (des)afinado ?
2 comentários:
Eu nem queria dizer nada, mas isto está lindo.
Estes políticos têm discutido imenso o país e a europa.
Imaginem, durante uma semana comentaram aquele caso que se relaciona com a ofensa da liberdade de expressão e o direito à indignação postergados numa manifestação. Mas estão admirados com quê? Não foi assim tb há 35 anos?
Na sequência disto, quando forem deputados europeus vão tratar de uma directiva ou regulamento "CE" que discipline estas matérias.
A possibilidade de um "centrão" e o que ela diz ou desdiz, tem sido um tema do caraças para dar pistas ao governo de como resolver como vai pagar a dívida pública de cerce 82% do PIB, segundo as más línguas.
Praticamente todos os impostos que o Estado recebe, quase não chegam para pagar as dívidas, num ano.
Ah! mas desta dívida pública não faziam parte as dívidas de empresas públicas como a Refer etc.
O ex-ministro das Finanças de Sócrates disse hoje na SIC -notícias que a despesa pública primária logo em 2008 já estava ao nível da de 2005.
Eh! pá! se isto é verdade a história do déficit anda mal contada.
Até o ex presidente Sampaio já veio meter o bedelho. Isto, significa que a coisa está a ficar preta.
O coro está de facto desafinado porque cada um tem a sua música.
Isto é para animar a barafunda e esta pândega.
Obrigado.
Serafim Ligeiro
Sampaio revela-se
Jorge Sampaio considera que, após as eleições, e em nome da “estabilidade”, pode ser necessário criar um Governo de Bloco Central.
O Prof. Marcelo acha que podemos tirar das palavras de Sampaio, a admissão que o PS não vai ter maioria. Eu discordo.
Depois de, em 2004 ter demitido um governo de maioria (PSD-CDS), Jorge Sampaio vem agora dizer que está preocupado com a estabilidade.
Das duas uma, ou está a ficar "chéché" ou então prova que o que o levou a demitir Santana Lopes foi uma questão puramente partidária.
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